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terça-feira, 4 de setembro de 2018

Ressurreição ou Reencarnação?



O que a gente reza no Credo, no Símbolo dos Apóstolos? Credo carnis resurrectionem et vitam aeternam.

"Creio na ressurreição da carne e na vida eterna". O Credo se chama Símbolo dos Apóstolos porque foi composto por eles. Na primitiva igreja de Roma, São Pedro pedia aos catecúmenos que rezassem o Credo antes de batizá-los (como se faz até hoje na liturgia batismal e na renovação das promessas do batismo). Um dos motivos de credibilidade da Igreja, isto é, um dos sinais de que a religião católica é a única verdadeira, é que ela sempre acreditou nas mesmas coisas, sempre conservou a mesma doutrina. O que Pedro ensinava é o que Francisco ensina.

Quem crê na ressurreição da carne não pode crer na reencarnação. Isso porque são logicamente incompatíveis: se os mortos reencarnam e ressuscitam, com qual dos corpos em que se encarnaram haverão de ressuscitar, no último dia? A fé católica é que ressuscitaremos no último dia, com o nosso mesmo corpo que temos hoje. Por isso, quem reza o Credo não deveria crer em reencarnação e quem crê em reencarnação não deveria rezar o Credo.

Quem entende o que é crer na vida eterna igualmente entende que isso é também incompatível com a crença na reencarnação. Pois a vida eterna, que professamos no Credo, não é um simples durar perpetuamente, não é a simples duração indefinida da alma, que poderia reconciliar-se com um ciclo de ininterruptas reencarnações. A vida eterna, que professamos no Credo, não é a simples imortalidade da alma, coisa que em si não é nenhum mistério e cuja verdade pode mesmo ser alcançada com certeza pelo esforço do intelecto humano. A vida eterna, que professamos no Credo, é o Céu, isto é, a participação na vida da Santíssima Trindade. «A vida eterna é esta: que te conheçam a Ti como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17,3). E quem entende o que é isso, entende que isso é incompatível com um ciclo perene de ininterruptas reencarnações, simples repetição do mesmo estado de vida em que vivemos presentemente, com todas as suas misérias e tarefas.

O ESPIRITISMO se distingue do cristianismo principalmente pelo que ele promete e pela autoridade que invoca. O que o cristianismo nos promete? Isso que eu falei mais acima: a participação na própria vida da Santíssima Trindade, conhecer a Deus tal como nos conhecemos a nós mesmos, contemplá-lO face a face (cf. 1Cor 13,12). E o que o ESPIRITISMO nos promete? Falar com os mortos e uma reencarnaçãozinha melhor na próxima vez, nada mais que isso.

E que autoridade o ESPIRITISMO invoca? O cristianismo se apresenta como uma religião revelada, mas uma religião revelada por Deus. O ato de fé é a resposta do homem à autoridade de Deus que se revela. Ora, Deus é a própria Verdade, e não pode enganar-se nem enganar. O ESPIRITISMO também se apresenta como uma religião revelada -- embora deteste usar o termo "religião" -- mas revelada pelos mortos. Allan Kardec, o fundador do moderno ESPIRITISMO, não era médium, mas reuniu e codificou em seu Livro dos Espíritos as mensagens que supostos "espíritos desencarnados" (isto é, mortos) transmitiram em diversas sessões espíritas que ele, Kardec, assistiu. Ainda que concedêssemos que de fato "espíritos desencarnados" ditaram as mensagens codificadas por Kardec -- o que não é de forma alguma incontroverso -- não há como comparar a autoridade do Deus vivo e verdadeiro com a de criaturas mortas, com as limitações e falhas próprias dos homens. Em que você prefere acreditar, na palavra do Deus vivo ou na palavra dos mortos?

O ESPIRITISMO depende de duas atitudes mentais características do século XIX, época em que surgiu: o romantismo e o cientificismo. O romantismo consiste numa sobrevalorização do sentimento, da fantasia e da vida sentimental: sentir é mais importante que compreender; mais que a verdade objetiva, o que importa é sentir-se bem. O cientificismo, por sua vez, é uma sobrevalorização das ciências positivas, de modo que fora delas não admite conhecimento verdadeiro ou valioso. Os espíritas gostam de falar que o ESPIRITISMO não é religião, mas uma "ciência", ao estilo das ciências modernas. Porém, pouco lhes parece importar não ser reconhecidos como tais pela comunidade científica... Mas isso é suficiente para proporcionar aos espíritas, ao falar de sua doutrina, um ar de superioridade e arrogância especialmente irritante, mesmo dizendo uma besteira atrás da outra. Por outro lado, não me pergunte como se pode juntar o romantismo e o cientificismo numa mesma doutrina: o erro nunca temeu estar em contradição consigo mesmo.

