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terça-feira, 22 de outubro de 2019

João Paulo II: Os cônjuges Wojtyla em direção aos altares






A arquidiocese de Cracóvia obteve da Conferência episcopal polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé e dar início ao processo de beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska. Uma família na qual se respirava santidade.

Durante o seu pontificado, elevou aos altares 1.338 beatos e 482 santos, ou seja: um número superior a todos os santos proclamados pelos seus predecessores colocados juntos. E, sem dúvida, o Papa que mais contribuiu para tornar a santidade algo da atualidade, bem como uma concreta aspiração para todos os batizados de todos os tempos.

É claro que João Paulo II não poderia ser senão um santo, mas o que hoje nos chega como notícia oficial é que foi tal também porque era circundado por uma inteira família de santos.

Dito em outras palavras: a arquidiocese de Cracóvia, nos últimos dias, obteve da Conferência episcopal polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé pedindo o início do processo de beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska.

Deve-se dizer, porém, que se de um lado, a santidade do papa polonês se consumou sob o olhar de todos, suscitando a estima até mesmo do mundo mais laico, dos pais do mesmo Pontífice se disse muito pouco, a não ser por meio de algum caso que provocou um grande afeto no coração dos fiéis.

Entre os poucos documentos publicados a respeito, existe um que resume com simplicidade e grande eficácia a vida destes especiais cônjuges do século vinte. Trata-se do livro: “Le due madri di papa Wojtyla” (As duas mães do papa Wojtyla), de Renzo Allegri que, para vantagem do leitor, queremos citar alguns trechos dele. No texto, de fato, que leva o título por causa da estreita ligação entre a mãe de João Paulo II e a figura de santa Gianna Beretta Molla, canonizada e tanto amada pelo mesmo Pontífice, emergem numerosíssimos detalhes sobre a família Wojtyla, toda investida pelo espírito de santidade.

ROUBARAM O CORAÇÃO

“Emilia Kaczorowska era filha de um seleiro lituano e nasceu em Silésia no 26 de março de 1884. Teve oito irmãos. A família se transferiu para Cracóvia quando ela ainda era pequena. Teve uma infância bastante triste, marcada por dores e desgraças. Em poucos anos perdeu quatro irmãos e a mãe. Cresceu em um colégio de irmãs da Misericórdia. Pôde frequentar somente a escola elementar, depois teve que passar a ganhar a vida. (...) Quando tinha 18 anos, conheceu um soldado, Karol Wojtyla e se enamorou”.

“Karol era cinco anos mais velho que ela, tinha nascido em Lipnik, em uma família de alfaiates, e também ele tinha aprendido a profissão de alfaiate, mas tinha depois abandonado pela carreira militar. (...) Segundo um relatório militar austríaco, o suboficial Karol Wojtyla era julgado pelos seus superiores “honesto, leal, sério, educado, modesto, reto, responsável, generoso e incansável”. Emília o conheceu na igreja católica de Cracóvia, que ambos frequentavam”.

Os dois jovens logo roubaram o coração um do outro e em 10 de fevereiro de 1994 (ndt.: julgo ter sido erro de digitação; a data precisa deve ser 1894), em Cracóvia, na Igreja militar da cidade, dedicada aos santos Pedro e Paulo, se uniram em matrimônio.

Em 1906 nasce o primeiro filho deles, Edmondo. Por algum tempo a família Wojtyla transcorreu dias felizes e despreocupados, primeiro em Cracóvia e depois em Wadowice, para onde se transferiram por causa do trabalho de Karol. Mas aqui, logo, iniciou o tempo da dura provação.

A HORA DA DECISÃO EXTREMA

Já frágil de saúde, Emília teve dificuldade de restabelecer-se do primeiro parto: os médicos lhe tinham por isso aconselhado de contentar-se com aquele único filho. Mas, em 1914, a mulher ficou grávida uma segunda vez, e a neonata não viveu a não ser poucas horas ou, talvez, poucos dias. Quase nada se sabe desta segunda filha, chamada Olga, senão o fato da gravidez e morte, Emília saiu dessa situação muito comprometida fisicamente e profundamente marca no ânimo. Os médicos desta vez foram taxativos: a mulher deveria conduzir uma vida de máxima reserva e nem mesmo distante deveria pensar em outra gravidez. Mesmo assim, no final de 1919, Emília se deu conta que esperava uma nova criança.

