As raízes da nossa civilização
estão plantadas nEle e sem Ele simplesmente não existiriam. Eis algumas simples
pílulas:
HOSPITAIS
O florescimento dos hospitais e
do cuidado aos doentes nasce da fé, da identificação do pobre e do doente com
Cristo sofredor. Na sua vida terrena, Jesus curou corpos e almas e Ele mesmo se
assumiu os sofrimentos sobre si, como diziam os teólogos medievais: “Christus
medicus et infirmus”. Existe também m modo de entender o homem no seu valor
intrínseco e de ver no corpo não – como acreditava Platão – um “invólucro, imagem de uma prisão” (Cratilo,
400 C), mas o componente físico da pessoa humana, pela primeira vez concebida e
apreciada em modo unitário. Os numerosos hospitais nascidos na Idade Média, em
geral junto a mosteiros, eram chamados “Domus Dei”, “Casa de Deus”.
Na América Latina, na Ásia e na África os primeiros hospitais foram fundados
pelas missões católicas e protestantes e ainda hoje a presença das Igrejas
cristãs nesse âmbito ocupa um papel importante em não poucos países. (F.
Agnoli)
DIGNIDADE DAS CRIANÇAS
Com a difusão do cristianismo, aborto e infanticídio se tornam
culturalmente inaceitáveis e, portanto fenômenos mais raros e circunscritos. Se
no Império romano a exposição dos recém nascidos não desejados era difusa, os
cristãos condenavam tais práticas como homicídio. Como chegou a dizer Justino Mártir
(100-165 d.C.), “nos ensinaram que é ato mau expor até
mesmo os recém nascidos (...) porque em tal caso seríamos considerados
assassinos” (citado em “Writings of Saints Justin
Martyr, Christian Heritage 1948). As legislações, a partir de Constantino,
vetam o infanticídio e ajudam as famílias necessitadas para que não recorram à
venda dos seus filhos por motivos econômicos. (fonte)
DIGNIDADE DA MULHER
Uma das grandes novidades
historicamente relevantes trazidas pelo cristianismo se refere à concepção
sobre a mulher. Normalmente considerada secundária e mantida marginalizada,
pelo menos na linha do direito, no mundo grego; sob perpétua tutela do homem,
pai e marido, no mundo romano; refém da força masculina, entre os povos
germânicos; passível de repúdio e juridicamente inferior no mundo hebraico;
vítima de infinitos abusos e violências, incluindo o infanticídio, na China e
Índia; forma inferior de reencarnação no hinduísmo tradicional; submetida à
poligamia, humilhante afirmação da sua inferioridade, no mundo islâmico e
animista; vítima junto a diferentes culturas de verdadeiras e próprias
mutilações físicas; submetida ao repúdio do homem, em todas as culturas
antigas, a mulher se torna com o cristianismo criatura de Deus, igualmente ao
homem. (Francesco Agnoli, fonte)
MATRIMÔNIO
O matrimônio cristão é necessariamente
monogâmico e indissolúvel. Ele, portanto, subentende e implica a igual
dignidade dos esposos: não é lícito a um homem ter mais mulheres, no seu gineceu
ou no seu harém! Não é lícito, em virtude da sua maior força, repudiar a
mulher, como se fosse um objeto, nem substituí-la com escravas! E nem meso,
obviamente, o contrário. Toda a história da igreja, no que se refere à moral
conjugal, tende a salvar exatamente esta igual dignidade: vetando obviamente
todo antigo direito de vida ou de morte do homem sobre a mulher; tutelando o quanto
possível o livre consenso dos esposos, já a partir dos primeiros séculos quando
Agostinho recorda que “a intervenção dos genitores não
é de direito divino”, ou seja, que não é necessário,
como para os antigos, e acrescenta humoristicamente que “de
outro modo Adão deveria ter sido apresentado a Eva pelo seu Pai”; elevando a idade do matrimônio da mulher (que para os
romanos eram normalmente os doze anos) e, portanto a sua responsabilidade e
liberdade; dificultando o quanto possível a possibilidade dos pais de violar a
liberdade dos filhos, e em particular de decidir qual o marido para a filha;
combatendo o hábito dos matrimônios combinados, sobretudo entre os nobres;
contrastando de qualquer maneira os matrimônios forçados, em que normalmente
era a mulher a vítima; impedindo, neste caso tutelando a saúde dos filhos, os
matrimônios entre consangüíneos... (F. Agnoli, fonte)
ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO
Se de fato somos todos filhos do
mesmo Pai, é claro que se deve reconhecer a nossa igualdade diante dEle. Por
isto Marc Bloch nota justamente que somente sentar um junto do outro, durante a
liturgia divina, patrões e escravos cristãos, foi uma revolução cultural
imensa. O escravo, filho também ele do “Pai Nosso”, não era menos que uma porta (Plutarco), nem mesmo um mero
instrumento vocal (Catone), mas era, nada menos que filho de Deus. Assim, na
Carta de Barnabé se podia ler: “Não comandar
amargamente à escravidão ou ao teu escravo que esperam no mesmo Deus, onde não
te aconteça de não temer a Deus que está sobre ti e sobre eles”;
analogamente Lactâncio afimava que patrões e servos “são
pares” porque “irmãos”, enquanto Clemente Alexandrino ensinava: “Os
