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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O animalismo em conflito com a fé. Um estudo comprova.


O Journal for the Scientific Study of Religion, revista submissa a peer review, publicou uma investigação da qual emerge que a média de animais domésticos possuídos é de 2 por quem se declara não religioso e 1.4 por quem vai à Igreja assiduamente. O problema não são certos animais, mas estes dados são um espelho de uma sociedade na qual estamos todos mais sozinhos. Eis o porquê.


Enquanto nós nos deixamos de noite, choramos e, depois dormimos com os cães, canta Cesare Cremonini em Nessuno vuole essere Robin, evidenciando como os quadrúpedes são sempre mais freqüentes, de fato, chamados a diminuir a solidão. Nem mesmo o criativo cantor bolognese teria talvez imaginado uma relação entre a posse de animais domésticos e a escassa freqüência aos lugares de culto. Um dado surpreendente que não é apresentado em nenhum boletim paroquial conservador, mas no Journal for the Scientific Study of Religion, uma respeitada revista científica peer reviewed.

Samuel Perry, pesquisador da Universidade de Oklahoma e principal autor da pesquisa, partiu de um dado: aquele que registra como 60 por cento dos americanos tenha um animal doméstico. Feito isto, experimentou verificar – coisa que jamais tinha sido feita antes – a existência de um elo entre a religiosidade e o ter ou não cães e gatos. E assim, não sem surpresa, atingindo o database da General Social Survey de 2018, ele constatou como exista uma nítida diferença entre quem não é religioso (ou não se declara tal) e quem freqüenta a Igreja assiduamente. De fato, no primeiro caso a média de animais domésticos possuídos resultou ser de dois, no segundo, de 1.4.

Uma deformidade não pequena, que deve ter colocado em embaraço o próprio Perry, o qual para tentar explicar o que constatou logo apresentou duas hipóteses. A primeira se refere a uma não melhor precisada personalidade diversa e, portanto, os diferentes gostos, entre não religiosos e devotos; uma segunda hipótese, já mais concreta, se baseia na suposição que quem possui mais animais perceba menos a necessidade daquela interação humana que a participação ativa em uma comunidade religiosa assegura.

Existe, porém, mesmo se Perry não parece ter considerado, uma terceira explicação, por assim dizer, demográfica e talvez mais linear e convincente que as outras. Alude-se à evidência, amplamente verificada em numerosos Países, segundo a qual as pessoas religiosas possuem mais filhos que as outras. A conseqüência disto é que seja mais difícil para um pai de família que tenha duas ou três crianças, cuidar adequadamente de animais domésticos: um cão ou um gato já são suficientes. Eis que então, para dizer com Cremonini, o mundo em que dormimos com os cães é o mundo onde somos todos mais sozinhos. E somos todos mais sozinhos também porque somos menos religiosos ou, se preferir, menos praticantes. 

Vice versa, uma sociedade, como a nossa, onde os animais domésticos e não somente gozam sempre de maior atenção e até mesmo de direitos (declarar-se caçador, hoje, é quase um risco), corre o perigo de ser uma sociedade onde a fé é sempre mais colocada em segundo plano. Mas isto, bem antes dos sociólogos, o tinha compreendido São João Maria Vianney, o qual há um século e meio profeticamente denunciava: Deixem uma paróquia por vinte anos sem padre, ali serão adorados os animais.

Compreendamos: o problema, em todo este raciocínio, não são certamente os animais domésticos nem muito menos o melhor amigo do homem, como é com merecimento chamado o cachorro. De resto, do lobo de Gubbio amansado por São Francisco ao urso que São Romedio, em Trentino, teria até mesmo cavalgado, a mesma história dos santos é marcada por episódios em que aparecem animais, alguns ferozes e selvagens, mas não por isso abatidos em modo sem critérios, antes.

O ponto aqui é outro, e é aquele de uma sociedade sempre menos cristã e, ao mesmo tempo, sempre mais animalista; uma aproximação que até agora tinha  sempre soado um pouco provocatória e muito simplória. Mesmo assim, agora sabemos que assim não é, e que o avanço da cultura animalista não se sabe se seja uma boa notícia para os animais; mas certamente, e é a coisa mais relevante, não o é para a Igreja.


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

DADOS ASSUSTADORES: A primeira causa de morte no mundo em 2019? O aborto

Giuliano Guzzo

No ano passado, o aborto provocado custou a vida de 42.4 milhões de pessoas (entre 58.6 milhões de mortes totais), muito mais que a Aids, câncer e guerras. Informações reveladas por Worldometers, baseando-se em dados da Oms e do Instituto Guttmacher, uma entidade abortista. Portanto, é provável uma subestimação. Ainda assim a grande mídia prefere ignorar a notícia.