“Tinha já trinta e cinco anos e meio – conta Allegri – e a nova gravidez se mostrou logo difícil. Os médicos disseram que seria fatal para ela e para o nascituro: deveria então interrompê-la. Deveria abortar. O problema era grave. Emília conhecia bem as próprias condições de saúde. Sabia do risco que corria e teria pensado em seu marido, em seu filho Edmondo, que tinha então catorze anos e, também em si mesma. Não é fácil aceitar morrer com trinta e cinco anos. Mas era uma mulher de grande fé. Nem mesmo por um momento considerou a possibilidade do aborto. Com simplicidade extrema se confiou no bom Deus. Mas, por nenhuma razão do mundo, teria impedido àquele seu menino de nascer: estava disposta a morrer. Os nove meses de gestação foram cheios de complicações para a saúde de Emília. O parto se mostrou difícil, mas a criança nasceu sadia e robusta. Era o 18 de maio de 1920”.

O próprio João Paulo II contou que nasceu no momento do por do sol em 18 de maio e que sua mãe, terminado o trabalho, disse à parteira que abrisse as janelas do quarto para que a criança pudesse ouvir os cantos marianos que os devotos entoavam na igrejinha ao lado da casa, durante a função religiosa do mês de maio.

Como dito, a gravidez que deu à luz o futuro Pontífice, foi fatal para a mãe: a partir daquele momento Emília viveu nove anos de autêntico martírio. Os distúrbios no coração e nos rins pioraram drasticamente. As enxaquecas a deixavam dias inteiros na cama, no escuro. A dor nas costas aumentava sempre mais e as pernas inchavam a tal ponto que raramente conseguia manter-se em pé. “Mesmo assim – contou a vizinha de casa – a senhora Wojtyla suportava a dor com fé. Não falava jamais dos seus distúrbios e conseguia sempre manter um sorriso doce e sereno nos lábios, mesmo nos momentos de maior sofrimento. (...) Era sempre muito educada, típica mulher daquele tempo. Era querida de todos e também as pessoas desconhecidas se davam conta desta sua tranquilidade interna e da sua profunda religiosidade”. Em 13 de abril de 1929, Emília Kaczorowska, literalmente consumada pela dor, subiu ao Céu com somente quarenta e cinco anos.

UM SEMINÁRIO DOMÉSTICO

Assim como a mãe tinha doado a vida duas vezes pelo seu filho, fazendo-o vir ao mundo, à custa da sua própria vida, igualmente fez o santo pai do futuro Pontífice, se tornando ao mesmo tempo pai e mãe do pequeno Karol, depois da morte de Emília.

Depois da mãe, também o irmão Edmondo  os deixou: tendo se tornado médico, ele morreu com somente 26 anos depois de tratar uma jovem paciente que sofria de escarlatina séptica e letal, que ele mesmo contraiu. Não obstante fosse obrigação, em tais casos, o isolamento e a suspensão da cura, o jovem médico em consciência preferiu arriscar e perder a vida, mas não abandonar a pobre sofredora.

A partir daquele momento a vida do Senhor Karol foi inteiramente consumida em fazer crescer aquele único filho que permaneceu e, mesmo se ainda jovem, o viúvo não quis mais esposar-se novamente. Descreve Allegri: “Construiu com o filho um núcleo familiar muito unido e harmonioso, mas guiado por um horário ferrenho e militar. Despertar as seis, café e Missa na paróquia. Depois Lolek (assim costumavam chamar o papa Wojtyla em família, ndr) ia para a escola e Karol (então aposentado) aproveitava para arrumar a casa, para lavar a roupa, para remendar as vestes e cozinhar. Pela tarde, depois do almoço Lolek podia dedicar-se por duas horas a jogar com os amigos, depois estudava com o pai. No final do dia, iam de novo a Igreja juntos, jantavam, faziam uma breve caminhada e iam dormir”.

Ao amigo jornalista francês André Frossard, Papa Karol Wojtyla confidenciou: “Meu pai era uma pessoa maravilhosa e quase todas as minhas recordações da infância estão ligadas a ele, os fatos dolorosos que nos atingiram, abriram nele imensas profundezas de ânimo. Todos os seus pensamentos e preocupações se transformavam na oração. O via frequentemente ajoelhado rezando. (...) O seu exemplo bastava para ensinar a disciplina e o sentido do dever, era uma pessoa excepcional. (...) Entre nós não se falava de vocação ao sacerdócio, mas o seu exemplo foi para mim de algum modo o primeiro seminário, um tipo de seminário doméstico”.


