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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Com Biden o verdadeiro perigo se chama Kamala Harris. Abortista e pró-Lgbt, eis quem é a vice-Presidente

Giuliano Guzzo


 O Presidente eleito dos Estados Unidos, segundo as projeções dos principais órgãos da imprensa, é Joe Biden, obviamente sem os recursos de Donald Trump, que, porém está sofrendo as pressões dos seus fidelíssimos que estão lhe convidando a reconhecer a vitória do seu adversário e de acordo com os últimos rumores, o próprio magnata já estaria pensando nas eleições de 2024.

As  mídias de todo o mundo, sobretudo a grande imprensa, estão porém todos loucos por ela, a sua vice, Kamala Harris. Nasceu em 1964, de mãe indo-americana e pai de origem jamaicana, tendo estudado na Howard University e no Hastings College of the Law de San Francisco, já exerceu o cargo de promotora distrital de San Francisco, a expoente democrática ainda não – como é óbvio – cumpriu nenhum ato formal, mesmo se está afirmando como a queridinha progressista global. Coisa que, em parte, é também compreensível.

Sim, porque a Harris encarna perfeitamente os cânones do progressismo: o multiculturalismo, o feminismo 2.0, o anticlericalismo, o apoio à cultura de gênero e ao abortismo mais extremo. Exagerações? Infelizmente não. Basta pensar em como, quando era promotora geral da Califórnia, a mulher – que tem fama de ser durona e determinada – defendeu o colosso abortista Planned Parenthood de sombras muito pesadas, a partir da acusação de venda de partes de crianças abortadas, em aberta e total violação de diversas leis federais. Todas as coisas das quais, é claro, existem filmes registrados em terras californianas.

Não obstante isso, a Harris anunciou que teria investigado os jornalistas do Center for Medical Progress (CMP, responsáveis de ter documentado o  mencionado horror (que muitos, evidentemente, queriam manter oculto), ao invés de investigar a Planned Parenthood, que de fato destinou a Biden e sócia uma contribuição para sustentação eleitoral de 45 milhões de dólares, não pouca coisa. Mas, retornemos à nova vice-presidente, a qual, como senadora, se distinguiu também por ter literalmente pressionado Brian Buescher, nomeado juiz distrital federal em Nebraska.

O motivo pelo qual Harris tinha se dirigido a Buescher é a sua pertença aos Cavaleiros de Colombo, que não é uma organização terrorista, nem uma perigosa seita, mas sim uma fraternidade católica com, entre outras coisas, um século de história e que, com dois milhões de membros, promove atividades de caridade. Não obstante isso, a política dem se lançou contra Buescher, perguntando-lhe se fosse “conhecedor do fato que os Cavaleiros de Colombo se opuseram à igualdade matrimonial” – oposição que vem evidentemente por ela vista como horrível -, quando este tinha se unido à fraternidade.

Sim, porque além de abortista convicta, a nova vice-presidente – como já se acenava – é uma financiadora dos movimentos Lgbt e declarou com orgulho de ter ela mesma celebrado matrimônio gay. Não somente. A nova vice-presidente publicamente se orgulha, não faz muito tempo, de ter obrigado, quando era promotora, as empresas de propriedade religiosa e os centros para a gravidez pró-vida a agir contra a própria consciência. Temos o que fazer com uma abortista, inimiga da família natural – batalha que compartilha com o movimento Black Lives Matter, que a Harris apóia com convicção – e além do mais anticristã.

O único aspecto que parece tornar a nova estrela do progressismo mundial aceitável também por alguns cristãos é o seu ser a favor das portas abertas, ou melhor, escancaradas para a imigração, para o reconhecimento dos clandestinos e pela destruição de qualquer muro, barreira ou confim como queira chamar. Agora, prescindindo de como pense sobre este último tema – que, por inciso, por quanto relevante não serve entre aqueles eticamente não negociáveis – é todavia gritante como temos o que fazer com uma representante das instituições  opostas a tudo isso que sabe que é de direito natural, personalismo ontológico e ética cristã.

