Desculpem repetir o que os
historiadores sabem muito bem e há muito tempo, mas a recorrência da morte de São
Francisco (1182-1226), que se deu em 3 de outubro de 1226, porém, o dia em que
é celebrada a memória litúrgica em toda a Igreja católica , ou seja, hoje, é
uma ocasião preciosa para recordar quanto o patrono da Itália tenha sido um
homem diferente da caricatura adocicada que infelizmente com sucesso, lhe foi
costurada. Por quê? Por muitas razões. Somente para começar, não era um
personagem obcecado pela pobreza material à qual antepunha, como preocupação,
aquela espiritual. Jamais, de fato, exortou os necessitados à revolta, por
outro lado, exortou à paciência; foi seguido também por descendentes da nobreza
italiana do seu tempo aos quais disse que a pobreza era uma estrada para o
Paraíso sem porém, jamais – atenção – ousar de sugeri-la como única.
Francisco lutou contra a vaidade
terrena, mas não demonizou os materiais preciosos que na verdade recomendava
explicitamente aos seus de usar para a Missa: “Vos peço [...] os cálices, os corporais, os ornamentos do altar e tudo
aquilo que serve ao sacrifício, devem ser preciosos. E se em algum lugar
encontrassem o Santíssimo Corpo do Senhor colocado em modo miserável, seja por
eles colocado e guardado em um lugar precioso, segundo as disposições da
Igreja, e seja levado com grande veneração e administrado aos outros com
discrição” (Primeira carta aos Custódios). Se depois pensamos que entre os
estudiosos existe quem sustenta que também a moderna teoria do livre mercado
deva muito à contribuição cultural dos teólogos discípulos do “Poverello”
(pobrezinho), se pode definitivamente compreender que é sem fundamento o mito
de um pregador da pobreza absoluta o qual Francisco jamais quis ser.
Sem fundamento é também a ideia
de um São Francisco eternamente sorridente e com uma personalidade calorosa e
boazinha: basta recordar que um dia – escritos de Tomás de Celano (1200-1270) –
informado da presença de detratores da sua Ordem se dirige ao seu vigário, Frei
Pedro de Catâneo, intimando-lhe o seguinte: “Coragem, move-te, examina diligentemente e, se encontrares inocente um
frade que tenha sido acusado, puna o acusador com um severo e exemplar castigo!
O entregue nas mãos do “pugile” de Florença, se você pessoalmente não é capaz
de puni-lo (Chamava com o nome de “pugilatore” o frei Giovanni de Florença,
homem de imponente estatura e de grande força)”. Um tom e uma atitude, convenhamos,
que mal se concilia com a imagem melosa que muitos têm em mente. Mas isto não é
certamente o único episódio significativo.
Podemos também recordar, para
render justiça do Francisco da história – tão diferente daquele de certa
propaganda -, que quando ele, no ano 1219, se encontrou na presença do Sultão Malik
al-Kami, ao invés de tecer o elogio do diálogo e da paz não hesitou em recorrer
às palavras objetivamente fortes: “Jesus
quis ensinar-nos que, se também um homem nos fosse amigo ou parente, ou até
mesmo fosse para nós caro como a pupila dos olhos, deveremos estar dispostos a
distanciá-lo, a extirpar de nós, se tentasse de distanciar-nos da fé e do amor
ao nosso Deus. Exatamente por isso, os cristãos agem segundo justiça quando
invadem as vossas terras e vos combatem, porque blasfemais contra o nome de
Cristo”. Que o pobrezinho fosse adepto da guerra? Mas não, Deus não
permita. Simplesmente era um homem não somente de sólidos princípios, mas
também de sólida personalidade, inclinada ao amor, certo. Mas não aos
compromissos. Jamais.
Não é por acaso que também o Papa
Francisco, na sua visita a Assis há alguns anos, tenha sentido exatamente a
necessidade, ele que geralmente prefere formas expressivas não muito duras, de
precisar com força como a paz franciscana e o pacifismo possuem entre si um
abismo. “A paz franciscana – disse o
Santo Padre – não é um sentimento
adocicado. Por favor: este São Francisco não existe! E nem mesmo é uma espécie
de harmonia panteísta com as energias do cosmos... Também isto não é
franciscano! Também isto não é franciscano, mas e uma ideia que alguns
construíram! A paz de São Francisco é aquela de Cristo, e a encontra quem “toma
sobre si” o seu “jugo””. Na esperança que aquela advertência tão clara e inequívoca
– “Por favor: este São Francisco não
existe!” – não tenha sido já esquecida, é belo, hoje, prestar homenagem ao
patrono da Itália na consciência de que foi um homem forte e determinado;
exatamente aquele tipo de patrono do qual, hoje mais que nunca, o nosso País
tem necessidade.
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