O que a gente reza no Credo, no
Símbolo dos Apóstolos? Credo carnis resurrectionem et vitam aeternam.
"Creio na ressurreição da
carne e na vida eterna". O Credo se chama Símbolo dos Apóstolos porque foi
composto por eles. Na primitiva igreja de Roma, São Pedro pedia aos catecúmenos
que rezassem o Credo antes de batizá-los (como se faz até hoje na liturgia
batismal e na renovação das promessas do batismo). Um dos motivos de
credibilidade da Igreja, isto é, um dos sinais de que a religião
católica é a única verdadeira, é que ela sempre acreditou nas mesmas coisas,
sempre conservou a mesma doutrina. O que Pedro ensinava é o que Francisco
ensina.
Quem crê na ressurreição da carne
não pode crer na reencarnação. Isso porque são logicamente incompatíveis: se os
mortos reencarnam e ressuscitam, com qual dos corpos em que se encarnaram
haverão de ressuscitar, no último dia? A fé católica é que ressuscitaremos no
último dia, com o nosso mesmo corpo que temos hoje. Por isso, quem reza o Credo
não deveria crer em reencarnação e quem crê em reencarnação não deveria rezar o
Credo.
Quem entende o que é crer na vida
eterna igualmente entende que isso é também incompatível com a crença na
reencarnação. Pois a vida eterna, que professamos no Credo, não é um simples
durar perpetuamente, não é a simples duração indefinida da alma, que poderia
reconciliar-se com um ciclo de ininterruptas reencarnações. A vida eterna, que
professamos no Credo, não é a simples imortalidade da alma, coisa que em si não
é nenhum mistério e cuja verdade pode mesmo ser alcançada com certeza pelo
esforço do intelecto humano. A vida eterna, que professamos no Credo, é o Céu,
isto é, a participação na vida da Santíssima Trindade. «A vida
eterna é esta: que te conheçam a Ti como único Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo, a quem enviaste" (Jo 17,3). E quem entende o que é isso, entende
que isso é incompatível com um ciclo perene de ininterruptas reencarnações,
simples repetição do mesmo estado de vida em que vivemos presentemente, com
todas as suas misérias e tarefas.
O ESPIRITISMO se
distingue do cristianismo principalmente pelo que ele promete e pela autoridade
que invoca. O que o cristianismo nos promete? Isso que eu falei mais acima:
a participação na própria vida da Santíssima Trindade, conhecer a
Deus tal como nos conhecemos a nós mesmos, contemplá-lO face a face (cf. 1Cor
13,12). E o que o ESPIRITISMO nos promete? Falar com os
mortos e uma reencarnaçãozinha melhor na próxima vez, nada
mais que isso.
E que autoridade o ESPIRITISMO invoca?
O cristianismo se apresenta como uma religião revelada, mas uma religião
revelada por Deus. O ato de fé é a resposta do homem à autoridade de Deus que
se revela. Ora, Deus é a própria Verdade, e não pode enganar-se nem enganar.
O ESPIRITISMO também se apresenta como uma religião revelada --
embora deteste usar o termo "religião" -- mas revelada pelos mortos.
Allan Kardec, o fundador do moderno ESPIRITISMO, não era médium,
mas reuniu e codificou em seu Livro dos Espíritos as mensagens
que supostos "espíritos desencarnados" (isto é, mortos) transmitiram
em diversas sessões espíritas que ele, Kardec, assistiu. Ainda que
concedêssemos que de fato "espíritos desencarnados" ditaram as
mensagens codificadas por Kardec -- o que não é de forma alguma incontroverso
-- não há como comparar a autoridade do Deus vivo e verdadeiro com
a de criaturas mortas, com as limitações e falhas próprias dos homens. Em que
você prefere acreditar, na palavra do Deus vivo ou na palavra dos mortos?
O ESPIRITISMO depende
de duas atitudes mentais características do século XIX, época em que surgiu:
o romantismo e o cientificismo. O romantismo
consiste numa sobrevalorização do sentimento, da fantasia e da vida
sentimental: sentir é mais importante que compreender; mais
que a verdade objetiva, o que importa é sentir-se bem. O cientificismo,
por sua vez, é uma sobrevalorização das ciências positivas, de modo que fora
delas não admite conhecimento verdadeiro ou valioso. Os espíritas gostam de
falar que o ESPIRITISMO não é religião, mas uma "ciência",
ao estilo das ciências modernas. Porém, pouco lhes parece importar não ser
reconhecidos como tais pela comunidade científica... Mas isso é suficiente para
proporcionar aos espíritas, ao falar de sua doutrina, um ar de superioridade e
arrogância especialmente irritante, mesmo dizendo uma besteira atrás da outra.
Por outro lado, não me pergunte como se pode juntar o romantismo e o
cientificismo numa mesma doutrina: o erro nunca temeu estar em contradição
consigo mesmo.