Com efeito, em relação à Harris até mesmo alguém como Joe Biden – cujo diversos sacerdotes católicos, nos meses passados, negaram a comunhão exatamente pelo seu orgulhoso e reivindicado abortismo – corre o risco de passar como um moderado; o que , infelizmente, é real.  Resulta como os próximos quatro anos, para qualquer um que tenha no coração os valores da vida, das famílias e da liberdade religiosa, correm o risco de ser muito, muito, complicados; sobretudo, pelo papel que Kamala Harris fará de tudo para ter contra estas instituições.

Fonte: https://www.provitaefamiglia.it/blog/con-joe-biden-il-vero-ed-enorme-pericolo-si-chiama-kamala-harris-abortista-e-pro-lgbt-ecco-chi-e-la-vice-presidente

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Ennio Morricone, quando a fé se faz música

Tommaso Scandroglio

Ennio Morricone morreu com o conforto da fé. Compositor católico, conhecido pelas suas composições, dos faroestes, de Era uma vez na América e de A missão, era antes de tudo um homem de fé que exprimia na música a própria espiritualidade. Ainda que esnobado pelos críticos compôs também muitas obras de música contemporânea, que era a sua verdadeira paixão e que ele definia absoluta.

 

Em uma nota da família se lê que Ennio Morricone morreu na madrugada de 6 de julho em Roma com o conforto da fé. Esta é talvez a notícia mais relevante dentro da notícia do falecimento do compositor romano: Morricone deixou esta terra com o conforto da fé, expressão que, assim queremos esperar, queira dizer com o conforto dos sacramentos.

E por falar do autor das músicas de Per un pugno di dollari e de C’era una volta in America começamos pela sua relação com Deus, porque todo o resto é secundário, também para os homens de grande talento como ele. Em uma entrevista dada em 2015 à revista Famiglia Cristiana assim Morricone falava da educação católica que tinha recebido: Venho de uma família cristã. A minha fé nasceu na família. Os meus avôs eram muitos religiosos. Com minha mãe e as minhas irmãs sempre rezamos antes de ir dormir. Recordo o período da guerra. Durante aqueles terríveis a nos rezávamos o rosário. Éramos todos muitos impressionados. Recordo-me sonolento respondendo as Ave-Marias de minha mãe. Sempre fomos religiosos. No Domingo íamos à Missa e nos aproximávamos do sacramento da Comunhão. Uma fé que, mesmo com algum reflexo de cristianismo social, era viva ainda na idade madura: Eu rezo uma hora por dia, mas também mais. É a primeira coisa que faço. Também durante a jornada, por acaso. Pela manhã paro diante daquele Cristo (e indica uma imagem de Jesus presente na sala). E também à noite. Espero que as minhas orações sejam escutadas.

Depois uma pergunta sobre a relação entre a música e Deus: A música é certamente próxima de Deus – responde o maestro – A música é a única verdadeira arte que nos aproxima verdadeiramente do Pai eterno e da eternidade. Se os olhos são o espelho da alma, para Morricone também a sua música o era e revelava muito dele: Luciano Salce, cineasta para quem musiquei diversos filmes, um dia me chamou e disse: Devo deixar-te. Por que?. Éramos amigos e permanecemos amigos até a morte. Porque eu faço filmes cômicos e você faz uma música espiritual, sacral. Devo deixar-te por força. Este episódio me marcou muito. Graças a ele comecei a pensar sobre isso. Provavelmente às vezes exprimo sacralidade também quando não a procuro ou não penso nela. Se por uma parte algumas suas músicas exprimem implicitamente uma tensão para o transcendente, outras suas composições se inserem intencionalmente no repertório sacro. Pensemos por exemplo Amen, Missa Papae Francisci, Una Via crucis.