Fonte: https://lanuovabq.it/it/i-coniugi-wojtyla-verso-gli-altari

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

São Francisco, sem mel



 
Desculpem repetir o que os historiadores sabem muito bem e há muito tempo, mas a recorrência da morte de São Francisco (1182-1226), que se deu em 3 de outubro de 1226, porém, o dia em que é celebrada a memória litúrgica em toda a Igreja católica , ou seja, hoje, é uma ocasião preciosa para recordar quanto o patrono da Itália tenha sido um homem diferente da caricatura adocicada que infelizmente com sucesso, lhe foi costurada. Por quê? Por muitas razões. Somente para começar, não era um personagem obcecado pela pobreza material à qual antepunha, como preocupação, aquela espiritual. Jamais, de fato, exortou os necessitados à revolta, por outro lado, exortou à paciência; foi seguido também por descendentes da nobreza italiana do seu tempo aos quais disse que a pobreza era uma estrada para o Paraíso sem porém, jamais – atenção – ousar de sugeri-la como única.

Francisco lutou contra a vaidade terrena, mas não demonizou os materiais preciosos que na verdade recomendava explicitamente aos seus de usar para a Missa: “Vos peço [...] os cálices, os corporais, os ornamentos do altar e tudo aquilo que serve ao sacrifício, devem ser preciosos. E se em algum lugar encontrassem o Santíssimo Corpo do Senhor colocado em modo miserável, seja por eles colocado e guardado em um lugar precioso, segundo as disposições da Igreja, e seja levado com grande veneração e administrado aos outros com discrição” (Primeira carta aos Custódios). Se depois pensamos que entre os estudiosos existe quem sustenta que também a moderna teoria do livre mercado deva muito à contribuição cultural dos teólogos discípulos do “Poverello” (pobrezinho), se pode definitivamente compreender que é sem fundamento o mito de um pregador da pobreza absoluta o qual Francisco jamais quis ser.

Sem fundamento é também a ideia de um São Francisco eternamente sorridente e com uma personalidade calorosa e boazinha: basta recordar que um dia – escritos de Tomás de Celano (1200-1270) – informado da presença de detratores da sua Ordem se dirige ao seu vigário, Frei Pedro de Catâneo, intimando-lhe o seguinte: “Coragem, move-te, examina diligentemente e, se encontrares inocente um frade que tenha sido acusado, puna o acusador com um severo e exemplar castigo! O entregue nas mãos do “pugile” de Florença, se você pessoalmente não é capaz de puni-lo (Chamava com o nome de “pugilatore” o frei Giovanni de Florença, homem de imponente estatura e de grande força)”. Um tom e uma atitude, convenhamos, que mal se concilia com a imagem melosa que muitos têm em mente. Mas isto não é certamente o único episódio significativo.

Podemos também recordar, para render justiça do Francisco da história – tão diferente daquele de certa propaganda -, que quando ele, no ano 1219, se encontrou na presença do Sultão Malik al-Kami, ao invés de tecer o elogio do diálogo e da paz não hesitou em recorrer às palavras objetivamente fortes: “Jesus quis ensinar-nos que, se também um homem nos fosse amigo ou parente, ou até mesmo fosse para nós caro como a pupila dos olhos, deveremos estar dispostos a distanciá-lo, a extirpar de nós, se tentasse de distanciar-nos da fé e do amor ao nosso Deus. Exatamente por isso, os cristãos agem segundo justiça quando invadem as vossas terras e vos combatem, porque blasfemais contra o nome de Cristo”. Que o pobrezinho fosse adepto da guerra? Mas não, Deus não permita. Simplesmente era um homem não somente de sólidos princípios, mas também de sólida personalidade, inclinada ao amor, certo. Mas não aos compromissos. Jamais. 

Não é por acaso que também o Papa Francisco, na sua visita a Assis há alguns anos, tenha sentido exatamente a necessidade, ele que geralmente prefere formas expressivas não muito duras, de precisar com força como a paz franciscana e o pacifismo possuem entre si um abismo. “A paz franciscana – disse o Santo Padre – não é um sentimento adocicado. Por favor: este São Francisco não existe! E nem mesmo é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos... Também isto não é franciscano! Também isto não é franciscano, mas e uma ideia que alguns construíram! A paz de São Francisco é aquela de Cristo, e a encontra quem “toma sobre si” o seu “jugo””. Na esperança que aquela advertência tão clara e inequívoca – “Por favor: este São Francisco não existe!” – não tenha sido já esquecida, é belo, hoje, prestar homenagem ao patrono da Itália na consciência de que foi um homem forte e determinado; exatamente aquele tipo de patrono do qual, hoje mais que nunca, o nosso País tem necessidade.