Existem notícias que, mesmo sendo muito relevantes, são pontualmente ignoradas pela grande mídia. Entre estas, ocupa um espaço de primeiro plano a elaboração estatística que Worldometers, a calculadora mais potente do planeta (assim é definido), fez para 2019, revelando como no ano passado, em todo o mundo, são verificados 58.6 milhões de mortes. Ora, onde está a notícia? A bem da verdade, existem duas, uma atrás da outra. A primeira consiste no fato de que a grande parte destes 58.6 milhões de mortes aconteceram não por causas naturais, mas por morte violenta. É claro, será dito, com todas as guerras que sangram o planeta. Errado. 

De fato, a segunda notícia – a mais trágica e mais censurada – se refere à primeira causa de morte violenta no mundo, que exatamente não são os conflitos armados, mas é o aborto voluntário. Uma prática que no ano passado custou a vida a 42.4 milhões de seres humanos, sempre segundo Worldometers: que não é, repetimos, uma entidade católica mas um site acessível a qualquer pessoa, do qual a confiança recebeu reconhecimentos, entre outros, da American Library Association e que possui colaborações com a Bbc. Os acima de 42 milhões de vítimas representam um número enorme e superiores, para compreender, que qualquer das vítimas civis e militares na Europa da Segunda Guerra Mundial, quando o nosso continente era rasgado por destruição, bombas e campos de concentração.

Não termina aqui. De fato, se deve recordar que Worldometers, na elaboração das próprias estimativas (dado que dos cálculos exatos ao centésimo são, por óbvias razões, impossíveis), se apóia nas estatísticas sobre a saúde e mortalidade da Organização mundial da saúde (Oms), a qual por sua vez se baseia em números do Instituto Guttmacher, conhecida entidade abortista. Isto significa que os 42.4 milhões de supressões pré-natais de 2019 são realmente uma subestimação dado que não considera todos os milhões de abortos invisíveisatribuídos, no mundo, à assim chamada pílula do dia seguinte.

Segue-se que não há realmente dúvida sobre o primado mortal global do aborto voluntário, primado, por sua vez já verificado há tantos anos. Também porque as causas de morte são, a níveis de classificação, muito distantes do momento que se fala, para 2019, de 8.2 milhões de pessoas mortas por câncer, de 1.7 milhões por Hiv e de 13 milhões por doenças. Todas as fronteiras, claramente, extremamente dramáticas e a ser contrastadas o quanto possível com o progresso médico, a assistência e os investimentos necessários. É de perguntar-se, todavia, por qual razão, não obstante os números arrepiantes mostrados acima, do aborto continue a  não se falar como de emergência planetária que ao invés, dados nas mãos, é.

A sensação é que por detrás deste silêncio conspirador existam pelo menos dois tipos de explicações. A primeira, mais geral e imediata, se refere à natureza intrínseca do ato abortivo que, não obstante todas as pressões culturais e midiáticas para normatizá-lo, é hoje percebido pela maior parte das pessoas como um ato imoral, injusto, tremendo. Em uma palavra, repugnante. Por isto se prefere, instintivamente, evitar o argumento.

Uma segunda razão pela qual do aborto como primeira causa de morte no mundo não se fala – ou, melhor, se evita deliberadamente de falar – deriva da visão que a cultura dominante possui, há anos, sobre a questão. No específico, a estratégia é a seguinte: promover o direito de abortar, mas não falar jamais do aborto enquanto tal, desviando sempre a atenção sobre os máximos sistemas: a autodeterminação, a Idade Média que retorna, o patriarcado etc...

Desse modo ao final de tudo nos ocupamos, exceto de um fenômeno que somente no ano apenas iniciado – sempre segundo Worldometers – já totalizou mais de 440.000 vítimas (até a tarde do dia 4 de janeiro). Mais de sete vezes o número de militares americanos mortos no Vietnam. Um motivo a mais para continuar, também neste 2020, a guerra cultural mais importante: a da defesa do nascituro.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

E se Jesus nunca tivesse nascido?