Se citas Morricone, citas trilhas sonoras para filmes, mas na realidade o compositor romano abrangeu muitos gêneros e fez arranjos em canções muito célebres como, entre muitas, Sapore di sale, Il mondo, Se telefonando. Entre estes gêneros aquele que cultivava com mais paixão era a música contemporânea, que ele chamava música absoluta, talvez porque, nas suas intenções, tinha valor por si mesma, sem necessidade de um filme para que fosse escutada. Se por duas vezes vencedor do Óscar, a música contemporânea que ele escreveu foi sua jóia mais preciosa, ela foi essencialmente desprezada pelos críticos, seus colegas compositores e pelo público. Este último entra compreensivelmente em êxtase por Gabriel’s oboe, peça famosa que retorna mais vezes no filme A missão e cuja melodia dá prova, junto a muitas outras trilhas sonoras, sobre como Morricone fosse um dos herdeiros mais dignos de hoje do belo canto italiano. Certamente o grande público não se aventura em escutar os seus concertos para instrumentos e orquestra ou peças como Frammenti di Erossu ou as músicas para balés Requiem per un destino, composições das quais ignora muito provavelmente até mesmo a existência (no YouTube o número de ouvintes chega a uma centena contra o milhão e trezentos mil de Gabriel’s oboe).

Agora se o senhor Rossi despreza o Morricone autor de músicas contemporâneas porque não é assim tão cativante como as suas trilhas sonoras, o ambiente que gravita ao invés à assim chamada música contemporânea o olhou sempre com desconfiança pelo motivo oposto: uma música somente aparentemente culta, mas na realidade muito utilizável, muito melódica, muito potável (se és compreensível, não és culto),  privada de dissonâncias, tropeços, dores e gritos que deveriam ser uma marca de garantia para quem quer escrever hoje música séria. E de fato o Nosso tinha estudado na escola de Goffredo Petrassi e substancialmente a instalação de seus trabalhos – diante de qualquer experimentação – era tonal, portanto audível. Uma verdadeira blasfêmia, sobretudo pensando nos anos em que Morricone se formou e iniciou a escrever, anos em que se impunha a dodecafonia, o estruturalismo, o minimalismo. Além dos ambientes acadêmicos não lhe perdoaram jamais o seu vender-se e vulgarizar-se com as músicas pop para os filmes. Uma pessoa indesejável, um pária, em boa substância, nos ambientes que contam.

De sua parte, Morricone jamais escondeu que começou a escrever música para filmes para ganhar o pão (Petrassi detestava esta sua escolha porque impura) e assim ser capaz de escrever música culta.   Mas a fama lhe vem da produção popular e não parou mais como compositor contemporâneo. Um paradoxo: um homem que foi elogiado a nível mundial pelo público e pela quase totalidade dos cineastas, que venceu dezenas e dezenas de prêmios e que marcou para sempre a história da produção musical para a grande tela, não encontrou quase nenhum reconhecimento pelas obras que ele julgava de maior mérito.

Perguntamos-nos então se morreu com este arrependimento, com o arrependimento de ter passado para a história pelo O bom, o bruto, o mau e não pelas 4 Anamorfose latinas. Talvez não a julgar pelo seu caráter humilde que o levou a pedir exéquias em forma privada, porque – assim deixou escrito no seu testamento – não quero perturbar.

Sugerimos escutar esta homenagem feita pelo músico Hauser a Ennio  Morricone: https://www.youtube.com/watch?v=KYlHiACHGiU


 

Ou ainda se preferir: https://www.youtube.com/watch?v=oag1Dfa1e_E


 

Filme “A missão”: https://www.youtube.com/watch?v=ILaWuZl4HkA


 

Fonte: https://www.lanuovabq.it/it/ennio-morricone-quando-la-fede-si-fa-musica

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

João Paulo II: Os cônjuges Wojtyla em direção aos altares

 Costanza Signorelli





A arquidiocese de Cracóvia obteve da Conferência episcopal polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé e dar início ao processo de beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska. Uma família na qual se respirava santidade.

Durante o seu pontificado, elevou aos altares 1.338 beatos e 482 santos, ou seja: um número superior a todos os santos proclamados pelos seus predecessores colocados juntos. E, sem dúvida, o Papa que mais contribuiu para tornar a santidade algo da atualidade, bem como uma concreta aspiração para todos os batizados de todos os tempos.