escravos devem usar como nós usamos nós mesmos, já que são homens como nós, e
Deus é igual para todos, livres e escravos”. Foi da
visão teológica cristã, portanto, que derivou a progressiva desintegração do
escravismo romano, que era já em crise, mas não certamente defunto; foi por
esta fé que Constantino vetou a crucificação, os jogos de gladiadores nos
estádios, onde os escravos eram devorados pelas feras, a marca por fogo sobre
os próprios escravos e a venda de
crianças expostas. (F. Agnoli, fonte)
ECONOMIA
O costume proto-cristão de falar
de salvação da alma em termos econômicos conduziu o Ocidente antes de tudo a
padronizar o uso de linguagens econômicas fortemente próprias da teologia, ou
se preferir estruturados a partir dos vocábulos jurídicos do comércio, e em
segundo lugar ou à divulgação de uma racionalidade econômica claramente
orientada em sentido religioso, ou seja codificada em termos de ritualidade
religiosa. Se a procura de um lucro e o aumento de um capital monetário assim
como a competência de um cambista podiam valer como modelo lógico de referência
para todos quantos, como cristãos, pretendiam acumular um patrimônio de boas
práticas coletivas que depois, investido e multiplicado, se traduziria na
felicidade eterna, disto resultava que a dinâmica dos mercados e as lógicas do
investimento rentável vinham a encontrar-se no centro da vida pública dos cristãos
não somente por razões de utilidade mas também e sobretudo por razões
metodológicas e religiosas, inerentes estruturalmente à identidade cívica e
política de quantos se diziam cristãos. (...) Dois fenômenos históricos foram,
todavia, decisivos no processo que conduziu gradualmente esta definição
sacralizada das relações de mercado a afirmar-se como linguagem corrente da
experiência econômica e política: a difusão das instituições monásticas e a
colaboração, ou melhor, dizendo a fusão político-religiosa que se realizou na
Europa entre poderes eclesiásticos e poderes régios e imperiais. (G.
Todeschini, fonte)
CIÊNCIA NATURAL
Resulta determinante o espírito
com o qual se põe diante do mundo material. O cristão crê que o mundo é bom. A
matéria foi ulteriormente enobrecida pela encarnação, enquanto que o “Verbo se fez carne e veio habitar em meio a nós” (Jo 1,14). A matéria é ordenada e racional, porque foi
criada por um Deus fonte de racionalidade. No Livro da Sabedoria lemos que o
Criador “tudo dispôs segundo a medida, cálculo e peso” (Sb 11,20), uma das frases da Bíblia mais citadas durante a
Idade Média. A ordem do mundo material é fruto de uma livre escolha de Deus.
Ele teria podido criar o mundo em muitas outras maneiras, mas escolheu de
criá-lo assim. Isto indica a importância das nossas convicções teológicas em
relação ao nosso modo de conceber o mundo material. Atribui-se a Deus, ao mesmo
tempo, a racionalidade e a liberdade. Se pusermos muita insistência sobre sua
racionalidade em detrimento da sua liberdade, nos encontramos então diante de
um mundo fechado e necessário, sem nenhuma possibilidade de ciência. Se, pelo
contrário, se acentua muito fortemente a liberdade de Deus em detrimento da sua
racionalidade, estaremos diante de um mundo totalmente imprevisível e, mais uma
vez, sem nenhuma possibilidade de ciência. Os cristãos crêem que a ordem da natureza
seja acessível à mente humana e crêem que seja possível adquirir conhecimento
sobre o mundo, porque Deus ordenou ao homem de dominar a terra. (Peter E.
Hodgson, Disf)
POLÍTICA
A idéia de bem comum e de lei
natural, corroboradas pela Revelação, estão na base dos sistemas políticos
cristãos. Sistemas que são bem representados pela célebre expressão de Jesus,
enquanto lhe é perguntado se seja justo pagar as taxas a Roma: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Esta fórmula é muito densa e, é preciso livrá-la de uma
banalização típica da era contemporânea. Ela fala certamente da necessidade de
não confundir e sobrepor a Igreja ao Estado, o Papa ao imperador. Mas não para
aqui, como desejaria o pensamento laico e liberal contemporâneo. Antes de tudo,
Nosso Senhor ordena de dar a Deus o que lhe é devido, e isto deveria recair
antes de tudo sobre cada soberano, seja este um rei ou um parlamento. Deste
modo, a fé exerce um papel público inegável, e se propõe como guia do Estado
para reconhecer o verdadeiro bem. A história demonstra que, sem esta bússola,
os estados escorregam sempre no mais desumano relativismo. Por outro lado,
Jesus recorda ao cristão que é seu dever ser um leal súdito do poder constituído,
contanto que a autoridade não seja iníqua e respeite a Igreja e o bem comum com
as suas leis e os seus decretos. Esta admirável lição do cristianismo esteve na
base de séculos de ordenamentos políticos, mesmo se hoje o mundo – sob este perfil
– objetivamente entrou por uma estrada completamente diferente. (M. Palmaro, Il
Timone, dicembre 2013)
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