As raízes da nossa civilização estão plantadas nEle e sem Ele simplesmente não existiriam. Eis algumas simples pílulas:

HOSPITAIS
O florescimento dos hospitais e do cuidado aos doentes nasce da fé, da identificação do pobre e do doente com Cristo sofredor. Na sua vida terrena, Jesus curou corpos e almas e Ele mesmo se assumiu os sofrimentos sobre si, como diziam os teólogos medievais: “Christus medicus et infirmus”. Existe também m modo de entender o homem no seu valor intrínseco e de ver no corpo não – como acreditava Platão – um invólucro, imagem de uma prisão(Cratilo, 400 C), mas o componente físico da pessoa humana, pela primeira vez concebida e apreciada em modo unitário. Os numerosos hospitais nascidos na Idade Média, em geral junto a mosteiros, eram chamados Domus Dei, Casa de Deus. Na América Latina, na Ásia e na África os primeiros hospitais foram fundados pelas missões católicas e protestantes e ainda hoje a presença das Igrejas cristãs nesse âmbito ocupa um papel importante em não poucos países. (F. Agnoli)

DIGNIDADE DAS CRIANÇAS
Com a difusão do cristianismo, aborto e infanticídio se tornam culturalmente inaceitáveis e, portanto fenômenos mais raros e circunscritos. Se no Império romano a exposição dos recém nascidos não desejados era difusa, os cristãos condenavam tais práticas como homicídio. Como chegou a dizer Justino Mártir (100-165 d.C.), nos ensinaram que é ato mau expor até mesmo os recém nascidos (...) porque em tal caso seríamos considerados assassinos(citado em “Writings of Saints Justin Martyr, Christian Heritage 1948). As legislações, a partir de Constantino, vetam o infanticídio e ajudam as famílias necessitadas para que não recorram à venda dos seus filhos por motivos econômicos. (fonte)

DIGNIDADE DA MULHER
Uma das grandes novidades historicamente relevantes trazidas pelo cristianismo se refere à concepção sobre a mulher. Normalmente considerada secundária e mantida marginalizada, pelo menos na linha do direito, no mundo grego; sob perpétua tutela do homem, pai e marido, no mundo romano; refém da força masculina, entre os povos germânicos; passível de repúdio e juridicamente inferior no mundo hebraico; vítima de infinitos abusos e violências, incluindo o infanticídio, na China e Índia; forma inferior de reencarnação no hinduísmo tradicional; submetida à poligamia, humilhante afirmação da sua inferioridade, no mundo islâmico e animista; vítima junto a diferentes culturas de verdadeiras e próprias mutilações físicas; submetida ao repúdio do homem, em todas as culturas antigas, a mulher se torna com o cristianismo criatura de Deus, igualmente ao homem. (Francesco Agnoli, fonte)

MATRIMÔNIO
O matrimônio cristão é necessariamente monogâmico e indissolúvel. Ele, portanto, subentende e implica a igual dignidade dos esposos: não é lícito a um homem ter mais mulheres, no seu gineceu ou no seu harém! Não é lícito, em virtude da sua maior força, repudiar a mulher, como se fosse um objeto, nem substituí-la com escravas! E nem meso, obviamente, o contrário. Toda a história da igreja, no que se refere à moral conjugal, tende a salvar exatamente esta igual dignidade: vetando obviamente todo antigo direito de vida ou de morte do homem sobre a mulher; tutelando o quanto possível o livre consenso dos esposos, já a partir dos primeiros séculos quando Agostinho recorda que a intervenção dos genitores não é de direito divino, ou seja, que não é necessário, como para os antigos, e acrescenta humoristicamente que de outro modo Adão deveria ter sido apresentado a Eva pelo seu Pai; elevando a idade do matrimônio da mulher (que para os romanos eram normalmente os doze anos) e, portanto a sua responsabilidade e liberdade; dificultando o quanto possível a possibilidade dos pais de violar a liberdade dos filhos, e em particular de decidir qual o marido para a filha; combatendo o hábito dos matrimônios combinados, sobretudo entre os nobres; contrastando de qualquer maneira os matrimônios forçados, em que normalmente era a mulher a vítima; impedindo, neste caso tutelando a saúde dos filhos, os matrimônios entre consangüíneos... (F. Agnoli, fonte)

ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO
Se de fato somos todos filhos do mesmo Pai, é claro que se deve reconhecer a nossa igualdade diante dEle. Por isto Marc Bloch nota justamente que somente sentar um junto do outro, durante a liturgia divina, patrões e escravos cristãos, foi uma revolução cultural imensa. O escravo, filho também ele do Pai Nosso, não era menos que uma porta (Plutarco), nem mesmo um mero instrumento vocal (Catone), mas era, nada menos que filho de Deus. Assim, na Carta de Barnabé se podia ler: Não comandar amargamente à escravidão ou ao teu escravo que esperam no mesmo Deus, onde não te aconteça de não temer a Deus que está sobre ti e sobre eles; analogamente Lactâncio afimava que patrões e servos são pares porque irmãos, enquanto Clemente Alexandrino ensinava: Os escravos devem usar como nós usamos nós mesmos, já que são homens como nós, e Deus é igual para todos, livres e escravos. Foi da visão teológica cristã, portanto, que derivou a progressiva desintegração do escravismo romano, que era já em crise, mas não certamente defunto; foi por esta fé que Constantino vetou a crucificação, os jogos de gladiadores nos estádios, onde os escravos eram devorados pelas feras, a marca por fogo sobre os próprios escravos  e a venda de crianças expostas. (F. Agnoli, fonte)