É claro que João Paulo II não poderia ser senão um santo, mas o que hoje nos chega como notícia oficial é que foi tal também porque era circundado por uma inteira família de santos.

Dito em outras palavras: a arquidiocese de Cracóvia, nos últimos dias, obteve da Conferência episcopal polonesa a permissão para dirigir-se à Santa Sé pedindo o início do processo de beatificação dos pais do Papa Wojtyla: Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska.

Deve-se dizer, porém, que se de um lado, a santidade do papa polonês se consumou sob o olhar de todos, suscitando a estima até mesmo do mundo mais laico, dos pais do mesmo Pontífice se disse muito pouco, a não ser por meio de algum caso que provocou um grande afeto no coração dos fiéis.

Entre os poucos documentos publicados a respeito, existe um que resume com simplicidade e grande eficácia a vida destes especiais cônjuges do século vinte. Trata-se do livro: “Le due madri di papa Wojtyla” (As duas mães do papa Wojtyla), de Renzo Allegri que, para vantagem do leitor, queremos citar alguns trechos dele. No texto, de fato, que leva o título por causa da estreita ligação entre a mãe de João Paulo II e a figura de santa Gianna Beretta Molla, canonizada e tanto amada pelo mesmo Pontífice, emergem numerosíssimos detalhes sobre a família Wojtyla, toda investida pelo espírito de santidade.

ROUBARAM O CORAÇÃO

“Emilia Kaczorowska era filha de um seleiro lituano e nasceu em Silésia no 26 de março de 1884. Teve oito irmãos. A família se transferiu para Cracóvia quando ela ainda era pequena. Teve uma infância bastante triste, marcada por dores e desgraças. Em poucos anos perdeu quatro irmãos e a mãe. Cresceu em um colégio de irmãs da Misericórdia. Pôde frequentar somente a escola elementar, depois teve que passar a ganhar a vida. (...) Quando tinha 18 anos, conheceu um soldado, Karol Wojtyla e se enamorou”.

“Karol era cinco anos mais velho que ela, tinha nascido em Lipnik, em uma família de alfaiates, e também ele tinha aprendido a profissão de alfaiate, mas tinha depois abandonado pela carreira militar. (...) Segundo um relatório militar austríaco, o suboficial Karol Wojtyla era julgado pelos seus superiores “honesto, leal, sério, educado, modesto, reto, responsável, generoso e incansável”. Emília o conheceu na igreja católica de Cracóvia, que ambos frequentavam”.

Os dois jovens logo roubaram o coração um do outro e em 10 de fevereiro de 1994 (ndt.: julgo ter sido erro de digitação; a data precisa deve ser 1894), em Cracóvia, na Igreja militar da cidade, dedicada aos santos Pedro e Paulo, se uniram em matrimônio.

Em 1906 nasce o primeiro filho deles, Edmondo. Por algum tempo a família Wojtyla transcorreu dias felizes e despreocupados, primeiro em Cracóvia e depois em Wadowice, para onde se transferiram por causa do trabalho de Karol. Mas aqui, logo, iniciou o tempo da dura provação.

A HORA DA DECISÃO EXTREMA

Já frágil de saúde, Emília teve dificuldade de restabelecer-se do primeiro parto: os médicos lhe tinham por isso aconselhado de contentar-se com aquele único filho. Mas, em 1914, a mulher ficou grávida uma segunda vez, e a neonata não viveu a não ser poucas horas ou, talvez, poucos dias. Quase nada se sabe desta segunda filha, chamada Olga, senão o fato da gravidez e morte, Emília saiu dessa situação muito comprometida fisicamente e profundamente marca no ânimo. Os médicos desta vez foram taxativos: a mulher deveria conduzir uma vida de máxima reserva e nem mesmo distante deveria pensar em outra gravidez. Mesmo assim, no final de 1919, Emília se deu conta que esperava uma nova criança.