Dois principalmente são os
estados psicológicos das pessoas que procuram o ESPIRITISMO: um é o
daquelas que não se conformam com a morte de um ente querido, a quem o ESPIRITISMO empresta
o falso consolo dos médiuns, das psicografias etc. Não deixa de ser uma espécie
de neurose. O outro grupo são aqueles que levam uma vidinha medíocre, talvez
com um empreguinho de porcaria, mas gostam de se imaginar terem sido grandes
heróis no passado. Clark Kent se consola ao se imaginar ser o Superman...
Repare que sempre que um espírita fala de suas "vidas passadas" é uma
galeria de grandes personagens: um foi um grande cavaleiro medieval, outro um
escritor de renome, outro ainda um rico senador na Roma antiga. Todos eles têm
uma grande -- e romântica -- história pra contar. Mas, coitados, só têm
histórias para contar de vidas que não viveram.
O ESPIRITISMO não
apenas contraria a fé católica como também a razão natural. A alma é a forma
substancial do corpo, alma e corpo compõem uma unidade substancial, um único
ser, ainda que a alma possa sobreviver à separação do corpo. O meu corpo não é
algo de extrínseco à minha personalidade, eu sou meu corpo. Aliás,
ensina Santo Tomás que as almas humanas se distinguem umas das outras por sua
relação com seus respectivos corpos, uma vez que a alma está para o corpo como
a forma está para a matéria e, a forma sendo universal, a matéria é o princípio
de individuação. A alma humana tem individualidade em virtude de sua relação
com um corpo determinado.
Passemos ao texto que você pediu
para que eu comentasse. Segue em vermelho:
O Concílio de
Constantinopla – 553 D.C.
(Por: Vivaldo J. de Araújo
– Espírita)
Até meados do século VI,
todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já
proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador
dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para
rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.
Dizer que "até meados do
século VI, todo o cristianismo aceitava a reencarnação" é mentira
da grossa. Não existe uma única fonte histórica que aponte isso e,
pelo contrário, todas as fontes históricas apontam em sentido contrário. Porém,
suponhamos que "todo o cristianismo aceitasse a reencarnação" antes
do II Concílio de Constantinopla. Você acha que seria fácil um concílio impor o
contrário ao mundo inteiro, ainda mais consideradas as condições de comunicação
na época? Como ninguém protestou? O Concílio de Calcedônia (do ano 451), que
antecedeu o II de Constantinopla e condenou a heresia monofisita (que dizia
haver em Jesus Cristo uma única natureza, e não duas, divina e humana, numa
única pessoa, como ensina a fé católica), terminou com uma cisão na Igreja,
pois os patriarcas da Síria e do Egito não aceitaram as suas definições. Se
supostamente era tão ampla a aceitação da reencarnação, por que ninguém
protestou?
Por outro lado, o autor diz a
verdade quando afirma que "a cultura religiosa oriental já proclamava a
reencarnação milênios antes da era cristã". Mas essa verdade que ele diz
só prova que a reencarnação não é uma doutrina cristã, mas uma crença
própria de religiões pagãs. E o autor chega a dar vergonha alheia quando
chama a reencarnação de "fato incontestável". A reencarnação não é um
fato, mas uma crença. E uma crença não apenas contestável, mas que se demonstra
falsa à luz da razão natural. Uma das mais simples refutações é matemática:
sempre houve muito mais gente nascendo do que gente morrendo. Se uns
reencarnam, de onde vêm os outros?
Quanto ao que o autor fala sobre
a "justiça divina", reflete apenas os preconceitos
românticos do ESPIRITISMO contra o inferno.
Aconteceu, porém, que o
segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão
política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal
convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que
contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por
ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os
seus elementos constitutivos.
"Convicção
cientificamente justificada" -- lembra o que eu falei sobre o caráter
cientificista do ESPIRITISMO? E mais: "ressurreição que contraria
todos os princípios da ciência". Ora, os cristãos sabem muito bem que
a ressurreição não se dará por processos naturais (naturalmente "todos os
homens são mortais", diz Aristóteles), mas por ação prodigiosa de Deus
todo-poderoso. Isso prova também que o autor não acredita que Deus seja todo-poderoso (Credo
in Deum Patrem omnipotentem). Suposto juízo final? Mas a fé dos
Apóstolos é que Jesus "virá julgar os vivos e os mortos" ("inde
venturus est judicare vivos et mortuos").
E "decisão política, para
atender exigências do Império Bizantino"... Durante largo período
de tempo, os imperadores eram partidários do arianismo, heresia que negava a
divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nem por isso os concílios da Igreja
adulteraram a fé para "atender exigências políticas do Império".
