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quarta-feira, 26 de junho de 2019

Tienanmen. O massacre nos documentos chineses: «No mínimo, 10 mil mortos»


Toda a verdade sobre o 4 de junho de 1989 em um documento britânico desclassificado em 2017 (Fonte: o Conselho de Estado chinês): “Carros armados sobre os civis a 65 km; moças perfuradas com baionetas; mil sobreviventes cortados pelas metralhadoras”



Em 4 de junho acontece o trigésimo aniversário do massacre da Praça Tienanmen. O número dos estudantes desamparados assassinados pelo exército enviado pelo regime comunista nas estradas de Pequim jamais foi quantificado com exatidão. Em 6 de junho de 1989 o porta-voz do Conselho de Estado chinês, Yuan Mu, falou de “300 mortos e 2.000 feridos”. Em 17 de junho, onze dias depois, o mesmo Yuan declarou a uma emissora americana: “Não morreu ninguém. Nem mesmo um estudante sequer foi esmagado pelos carros armados”. A Sociedade da cruz vermelha chinesa, pelo contrário, estimou “2.600-3.000 mortos”. Há um ano e meio, o governo britânico desclassificou um documento enviado naquela época pelo então embaixador inglês na China, Sir Alan Donald, que fala de “no mínimo 10.000 mortos”. A fonte do documento é o mesmo Conselho de Estado chinês presidido pelo então primeiro ministro Li Peng, que em 20 de maio de 1989 declarou a lei marcial, que levou ao massacre poucos dias depois. O documento conta detalhadamente como foram assassinados em modo bárbaro os civis. Apresentamos em seguida a nossa tradução.

OS “PRIMITIVOS” DO 27º 

Fato. Foi o 27º grupo de armada quem cometeu as atrocidades em Pequim, composto de tropas provenientes do Shanxi, 60 por cento analfabetos e apelidados: “Primitivos”. O comandante era Yang Zhenhua, filho de Yang Baiding, irmão de Yang Shangkun. Por dez dias não receberam notícias enquanto não souberam que deveriam tomar parte em uma exercitação. (...) foram informados da lei marcial em 20 de maio. Durante os primeiros quatro dias da chegada deles a Pequim foram conduzidos pelas vias da cidade para familiarizar-se com a área. O 27º estava no máximo de suas forças com carros armados, veículos blindados e todo tipo de munições, gás lacrimogênio e lança-chamas. (...)

Fato. Na noite do 3/4 de junho o 27º recebeu ordens de atacar pelo oeste junto a outras unidades provenientes de Shenyang. A primeira onda devia atacar sem armas, a segunda com as armas, mas sem munições, a terceira com as armas carregadas para assustar a multidão, a quarta era o 27º com toda capacidade. As primeiras três ondas foram bloqueadas pelos manifestantes, enquanto as tropas procuravam afastá-las para permitir passar o 27º. Não conseguiram e, o 27º abriu fogo sobre a multidão (tanto civis como soldados) antes de esmaga-los com os blindados.

CARROS ARMADOS SOBRE OS CIVIS A 65 KM POR HORA

Fato. As massas enfurecidas continuaram a ignorar o fogo e em Liubukou (perto de Tienanmen, ndr) os carros blindados esmagaram tropas e civis do mesmo modo em uma velocidade de 65 km por hora. Um veículo foi derrubado e o capitão foi retirado para fora do veículo e levado ao hospital pela multidão. Então enlouqueceu e pediu para morrer por causa das atrocidades que cometeu.

Fato. Chegadas a Tienanmen, as tropas separaram os estudantes dos residentes. Os estudantes compreenderam que tinham uma hora para abandonar a praça, mas depois de apenas cinco minutos os carros blindados os atacaram. Os estudantes se compactaram unindo os braços, mas foram cortados juntamente com muitos soldados. Os blindados passaram e repassaram sobre os corpos muitas vezes, os restos mortais foram recolhidos por tratores, cremados e dispersos nos canais de esgoto.
 
MIL SOBREVIVENTES ATRAVESSADOS PELAS METRALHADORAS

O 27º ordenou para não deixar ninguém, disparando também nos feridos. Quatro estudantes feridas imploraram aos soldados de deixá-las vivas, mas foram perfuradas com as baionetas. Uma menina de três anos ficou ferida, a mãe procurou socorrê-la, mas dispararam nela. Outras seis pessoas procuraram socorrê-la, mas tiveram o mesmo fim. A mil sobreviventes disseram que poderiam escapar pela Rua Zhengyi, mas foram abatidos com as metralhadoras já colocadas para isso. As ambulâncias do exército que tentaram socorrer as pessoas foram atingidas com armas de fogo, como também uma ambulância hospitalar sino-japonesa. Um motorista de uma ambulância procurou contra-atacar, mas foi feito em pedaços com uma arma anti-blindados. Durante o ataque um oficial do 27º foi assassinado pelos seus próprios homens, aparentemente porque estava vacilando. Os soldados explicaram que se não o tivessem matado, seriam mortos eles mesmos. 