“Tinha já trinta e cinco anos e meio – conta Allegri – e a nova gravidez se mostrou logo difícil. Os médicos disseram que seria fatal para ela e para o nascituro: deveria então interrompê-la. Deveria abortar. O problema era grave. Emília conhecia bem as próprias condições de saúde. Sabia do risco que corria e teria pensado em seu marido, em seu filho Edmondo, que tinha então catorze anos e, também em si mesma. Não é fácil aceitar morrer com trinta e cinco anos. Mas era uma mulher de grande fé. Nem mesmo por um momento considerou a possibilidade do aborto. Com simplicidade extrema se confiou no bom Deus. Mas, por nenhuma razão do mundo, teria impedido àquele seu menino de nascer: estava disposta a morrer. Os nove meses de gestação foram cheios de complicações para a saúde de Emília. O parto se mostrou difícil, mas a criança nasceu sadia e robusta. Era o 18 de maio de 1920”.

O próprio João Paulo II contou que nasceu no momento do por do sol em 18 de maio e que sua mãe, terminado o trabalho, disse à parteira que abrisse as janelas do quarto para que a criança pudesse ouvir os cantos marianos que os devotos entoavam na igrejinha ao lado da casa, durante a função religiosa do mês de maio.

Como dito, a gravidez que deu à luz o futuro Pontífice, foi fatal para a mãe: a partir daquele momento Emília viveu nove anos de autêntico martírio. Os distúrbios no coração e nos rins pioraram drasticamente. As enxaquecas a deixavam dias inteiros na cama, no escuro. A dor nas costas aumentava sempre mais e as pernas inchavam a tal ponto que raramente conseguia manter-se em pé. “Mesmo assim – contou a vizinha de casa – a senhora Wojtyla suportava a dor com fé. Não falava jamais dos seus distúrbios e conseguia sempre manter um sorriso doce e sereno nos lábios, mesmo nos momentos de maior sofrimento. (...) Era sempre muito educada, típica mulher daquele tempo. Era querida de todos e também as pessoas desconhecidas se davam conta desta sua tranquilidade interna e da sua profunda religiosidade”. Em 13 de abril de 1929, Emília Kaczorowska, literalmente consumada pela dor, subiu ao Céu com somente quarenta e cinco anos.

UM SEMINÁRIO DOMÉSTICO

Assim como a mãe tinha doado a vida duas vezes pelo seu filho, fazendo-o vir ao mundo, à custa da sua própria vida, igualmente fez o santo pai do futuro Pontífice, se tornando ao mesmo tempo pai e mãe do pequeno Karol, depois da morte de Emília.

Depois da mãe, também o irmão Edmondo  os deixou: tendo se tornado médico, ele morreu com somente 26 anos depois de tratar uma jovem paciente que sofria de escarlatina séptica e letal, que ele mesmo contraiu. Não obstante fosse obrigação, em tais casos, o isolamento e a suspensão da cura, o jovem médico em consciência preferiu arriscar e perder a vida, mas não abandonar a pobre sofredora.

A partir daquele momento a vida do Senhor Karol foi inteiramente consumida em fazer crescer aquele único filho que permaneceu e, mesmo se ainda jovem, o viúvo não quis mais esposar-se novamente. Descreve Allegri: “Construiu com o filho um núcleo familiar muito unido e harmonioso, mas guiado por um horário ferrenho e militar. Despertar as seis, café e Missa na paróquia. Depois Lolek (assim costumavam chamar o papa Wojtyla em família, ndr) ia para a escola e Karol (então aposentado) aproveitava para arrumar a casa, para lavar a roupa, para remendar as vestes e cozinhar. Pela tarde, depois do almoço Lolek podia dedicar-se por duas horas a jogar com os amigos, depois estudava com o pai. No final do dia, iam de novo a Igreja juntos, jantavam, faziam uma breve caminhada e iam dormir”.