Dois principalmente são os estados psicológicos das pessoas que procuram o ESPIRITISMO: um é o daquelas que não se conformam com a morte de um ente querido, a quem o ESPIRITISMO empresta o falso consolo dos médiuns, das psicografias etc. Não deixa de ser uma espécie de neurose. O outro grupo são aqueles que levam uma vidinha medíocre, talvez com um empreguinho de porcaria, mas gostam de se imaginar terem sido grandes heróis no passado. Clark Kent se consola ao se imaginar ser o Superman... Repare que sempre que um espírita fala de suas "vidas passadas" é uma galeria de grandes personagens: um foi um grande cavaleiro medieval, outro um escritor de renome, outro ainda um rico senador na Roma antiga. Todos eles têm uma grande -- e romântica -- história pra contar. Mas, coitados, só têm histórias para contar de vidas que não viveram.

O ESPIRITISMO não apenas contraria a fé católica como também a razão natural. A alma é a forma substancial do corpo, alma e corpo compõem uma unidade substancial, um único ser, ainda que a alma possa sobreviver à separação do corpo. O meu corpo não é algo de extrínseco à minha personalidade, eu sou meu corpo. Aliás, ensina Santo Tomás que as almas humanas se distinguem umas das outras por sua relação com seus respectivos corpos, uma vez que a alma está para o corpo como a forma está para a matéria e, a forma sendo universal, a matéria é o princípio de individuação. A alma humana tem individualidade em virtude de sua relação com um corpo determinado.

Passemos ao texto que você pediu para que eu comentasse. Segue em vermelho:

O Concílio de Constantinopla – 553 D.C.
(Por: Vivaldo J. de Araújo – Espírita)
Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Dizer que "até meados do século VI, todo o cristianismo aceitava a reencarnação" é mentira da grossaNão existe uma única fonte histórica que aponte isso e, pelo contrário, todas as fontes históricas apontam em sentido contrário. Porém, suponhamos que "todo o cristianismo aceitasse a reencarnação" antes do II Concílio de Constantinopla. Você acha que seria fácil um concílio impor o contrário ao mundo inteiro, ainda mais consideradas as condições de comunicação na época? Como ninguém protestou? O Concílio de Calcedônia (do ano 451), que antecedeu o II de Constantinopla e condenou a heresia monofisita (que dizia haver em Jesus Cristo uma única natureza, e não duas, divina e humana, numa única pessoa, como ensina a fé católica), terminou com uma cisão na Igreja, pois os patriarcas da Síria e do Egito não aceitaram as suas definições. Se supostamente era tão ampla a aceitação da reencarnação, por que ninguém protestou?

Por outro lado, o autor diz a verdade quando afirma que "a cultura religiosa oriental já proclamava a reencarnação milênios antes da era cristã". Mas essa verdade que ele diz só prova que a reencarnação não é uma doutrina cristã, mas uma crença própria de religiões pagãs. E o autor chega a dar vergonha alheia quando chama a reencarnação de "fato incontestável". A reencarnação não é um fato, mas uma crença. E uma crença não apenas contestável, mas que se demonstra falsa à luz da razão natural. Uma das mais simples refutações é matemática: sempre houve muito mais gente nascendo do que gente morrendo. Se uns reencarnam, de onde vêm os outros?

Quanto ao que o autor fala sobre a "justiça divina", reflete apenas os preconceitos românticos do ESPIRITISMO contra o inferno.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

"Convicção cientificamente justificada" -- lembra o que eu falei sobre o caráter cientificista do ESPIRITISMO? E mais: "ressurreição que contraria todos os princípios da ciência". Ora, os cristãos sabem muito bem que a ressurreição não se dará por processos naturais (naturalmente "todos os homens são mortais", diz Aristóteles), mas por ação prodigiosa de Deus todo-poderoso. Isso prova também que o autor não acredita que Deus seja todo-poderoso (Credo in Deum Patrem omnipotentem). Suposto juízo final? Mas a fé dos Apóstolos é que Jesus "virá julgar os vivos e os mortos" ("inde venturus est judicare vivos et mortuos").