A REBELIÃO POR PARTE DO EXÉRCITO

Hipótese. Foi usado o 27º (para o massacre, ndr) porque era a armada mais confiável e obediente. Segundo alguns, as outras armas teriam atacado o 27º se tivessem as munições. (...).

Vozes. Alguns soldados das primeiras três ondas retornaram às bases militares para pegar as munições. As armadas provenientes do Shandong, Jiangsu e Xinjiang deixaram as casernas sem ter recebido a ordem para destruir o 27º. Os comandantes provenientes de Guangzhou, Pechino e Shenyang recusaram de participar de um encontro com o comandante Yang Shangkun.

Fato. O comandante de Pequim se recusou de fornecer às tropas na cidade comida, água e abrigo. O 27º utilizava balas de expansão (que aumentava a gravidade das feridas, ndr). Os atiradores do 27º assassinaram muitos civis que estavam nas varandas. Atiraram nos coletores de lixo etc... para praticar. Os hospitais de Pequim receberam a ordem de aceitar somente os feridos das forças de segurança. No momento, 6 estudantes estrangeiros e 23 jornalistas estrangeiros foram assassinados nos combates (nota: deste último fato não temos as provas).

“ESTIMATIVA MÍNIMA: 10.000 MORTOS”
 
Fato. A primeira fase das operações tinha a finalidade de garantir o controle da Praça Tienanmen. A fase sucessiva terá o objetivo de controlar as estradas principais e as travessas estendendo-se do centro para o exterior. Esta fase começará em dois dias.

Fato. Yang Shangkun e Deng Xiaoping (líder de fato da China, ndr) são amigos muito próximos. Alguns membros do Conselho de Estado (afirmam) que a guerra civil é iminente. Qin Jiwei (general e ministro da Defesa, ndr) foi obrigado contra a sua vontade a aparecer na televisão no dia 20 de maio para dar a impressão (que o governo) estivesse unido. Estimativa mínima dos civis mortos: 10.000.


Donald
Foto Ansa

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Polônia, um “lugar da alma” que precisa ser conhecido


A história trabalhada que a fez renascer muitas vezes, a sólida raiz cristã, fazem da Polônia sobretudo uma identidade: fortemente “europeia” e solidamente enraizada na fé cristã. O livro de Roberto Marchesini "Per la libertà vostra e nostra - La Polonia raccontata agli italiani" (Pela liberdade vossa e nossa – A Polônia contada aos italianos) é uma viagem fascinante em um país muito pouco conhecido.


O que conhecemos realmente sobre a  Polônia?  O que chegou e chega a nós da real história do País de São João Paulo II? Provavelmente muito pouco, sustenta Roberto Marchesini no seu último esforço  Per la libertà vostra e nostra – La Polonia raccontata agli italiani (D’Ettoris Editori, 2019), uma seleção de artigos em parte já publicados (alguns também na La Nuova Bussola Quotidiana) e em parte inéditos.

 
A Polônia, afirma o Autor na Introdução, “é um lugar na alma”. De fato, no curso dos séculos “desapareceu da carta geográfica, não teve nem um estado, nem um governo”, no século XX resistiu sob a ditadura do comunismo marxista e “não possui fronteiras naturais, e aquelas administrativas mudaram muitas vezes ao longo dos séculos”... mesmo assim ainda existe porque é  habita na alma do povo polonês. A Polônia é, em suma, uma identidade; e uma identidade fortemente “europeia” e firmemente enraizada naquelas que são as verdadeiras raízes do Ocidente, todo dia tão espezinhadas.

A intenção de Marchesini, com o seu livro, é exatamente fazer com que os italianos conheçam a alma polonesa, que ele foi o primeiro – ao aprofundar vários aspectos – a aprender a amar. Ao fazer isto, o Leitor é acompanhado em uma viagem articulada em breves mais incisivas partes que se referem alternativamente à história, à política, à sociologia, à religião, ao mundo do cinema... para fechar depois com um Apêndice com algumas anotações, também muito práticas, para uma eventual viagem no País do Leste que, apesar dos preconceitos, reserva um surpreendente patrimônio histórico-cultural.

Eis, portanto, que, página por página, se aprende a conhecer um povo capaz de testemunhar, com coragem e sem censura de tipo ideológico, a história que se deu, mas que ao mesmo tempo soube levantar a cabeça e retirar, exatamente daquele passado nada fácil, ensinamentos preciosos. Um povo que, em 2019, repete com orgulho slogans patrióticos como «Bóg, Honor, Ojczyzna» (Deus, honra, pátria) e que, como demostra a adesão sempre crescente à Marsz Niepodleglości, a Marcha pela independência, que acontece a cada ano no dia 11 de novembro em Varsóvia para celebrar o renascimento da Polônia em 1918, mostra um extraordinário apego à própria bandeira nacional.