Ao amigo jornalista francês André Frossard, Papa Karol Wojtyla confidenciou: “Meu pai era uma pessoa maravilhosa e quase todas as minhas recordações da infância estão ligadas a ele, os fatos dolorosos que nos atingiram, abriram nele imensas profundezas de ânimo. Todos os seus pensamentos e preocupações se transformavam na oração. O via frequentemente ajoelhado rezando. (...) O seu exemplo bastava para ensinar a disciplina e o sentido do dever, era uma pessoa excepcional. (...) Entre nós não se falava de vocação ao sacerdócio, mas o seu exemplo foi para mim de algum modo o primeiro seminário, um tipo de seminário doméstico”.


Fonte: https://lanuovabq.it/it/i-coniugi-wojtyla-verso-gli-altari

Chile, desordem e igrejas incendiadas

 

Pelo menos duas igrejas no centro de Santiago do Chile foram incendiadas neste domingo depois da maciça manifestação que reuniu dezenas de milhares de pessoas, no primeiro aniversário do início dos protestos de 2019 e a somente uma semana do plebiscito para dar vida a uma nova Constituição. O primeiro santuário a queimar foi a igreja de São Francisco de Borja, usada regularmente pelas forças de polícia para cerimônias institucionais, e horas depois a queimar era a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, uma das mais antigas da capital, com mais de um século e meio de história.

A igreja de São Francisco de Borja foi saqueada e algumas das suas imagens religiosas foram queimadas pelas ruas, enquanto a de Nossa Senhora da Assunção viu a sua cúpula cair por terra consumida pelas chamas. Nas proximidades do local, batizado pelos manifestantes como Plaza Dignidad, foram também saqueadas várias lojas, entre as quais um supermercado de uma rede internacional, e foram registrados também ataques de homens encapuzados a algumas estações da polícia na periferia da capital.

O presidente e o secretário geral da Conferência episcopal do Chile expressaram, através de uma declaração, a sua proximidade àqueles que foram vítimas de atos de violência que contrastam com as expressões daqueles que manifestaram pacificamente.

A maior parte do Chile deseja ardentemente justiça e medidas eficazes que ajudem a superar a desigualdade; não quer mais corrupção ou abuso, esperam um tratamento com dignidade, respeito e équo. Cremos que esta maioria não sustenta ou justifique ações violentas que causam dor a indivíduos e famílias, danificando comunidades que não podem viver em paz nas suas casas ou no trabalho, amedrontadas por quem não procura construir nada, mas por outro lado destrói tudo.

O presidente chileno, o conservador Sebastián Piñera, que transcorreu toda a jornada na sua residência, se dirigiu na parte da tarde ao Palácio de La Moneda – sede do governo – para monitorar os incidentes, que obscureceram todo o dia transcorrido por horas em uma atmosfera muito festiva e familiar. Segundo os soldados, pelo menos 18 agentes ficaram feridos em diferentes partes da capital. Diferente das outras semanas, as forças de polícia foram retiradas durante a maior parte da jornada e começaram a agir quando os excessos começaram.

As manifestações pelo aniversário acontecem a uma semana do plebiscito para dar vida a uma nova Constituição. Constituição atualmente herdada da ditadura e vista como a origem da desigualdade que aflige o País. O plebiscito, que deveria ter acontecido em abril e foi remetido para outro período por causa da pandemia, procura diminuir a tensão em um País fortemente centralizado, que até o ano passado era considerado o mais estável da América Latina.

Continua a declaração do episcopado:

Neste domingo, 25 de outubro, os cidadãos que querem justiça, probidade, superação das desigualdades e oportunidades para poder se levantar como país, não serão intimidados pelas ameaças de violência e estarão presentes para cumprir a sua responsabilidade cívica. Nas democracias nos exprimimos com o voto livre em consciência, mas sob a pressão do terror e da força. Peçamos a todos que contribuam, a partir da família, trabalho e espaços sociais, com uma reflexão que nos consinta de tomar distância suficiente da violência irracional e de aproximar-nos da amizade cívica.

Fonte: https://www.iltimone.org/news-timone/cile-disordini-chiese-date-alle-fiamme/

terça-feira, 6 de outubro de 2020

“Dito isto, Jesus lapidou a adúltera”. Assim a China distorce o Evangelho

Leone Grotti

Nos livros de texto dedicados às escolas profissionalizantes, o Partido comunista distorceu o Evangelho fazendo Jesus realizar um homicídio

 


A inacreditável passagem do livro de texto destinado às escolas secundárias na China que distorce a famosa passagem do Evangelho de João.

