A arquidiocese de Cracóvia
obteve da Conferência episcopal polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé
e dar início ao processo de beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol
Wojtyla e Emilia Kaczorowska. Uma família na qual se respirava santidade.
Durante o seu pontificado, elevou
aos altares 1.338 beatos e 482 santos, ou seja: um número superior a todos os
santos proclamados pelos seus predecessores colocados juntos. E, sem dúvida, o
Papa que mais contribuiu para tornar a santidade algo da atualidade, bem como
uma concreta aspiração para todos os batizados de todos os tempos.
É claro que João Paulo II não
poderia ser senão um santo, mas o que hoje nos chega como notícia oficial é que
foi tal também porque era circundado por uma inteira família de santos.
Dito em outras palavras: a
arquidiocese de Cracóvia, nos últimos dias, obteve da Conferência episcopal
polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé pedindo o início do processo de
beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska.
Deve-se dizer, porém, que se de
um lado, a santidade do papa polonês se consumou sob o olhar de todos,
suscitando a estima até mesmo do mundo mais laico, dos pais do mesmo Pontífice
se disse muito pouco, a não ser por meio de algum caso que provocou um grande
afeto no coração dos fiéis.
Entre os poucos documentos
publicados a respeito, existe um que resume com simplicidade e grande eficácia
a vida destes especiais cônjuges do século vinte. Trata-se do livro: “Le due
madri di papa Wojtyla” (As duas mães do papa Wojtyla), de Renzo Allegri que, para vantagem do
leitor, queremos citar alguns trechos dele. No texto, de fato, que leva o
título por causa da estreita ligação entre a mãe de João Paulo II e a figura de
santa Gianna Beretta Molla, canonizada e tanto amada pelo mesmo Pontífice,
emergem numerosíssimos detalhes sobre a família Wojtyla, toda investida pelo
espírito de santidade.
ROUBARAM O CORAÇÃO
“Emilia Kaczorowska era filha de
um seleiro lituano e nasceu em Silésia no 26 de março de 1884. Teve oito
irmãos. A família se transferiu para Cracóvia quando ela ainda era pequena.
Teve uma infância bastante triste, marcada por dores e desgraças. Em poucos
anos perdeu quatro irmãos e a mãe. Cresceu em um colégio de irmãs da
Misericórdia. Pôde frequentar somente a escola elementar, depois teve que
passar a ganhar a vida. (...) Quando tinha 18 anos, conheceu um soldado, Karol
Wojtyla e se enamorou”.
“Karol era cinco anos mais velho que
ela, tinha nascido em Lipnik, em uma família de alfaiates, e também ele tinha
aprendido a profissão de alfaiate, mas tinha depois abandonado pela carreira
militar. (...) Segundo um relatório militar austríaco, o suboficial Karol
Wojtyla era julgado pelos seus superiores “honesto,
leal, sério, educado, modesto, reto, responsável, generoso e incansável”.
Emília o conheceu na igreja católica de Cracóvia, que ambos frequentavam”.
Os dois jovens logo roubaram o
coração um do outro e em 10 de fevereiro de 1994 (ndt.: julgo ter sido erro de
digitação; a data precisa deve ser 1894), em Cracóvia, na Igreja militar da
cidade, dedicada aos santos Pedro e Paulo, se uniram em matrimônio.
Em 1906 nasce o primeiro filho
deles, Edmondo. Por algum tempo a família Wojtyla transcorreu dias felizes e
despreocupados, primeiro em Cracóvia e depois em Wadowice, para onde se
transferiram por causa do trabalho de Karol. Mas aqui, logo, iniciou o tempo da
dura provação.
A HORA DA DECISÃO EXTREMA
Já frágil de saúde, Emília teve
dificuldade de restabelecer-se do primeiro parto: os médicos lhe tinham por
isso aconselhado de contentar-se com aquele único filho. Mas, em 1914, a mulher
ficou grávida uma segunda vez, e a neonata não viveu a não ser poucas horas ou,
talvez, poucos dias. Quase nada se sabe desta segunda filha, chamada Olga,
senão o fato da gravidez e morte, Emília saiu dessa situação muito comprometida
fisicamente e profundamente marca no ânimo. Os médicos desta vez foram
taxativos: a mulher deveria conduzir uma vida de máxima reserva e nem mesmo
distante deveria pensar em outra gravidez. Mesmo assim, no final de 1919,
Emília se deu conta que esperava uma nova criança.