ECONOMIA
O costume proto-cristão de falar de salvação da alma em termos econômicos conduziu o Ocidente antes de tudo a padronizar o uso de linguagens econômicas fortemente próprias da teologia, ou se preferir estruturados a partir dos vocábulos jurídicos do comércio, e em segundo lugar ou à divulgação de uma racionalidade econômica claramente orientada em sentido religioso, ou seja codificada em termos de ritualidade religiosa. Se a procura de um lucro e o aumento de um capital monetário assim como a competência de um cambista podiam valer como modelo lógico de referência para todos quantos, como cristãos, pretendiam acumular um patrimônio de boas práticas coletivas que depois, investido e multiplicado, se traduziria na felicidade eterna, disto resultava que a dinâmica dos mercados e as lógicas do investimento rentável vinham a encontrar-se no centro da vida pública dos cristãos não somente por razões de utilidade mas também e sobretudo por razões metodológicas e religiosas, inerentes estruturalmente à identidade cívica e política de quantos se diziam cristãos. (...) Dois fenômenos históricos foram, todavia, decisivos no processo que conduziu gradualmente esta definição sacralizada das relações de mercado a afirmar-se como linguagem corrente da experiência econômica e política: a difusão das instituições monásticas e a colaboração, ou melhor, dizendo a fusão político-religiosa que se realizou na Europa entre poderes eclesiásticos e poderes régios e imperiais. (G. Todeschini, fonte)

CIÊNCIA NATURAL
Resulta determinante o espírito com o qual se põe diante do mundo material. O cristão crê que o mundo é bom. A matéria foi ulteriormente enobrecida pela encarnação, enquanto que o Verbo se fez carne e veio habitar em meio a nós (Jo 1,14). A matéria é ordenada e racional, porque foi criada por um Deus fonte de racionalidade. No Livro da Sabedoria lemos que o Criador tudo dispôs segundo a medida, cálculo e peso (Sb 11,20), uma das frases da Bíblia mais citadas durante a Idade Média. A ordem do mundo material é fruto de uma livre escolha de Deus. Ele teria podido criar o mundo em muitas outras maneiras, mas escolheu de criá-lo assim. Isto indica a importância das nossas convicções teológicas em relação ao nosso modo de conceber o mundo material. Atribui-se a Deus, ao mesmo tempo, a racionalidade e a liberdade. Se pusermos muita insistência sobre sua racionalidade em detrimento da sua liberdade, nos encontramos então diante de um mundo fechado e necessário, sem nenhuma possibilidade de ciência. Se, pelo contrário, se acentua muito fortemente a liberdade de Deus em detrimento da sua racionalidade, estaremos diante de um mundo totalmente imprevisível e, mais uma vez, sem nenhuma possibilidade de ciência. Os cristãos crêem que a ordem da natureza seja acessível à mente humana e crêem que seja possível adquirir conhecimento sobre o mundo, porque Deus ordenou ao homem de dominar a terra. (Peter E. Hodgson, Disf)

POLÍTICA
A idéia de bem comum e de lei natural, corroboradas pela Revelação, estão na base dos sistemas políticos cristãos. Sistemas que são bem representados pela célebre expressão de Jesus, enquanto lhe é perguntado se seja justo pagar as taxas a Roma: Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Esta fórmula é muito densa e, é preciso livrá-la de uma banalização típica da era contemporânea. Ela fala certamente da necessidade de não confundir e sobrepor a Igreja ao Estado, o Papa ao imperador. Mas não para aqui, como desejaria o pensamento laico e liberal contemporâneo. Antes de tudo, Nosso Senhor ordena de dar a Deus o que lhe é devido, e isto deveria recair antes de tudo sobre cada soberano, seja este um rei ou um parlamento. Deste modo, a fé exerce um papel público inegável, e se propõe como guia do Estado para reconhecer o verdadeiro bem. A história demonstra que, sem esta bússola, os estados escorregam sempre no mais desumano relativismo. Por outro lado, Jesus recorda ao cristão que é seu dever ser um leal súdito do poder constituído, contanto que a autoridade não seja iníqua e respeite a Igreja e o bem comum com as suas leis e os seus decretos. Esta admirável lição do cristianismo esteve na base de séculos de ordenamentos políticos, mesmo se hoje o mundo – sob este perfil – objetivamente entrou por uma estrada completamente diferente. (M. Palmaro, Il Timone, dicembre 2013)