“Quem de vós é sem pecado, atire a primeira pedra contra ela”. A resposta de Jesus, como descrito por João (8,1-11). Aos escribas e fariseus é uma das passagens mais famosas do Evangelho. Igualmente famoso é o final do episódio da adúltera: “Levantando-se então Jesus lhe disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?”. E ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. E Jesus lhe disse: “Nem eu te condeno; vá e de agora em diante não peque mais”. Ainda assim existe um país no mundo onde a narração do Evangelho não se conclui assim.

E JESUS LAPIDOU A ADÚLTERA

Como denunciado pela UcaNews, a história é distorcida em um livro de texto destinado às escolas secundárias na China. No subsídio publicado pela editora governativa da Universidade de ciência eletrônica e tecnologia, que tem o objetivo de ensinar nos institutos profissionais do Dragão “a lei e a ética profissional”, Jesus lapida a adúltera. Parece inacreditável, mas é exatamente assim.

Quando a multidão renuncia à intenção de punir a mulher, explica o “Evangelho com características chinesas”, Jesus lhe diz: “Também eu sou um pecador. Mas, se a lei pode ser praticada somente por homens sem mancha, a lei estaria morta”. E depois a mata.

“A IGREJA FAÇA CORRIGIR O LIVRO”

A passagem do texto, reproposto na página, foi publicada nas redes sociais chinesas por um católico. “Quero que todos saibam que o Partido comunista chinês sempre procurou distorcer a história da Igreja, de caluniar a nossa Igreja, e de fazer com que as pessoas odeiem a nossa Igreja”. Um docente cristão em uma escola profissional, Matthew Wang, confirmou o conteúdo do livro, explicando que pode mudar de província para província.

O objetivo de semelhante distorção é fazer passar a mensagem que todos devem obedecer à lei na China, a qual é encarnada no Partido comunista e pelas suas decisões, e que também os católicos devem fazê-lo, visto que até mesmo Jesus se submetia a ela. Kama, católico, espera que “as autoridades da Igreja se façam ouvir para que o livro seja corrigido”.

O regime não é novo em intervenções assim tão clamorosas, não obstante esteja em tratativa para renovar o acordo chino-vaticano. No ano passado, por exemplo, a Editora para a educação do povo tinha impresso um livro de texto para as crianças do quinto ano elementar, onde apagava qualquer referência a Deus, à Igreja e a Cristo em obras como A pequena vendedora de fósforos e A vida e as estranhas surpreendentes aventuras de  Robinson Crusoé. O objetivo (até agora jamais alcançado, por outro lado) é eliminar Deus para evitar que o cristianismo se difunda e fique somente a fé no comunismo guiado por Xi Jinping.

Fonte: https://www.tempi.it/cina-vangelo-gesu-adultera-partito-comunista-regime/

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A comissão Glendon sobre os verdadeiros direitos humanos: uma reviravolta a ser sustentada. O debate do Observatório.


OS TRABALHOS DA COMISSÃO GLENDON SOBRE OS VERDADEIROS DIREITOS HUMANOS

UMA REVIRAVOLTA A SER SUSTENTADA E ACOMPANHADA

 Don Samuele Cecotti

CONVIDAMOS A UM DEBATE NO SITE DO OBSERVATÓRIO

Commission on Unalienable Rights, instituída em julho de 2019 pelo Secretário de Estado USA Michael R. Pompeo com a finalidade de definir os direitos humanos inalienáveis aos quais se deverá ater o Departamento de Estado USA na sua política externa, desevolveu os seus trabalhos sob a presidência da professora Mary Ann Glendon, jurista católica da Harvard Law School, já presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais (nomeada por São João Paulo II), já membro do President’s Council on Bioethics (nomeada pelo presidente George W. Bush), já embaixadora dos Estados Unidos junto à Santa Sé.

