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terça-feira, 10 de março de 2020

“O algoritmo não substitui a engenhosidade humana e o olhar”



Fazer as máquinas trabalharem significa aumentar a potencialidade das intervenções humanas, não deve tornar preguiçoso. No campo médico podem ser um grande auxílio, mas não podem substituir o olhar, o toque e a palavra do profissional de saúde, nem todos os elementos terapêuticos. Fala Filippo Maria Boscia, presidente dos Médicos Católicos, à margem da conferência PAV sobre a inteligência artificial.



A inteligência artificial deve ser humanizada e, sobretudo, deve ser regulada. Esta é a mensagem de fundo que emerge da assembléia anual da Pontifícia Academia Pro vida, sobre o tema O Bom Algoritmo? Inteligência Artificial: Ética, Direito, Saúde (26-28 fevereiro), apenas concluída na Sala Nova do Sínodo, na presença de estudiosos de todos os âmbitos, provenientes de todos os continentes. Um importante confronto de idéias em mérito a um paradigma científico que evolui em uma velocidade impressionante e que coincidiu com a sigla de dois acordos: um acordo ético entre a Pontifícia Academia Pro Vida, Microsoft, IBM e FAO; um acordo entre o Hospital Bambino Gesù e IBM para acelerar a pesquisa e a cura em campo pediátrico. Entre os auditores da assembléia, La Nuova Bussola Quotidiana recolheu a opinião de Filippo Maria Boscia, presidente da Associação Médicos Católicos Italianos (AMCI) e membro da Pontifícia Academia Pro Vida.

Professor Boscia, quais são a seu ver os conteúdos mais importantes que surgem da assembléia apenas concluída? Eu afirmo que foi muito significativo acentuar sobre a semântica: falar de bom algoritmo ou de algoritmo bom muda muito os termos da questão. Dito isto, é importante destacar que o que definimos como inteligência artificial é antes de tudo um sistema que deriva da inteligência humana, um sistema que pode executar ordens, mas não é capaz de elaborar um pensamento próprio. Podemos interpretar a inteligência artificial como um auxílio para as nossas mentes, que seriam assim desviadas de atividades repetitivas e não cognitivas, alargando assim o nosso lucro e a nossa inteligência, e favorecendo novas possibilidades para o bem comum. Não creio que ninguém queira demonizar os progressos da ciência e o uso das novas tecnologias. O homem, porém, não deve tornar-se preguiçoso: fazer as máquinas trabalharem, portanto ser mais livre e, por certos aspectos, mais lúdico, para ocupar-se mais de si mesmo, não é certo uma característica da vida humana, porque os homens devem sempre ter uma perspectiva e um horizonte. Um horizonte, porém, não se alcança jamais: deveremos sempre estar à procura de novos confins, iluminados pela sabedoria e também pela fé, evitando confiar somente nas nossas capacidades, mas, sobretudo nos tornando mais humildes e menos auto-referenciais.

Em campo médico, que perspectiva oferece a inteligência artificial? A robótica pode oferecer grandes oportunidades para a medicina, ajudando particularmente na precisão dos movimentos e na visão quadridimensional das intervenções cirúrgicas, ajudando o médico a aumentar as próprias possibilidades e, em particular, a própria habilidade manual. Na medicina, nos encontramos diante a um paradigma que poderia ajudar-nos a reconstruir a unidade da pessoa. A inteligência artificial pode valorizar muito a corporeidade, mas não a sensibilidade. A máquina não fala, pode escutar, pode elaborar, mas seguramente não é capaz de elaborar aconselhamentos. É, portanto impossível confiar totalmente na tecnologia, também porque o homem tem necessidade de três elementos fundamentais: o olhar, o toque e a palavra. Trata-se de três elementos terapêuticos que permitem cuidar do paciente também quando a medicina não pode curar. A medicina não é onipotente, a fragilidade humana a supera. Pensemos no momento que estamos atravessando: criou-se o terror em torno a um vírus que, no fim das contas, não é assim altamente letal. Este medo não pode ser curado com algoritmos, mas com o conforto, no sentido etimológico do termo: encontrar-se juntos para dar força. O conforto é um remédio importante em um momento em que se fala muito de doentes terminais que, freqüentemente, no final sobrevivem cinco, também dez anos. Devemos deixar de iludir as pessoas dando a impressão que chegamos a todo tipo de conhecimento. A intervenção de qualquer tecnologia avançada pode se tornar uma tela que distrai o olhar, distancia a palavra e impede o toque. 

É objeto de forte discussão a perspectiva segundo a qual os progressos da inteligência artificial tornariam inúteis dezenas de profissionais, determinando níveis de desemprego sem precedentes... Neste momento estamos vivendo o efeito negativo deste aspecto. Eu, porém, convido a olhar também para o positivo: as novas tecnologias poderiam levar a descobrir novos métodos para ser úteis à humanidade. Entendo dizer que a Inteligência artificial, não podendo substituir a inteligência humana, deve ainda mais potenciá-la para ir além e perseguir aquelas perspectivas e aqueles horizontes dos quais falávamos. Se a medicina e a tecnologia se contentam daquilo que descobriram terminam por destruir a esperança. Nós, porém, não podemos nos contentar com o presente: pelo contrário, devemos ter sempre mais esperança para o futuro.

É já possível sintetizar um tipo de ética católica do algoritmo?
O magistério pontifício sempre foi muito prudente e, diante dos progressos da ciência, sempre deu esta resposta: podemos utilizar toda forma de tecnologia disponível, o importante é que coloquemos no centro o homem e a sua ressurreição. Quando nós dizemos ter descoberto algo, na realidade, não descobrimos nada, somente evidenciamos os motivos que nos portam em direção a esta perspectiva fortemente admirada que é a Criação. Qualquer coisa pode ser útil para nossa vida e para a Ressurreição ou, pelo contrário, devastá-la, o importante é que a sua utilização seja sempre em nome da sabedoria. Penso na energia nuclear declinada para usos médicos ou, pelo contrário, bélicos.

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