E "decisão política, para atender exigências do Império Bizantino"... Durante largo período de tempo, os imperadores eram partidários do arianismo, heresia que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nem por isso os concílios da Igreja adulteraram a fé para "atender exigências políticas do Império". Aliás, a história da Igreja foi escrita com o sangue de mártires que preferiram ser mortos a corromper a fé que receberam dos Apóstolos. Santo Tomás Moro, por exemplo, preferiu ser decapitado a aprovar o divórcio do rei. Não seria mais fácil atender a uma "exigência política"? Este é outro motivo de credibilidade da Igreja católica: os mártires não temeram enfrentar a morte para defender as verdades que ela prega. Não teriam feito isso se não estivessem plenamente convencidos de que valia a pena.

É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

Eis o romantismo espírita de volta! Que bruxa essa Teodora, hein? Escravocrata desumana e muito preconceituosa... Parece até uma vilã saída de um conto de fadas ou de uma novela mexicana... Ou de algum romance espírita! Mas não é bem assim. Teodora era humana até demais. Era de origem humilde, foi prostituta na adolescência e juventude -- sim, Justiniano, o mais famoso dos imperadores de Constantinopla, tirou a sua mulher de um bordel. E, uma vez imperatriz, a ex-meretriz fundou vários estabelecimentos para reabilitação das ditas "mulheres de vida". Era uma mulher de caráter firme e foi quem convenceu Justiniano a não abdicar por ocasião da Revolta Nika, em que teria dito: "A púrpura é uma bela mortalha". Ao que se conta, era partidária da heresia monofisita e, se quisesse pressionar o Concílio para definir alguma coisa, seria no sentido do monofisismo e não contra a reencarnação.

Aliás, existe uma razão muito boa para Teodora não ter pressionado o II Concílio de Constantinopla: o Concilio foi celebrado em 553 e Teodora já havia morrido 5 anos antes, em 548:

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).

Vamos ver o que as Sagradas Escrituras dizem sobre o ESPIRITISMO?

«Não se ache entre vós quem consulte os necromantes ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor Deus abomina todas estas coisas» (Dt 18,10-12).

«E, quando vos disserem: Consultai os magos e os adivinhos, que murmuram em segredo nos seus encantamentos, respondei: Porventura o povo não há de consultar o seu Deus? Há de ir falar com os mortos acerca dos vivos?» (Is 8,19-20).

«E, assim como está decretado que os homens morram uma só vez, e que depois disso se siga o juízo» (Hb 9,27).

«Esses irão para o suplício eterno, os justos para a vida eterna» (Mt 25,46).

E qual era o Espírito de Elias, que viria com João Batista? Ora, o Espírito Santo, Ele que falou pelos profetas ("qui locutus est per prophetas", como diz o Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembleia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vagalumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".

"Como se fosse soberana em suas decisões" -- ora, o concílio ecumênico é um dos modos pelos quais a Igreja exerce seu supremo poder de magistério. Assim como Nosso Senhor disse a Pedro: «Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra, será desligado também nos céus» (Mt 16,19), também disse ao Colégio dos Apóstolos, reunidos sob a chefia de Pedro: «Se não ouvir a Igreja, considera-o como um gentio e um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes sobre a terra, será desligado no céu» (Mt 18,17-18). Tal como o papa é sucessor de Pedro, os bispos são os sucessores dos Apóstolos. Credo sanctam Ecclesiam catholicam -- Creio na santa Igreja católica.
 
E os vagalumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.

*Vivaldo J. de Araújo é Professor e Procurador de Justiça do Estado de Goiás.*

Os espíritas não são católicos. Sendo assim, não deveriam se preocupar com o que pensa a Igreja católica, com o que ela aprova ou deixa de aprovar. Ainda que supostamente a Igreja um dia tenha acreditado em reencarnação, isso não prova que reencarnação existe. No entanto, esta preocupação dos espíritas é mais um motivo de credibilidade da Igreja católica: porque todos, gostando ou não, por bem ou por mal, reconhecem a autoridade espiritual da Igreja católica. Todos, espíritas, militantes gays, protestantes, se importam com o que a Igreja aprova ou deixa de aprovar, não conseguem ser indiferentes: gostando ou não, manifestam sua necessidade de aprovação da Igreja católica.

Espero que minha resposta seja útil para alguma coisa.

Graça e paz, Rodrigo R. Pedroso.


Fonte:

Ver também:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3s_Fox

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