Um povo que além do mais não se envergonha das próprias raízes cristãs, como se percebe pelos indescritíveis sinais da cruz feito pelas pessoas que passam diante de uma igreja, ou pelas frequentes peregrinações ao Santuário de Nossa Senhora de Częstochowa, assim como também pelo Rosário recitado em outubro de 2017 por um milhão de pessoas nas fronteiras nacionais (“Como crianças obedecemos a Maria rezando pela paz, contra o islamismo e o ateísmo, em reparação pelas ofensas contra Deus e Maria e pela conversão dos pecadores”). Um povo, enfim, que não hesita ao ser etiquetado, aos olhos do mundo, como uma nação de “coelhos”, mas que na verdade, se orgulha do investimento na taxa de natalidade, que na verdade será o seu futuro. 

Com isto, é importante especificar, Marchesini não quer dar a entender que a Polônia não apresente pontos de crítica e zonas de sombra, como ele mesmo é o primeiro a destacar em determinadas passagens. E ainda, neste ano, durante o qual se deveria celebrar o final do regime comunista na Polônia e da inteira “cortina de ferro”, poderia ser uma boa ocasião para aprofundar o conhecimento do País de São João Paulo II, permitindo-se interrogar pela história, da fé e da identidade de um povo que, talvez, é mais próximo a nós do que parece.

terça-feira, 11 de junho de 2019

«Marianną Popiełuszko. A mulher que perdoou os assassinos do filho mártir »



Giuliano Guzzo

São ainda poucos, infelizmente, até mesmo no mundo católico, aqueles que conhecem bem a história e o testemunho de Padre Jerzy Popiełuszko (1947–1984), o sacerdote e mártir polonês, assassinado há mais de três décadas e beatificado em junho de 2010, no pontificado de Bento XVI, e ainda é menor, não tenhamos dúvida, o número daqueles que sabem algo sobre Marianną Popiełuszko (1920-2013), sua mãe. E é uma pena porque, como aquela do filho, também a sua é uma figura decididamente luminosa, marcada por um testemunho de fé autenticamente vivida.

Ajuda a preencher este vazio um belo livro de mais de 300 páginas intitulado Matka Świętego. Poruszające świadectwo Marianny Popiełuszko, traduzível como “Mãe de um santo, comovente testemunho de Marianną Popieluszko”  (“Madre di un santo, commovente testimonianza di Marianną Popieluszko”), da jornalista e escritora polonesa Milena Kindziuk. Graças a esta obra podemos, de fato, descobrir mais sobre esta mulher corajosa, falecida há poucos anos com venerados 93 anos, não antes, porém de ter assistido à beatificação do amado filho Jerzy

Nascida na região rural de Bialystok há quase um século, Marianna casou jovem – tinha 22 anos –, deu à luz cinco filhos, entre os quais o sacerdote que se tornou um símbolo da resistência durante os tempos escuros do regime comunista, e foi sempre uma mulher de grande fé. A provar isso, as suas próprias palavras. Como quando afirmou: “A fé em Deus vem antes de tudo. Sem Deus, a vida não tem sentido. Devemos nos assegurar que esteja sempre presente em nós porque com a fé existe sempre uma vitória”.

Uma clara confirmação do apego ao Senhor, a senhora polonesa deu também quando esperava o seu terceiro filho, Jerzy. Então, de fato, Marianną rezou intensamente para que Deus concedesse ao pequeno que tinha no ventre a graça da vocação sacerdotal. Um pedido que somente uma mãe de grande fé pode fazer e ao qual, evidentemente, o Onipotente não deixou de corresponder, doando-lhe o filho que sonhava, mas também, como sabemos, uma dor imensa.

Uma dor da qual a mulher falou também no dia 6 de junho de 2010, por ocasião da beatificação de seu filho: “A minha maior dor foi a morte de Jerzy”. Ainda assim, junto a estas palavras de compreensível dor, a senhora Popiełuszko pronunciou outras não menos comoventes: “Eu não julgo ninguém, porque Deus é o único juiz. A minha grande alegria será quando os assassinos de meu filho se converterem”. Uma conversão pela qual a anciã a dezenas de distância, procurava “rezar todos os dias”-“bem sabia que não existe nada de mais importante na vida que a presença de Deus”.

A confirmação da grandeza da mãe de Jerzy Popiełuszko nos chega das palavras de Milena Kindziuk, que curou o livro.  A escritora, de fato, declarou: “Não teríamos jamais padre Jerzy sem a fé e a confiança da mãe Marianna, a qual chegou a perdoar os assassinos do filho”. Foi Marianną Popiełuszko», acrescentou  Kindziuk, “quem ensinou aos seus filhos a fé e a oração. Tanto que, quando o filho Jerzy entrou no seminário, ela disse de ter dado com todo o coração o seu filho à Igreja. Ao ponto que aprovou todas as decisões dos superiores do filho, também aquelas que não a convenciam”.  O que dizer, senão que temos algo para agradecer à senhora Popiełuszko. Por ter doado à Igreja uma figura imensa como padre Jerzy e por ter ela mesma dado um testemunho de fé grandiosa que, hoje mais que nunca, merece de ser redescoberta e tomada como exemplo.