“Tinha já trinta e cinco anos e
meio – conta Allegri – e a nova gravidez se mostrou logo difícil. Os médicos
disseram que seria fatal para ela e para o nascituro: deveria então
interrompê-la. Deveria abortar. O problema era grave. Emília conhecia bem as
próprias condições de saúde. Sabia do risco que corria e teria pensado em seu
marido, em seu filho Edmondo, que tinha então catorze anos e, também em si
mesma. Não é fácil aceitar morrer com trinta e cinco anos. Mas era uma mulher
de grande fé. Nem mesmo por um momento considerou a possibilidade do aborto.
Com simplicidade extrema se confiou no bom Deus. Mas, por nenhuma razão do
mundo, teria impedido àquele seu menino de nascer: estava disposta a morrer. Os
nove meses de gestação foram cheios de complicações para a saúde de Emília. O
parto se mostrou difícil, mas a criança nasceu sadia e robusta. Era o 18 de
maio de 1920”.
O próprio João Paulo II contou
que nasceu no momento do por do sol em 18 de maio e que sua mãe, terminado o
trabalho, disse à parteira que abrisse as janelas do quarto para que a criança
pudesse ouvir os cantos marianos que os devotos entoavam na igrejinha ao lado
da casa, durante a função religiosa do mês de maio.
Como dito, a gravidez que deu à
luz o futuro Pontífice, foi fatal para a mãe: a partir daquele momento Emília
viveu nove anos de autêntico martírio. Os distúrbios no coração e nos rins
pioraram drasticamente. As enxaquecas a deixavam dias inteiros na cama, no
escuro. A dor nas costas aumentava sempre mais e as pernas inchavam a tal ponto
que raramente conseguia manter-se em pé. “Mesmo assim – contou a vizinha de
casa – a senhora Wojtyla suportava a dor com fé. Não falava jamais dos seus
distúrbios e conseguia sempre manter um sorriso doce e sereno nos lábios, mesmo
nos momentos de maior sofrimento. (...) Era sempre muito educada, típica mulher
daquele tempo. Era querida de todos e também as pessoas desconhecidas se davam
conta desta sua tranquilidade interna e da sua profunda religiosidade”. Em 13
de abril de 1929, Emília Kaczorowska, literalmente consumada pela dor, subiu ao
Céu com somente quarenta e cinco anos.
UM SEMINÁRIO DOMÉSTICO
Assim como a mãe tinha doado a
vida duas vezes pelo seu filho, fazendo-o vir ao mundo, à custa da sua própria
vida, igualmente fez o santo pai do futuro Pontífice, se tornando ao mesmo
tempo pai e mãe do pequeno Karol, depois da morte de Emília.
Depois da mãe, também o irmão
Edmondo os deixou: tendo se tornado
médico, ele morreu com somente 26 anos depois de tratar uma jovem paciente que
sofria de escarlatina séptica e letal, que ele mesmo contraiu. Não obstante
fosse obrigação, em tais casos, o isolamento e a suspensão da cura, o jovem
médico em consciência preferiu arriscar e perder a vida, mas não abandonar a
pobre sofredora.
A partir daquele momento a vida
do Senhor Karol foi inteiramente consumida em fazer crescer aquele único filho
que permaneceu e, mesmo se ainda jovem, o viúvo não quis mais esposar-se
novamente. Descreve Allegri: “Construiu com o filho um núcleo familiar muito
unido e harmonioso, mas guiado por um horário ferrenho e militar. Despertar as
seis, café e Missa na paróquia. Depois Lolek (assim costumavam chamar o papa
Wojtyla em família, ndr) ia para a
escola e Karol (então aposentado) aproveitava para arrumar a casa, para lavar a
roupa, para remendar as vestes e cozinhar. Pela tarde, depois do almoço Lolek
podia dedicar-se por duas horas a jogar com os amigos, depois estudava com o
pai. No final do dia, iam de novo a Igreja juntos, jantavam, faziam uma breve
caminhada e iam dormir”.
Ao amigo jornalista francês André
Frossard, Papa Karol Wojtyla confidenciou: “Meu pai era uma pessoa maravilhosa
e quase todas as minhas recordações da infância estão ligadas a ele, os fatos
dolorosos que nos atingiram, abriram nele imensas profundezas de ânimo. Todos
os seus pensamentos e preocupações se transformavam na oração. O via
frequentemente ajoelhado rezando. (...) O seu exemplo bastava para ensinar a
disciplina e o sentido do dever, era uma pessoa excepcional. (...) Entre nós
não se falava de vocação ao sacerdócio, mas o seu exemplo foi para mim de algum
modo o primeiro seminário, um tipo de seminário doméstico”.