Aliás, a história da Igreja foi escrita com o sangue de mártires que preferiram
ser mortos a corromper a fé que receberam dos Apóstolos. Santo Tomás Moro, por
exemplo, preferiu ser decapitado a aprovar o divórcio do rei. Não seria mais
fácil atender a uma "exigência política"? Este é outro motivo
de credibilidade da Igreja católica: os mártires não temeram enfrentar
a morte para defender as verdades que ela prega. Não teriam feito isso se não
estivessem plenamente convencidos de que valia a pena.
É que Teodora, esposa do
famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa,
temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou
uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através
da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora
eram lei.
Eis o romantismo
espírita de volta! Que bruxa essa Teodora, hein? Escravocrata desumana
e muito preconceituosa... Parece até uma vilã saída de um conto de fadas ou de
uma novela mexicana... Ou de algum romance espírita! Mas não é bem assim.
Teodora era humana até demais. Era de origem humilde, foi prostituta na
adolescência e juventude -- sim, Justiniano, o mais famoso dos imperadores de
Constantinopla, tirou a sua mulher de um bordel. E, uma vez imperatriz, a
ex-meretriz fundou vários estabelecimentos para reabilitação das ditas
"mulheres de vida". Era uma mulher de caráter firme e foi quem
convenceu Justiniano a não abdicar por ocasião da Revolta Nika, em que teria
dito: "A púrpura é uma bela mortalha". Ao que se conta, era
partidária da heresia monofisita e, se quisesse pressionar o Concílio para
definir alguma coisa, seria no sentido do monofisismo e não contra a
reencarnação.
Aliás, existe uma razão muito boa
para Teodora não ter pressionado o II Concílio de Constantinopla: o Concilio
foi celebrado em 553 e Teodora já havia morrido 5 anos antes, em 548:
E assim, o Concílio
realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o
pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade
tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação
admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo
quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido
séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e
Malaquias 4:5 ).
Vamos ver o que as Sagradas
Escrituras dizem sobre o ESPIRITISMO?
«Não se ache entre vós quem
consulte os necromantes ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o
Senhor Deus abomina todas estas coisas» (Dt 18,10-12).
«E, quando vos disserem:
Consultai os magos e os adivinhos, que murmuram em segredo nos seus
encantamentos, respondei: Porventura o povo não há de consultar o seu Deus? Há
de ir falar com os mortos acerca dos vivos?» (Is 8,19-20).
«E, assim como está decretado que
os homens morram uma só vez, e que depois disso se siga o juízo» (Hb 9,27).
«Esses irão para o suplício
eterno, os justos para a vida eterna» (Mt 25,46).
E qual era o Espírito de Elias,
que viria com João Batista? Ora, o Espírito Santo, Ele que falou pelos profetas
("qui locutus est per prophetas", como diz o Símbolo
Niceno-Constantinopolitano).
Agindo dessa maneira, como
se fosse soberana em suas decisões, a assembleia dos bispos, reunidos no
Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não
existe, tal como aconteceu na reunião dos vagalumes, conforme narração do
ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro "
Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença,
ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada
da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não
passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que
pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".
"Como se fosse soberana em
suas decisões" -- ora, o concílio ecumênico é um dos modos pelos quais a
Igreja exerce seu supremo poder de magistério. Assim como Nosso Senhor disse a
Pedro: «Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus; e tudo o
que desligares sobre a terra, será desligado também nos céus» (Mt 16,19),
também disse ao Colégio dos Apóstolos, reunidos sob a chefia de Pedro: «Se não
ouvir a Igreja, considera-o como um gentio e um publicano. Em verdade vos digo:
Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes
sobre a terra, será desligado no céu» (Mt 18,17-18). Tal como o papa é sucessor
de Pedro, os bispos são os sucessores dos Apóstolos. Credo sanctam
Ecclesiam catholicam -- Creio na santa Igreja católica.
E os vagalumes dizendo
amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas
mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve
agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de
fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no
futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque
esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.
*Vivaldo J. de Araújo é
Professor e Procurador de Justiça do Estado de Goiás.*
Os espíritas não são católicos.
Sendo assim, não deveriam se preocupar com o que pensa a Igreja católica, com o
que ela aprova ou deixa de aprovar. Ainda que supostamente a Igreja um dia
tenha acreditado em reencarnação, isso não prova que reencarnação existe. No
entanto, esta preocupação dos espíritas é mais um motivo de
credibilidade da Igreja católica: porque todos, gostando ou não, por
bem ou por mal, reconhecem a autoridade espiritual da Igreja católica. Todos,
espíritas, militantes gays, protestantes, se importam com o que a Igreja aprova
ou deixa de aprovar, não conseguem ser indiferentes: gostando ou não, manifestam
sua necessidade de aprovação da Igreja católica.
Espero que minha resposta seja
útil para alguma coisa.
Graça e paz, Rodrigo R. Pedroso.
Fonte:
Ver também:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3s_Fox
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