Os outros membros: Kenneth Anderson, Russell Berman, Peter Berkowitz, Paolo Carozza, Hamza Yusuf Hanson, Jacqueline Rivers, Meir Soloveichik, Katrina Lantos Swett, Christopher Tollefsen e David Tse-Chien Pan.

A comissão Glendon teve o explícito mandato de distinguir os verdadeiros direitos humanos inalienáveis da proliferação de alegados direitos humanos que foram se multiplicando nos últimos decênios através de interpretações e jurisprudências variadas:

«As human rights claims have proliferated, some claims have come into tension with one another, provoking questions and clashes about which rights are entitled to gain respect. Nation-states and international institutions remain confused about their respective responsibilities concerning human rights.

With that as background and with all of this in mind, the time is right for an informed review of the role of human rights in American foreign policy»[1].

A intenção da Comissão foi julgada por mais de um observador como expressão de uma rejeição do liberalismo por parte dos USA (pelo menos por parte da Administração Trump) [2] e como ação contro-revolucionária[3]. Ambos os juízos devem ser verificados criticamente.

Certamente a instituição da Commission on Unalienable Rights, o explícito mandato lhe confiada por Pompeo e o trabalho desenvolvido pelos especialistas guiados por Mary Ann Glendon merecem o máximo interesse, bem mais que o demostrado pelos jornais e pela intelectualidade (também católica) na Itália.

No clima ideológico hoje dominante a intenção da Administração Trump de distinguir nitidamente os verdadeiros direitos humanos inalienáveis dos assim chamados novos direitos (direito ao aborto, direitos LGBT, direito à eutanásia e ao suicídio assistido etc...) é certamente um ato de grande coragem política, decididamente em tendência contrária.

Neste trabalho da Comissão Glendon [4], especialmente se Trump for confirmado presidente por mais quatro anos, poderá representar um ponto de reviravolta em relação à ação USA em sede internacional e em relação à ingerência dos Estados Unidos nas legislações dos outros Países do mundo. Há décadas (a administração Obama representou o cume desta política) os USA desenvolvem uma potente ação que corrompe os ordenamentos jurídicos promovendo em todo o mundo os assim chamados direitos reprodutivos, os assim chamados direitos de gênero, os assim chamados direitos a autodeterminação absoluta do indivíduo. Ou seja, o aborto, a contracepção, esterilização, divórcio, uniões civis, matrimônio gay, eutanásia, transexualisdmo etc... são potentemente promovidos pelos USA, como direitos, em todo o mundo. Com a inserção nos ordenamentos nacionais destes alegados direitos são frequentemente subordinados auxílios diretos e indiretos dos USA e das Organizações internacionais com uma verdadeira e própria chantagem aos Países necessitados de ajuda (pobres, atingidos por calamidades, martirizados pelas guerras) ou simplesmente vinculados militarmente-politicamente-economicamente aos USA.

Se os resultados da Comissão Glendon se tornar efetiamente critério de juízo e de ação para o Departamento de Estado teremos uma verdadeira reviravolta na política USA que cessaria assim de ser o primiero patrocinador mundial dos assim chamados novos direitos.

Basta isso para falar do fim da ordem liberal? Ou para falar de ação contro-revolucionária?

Na realidade, examinando tanto o mandato conferido por Pompeo, quanto o trabalho desenvolvido pela Comissão, se deve reconhecer que jamais se saiu do quadro liberal, no máximo, se rejeitou o êxito liberal-radical do liberalismo em nome de uma clássica (mas também liberal-democracia) do mesmo liberalismo.

As colunas sobre as quais se quis fundar esta clarificação sobre os direitos humanos inalienáveis são nisto explícitas: 1) a mens dos Fundadores entregue nos Textos fundacionais dos USA e feita viver através das suas reatualizações durante os dois séculos americanos; 2) a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Ambas as fontes colocam mais de um problema, primero dos quais o não ir jamais além de um fundamento convencional que portanto permanece um não-fundamento ou, pelo menos, um não-fundamento-último sendo somente deslocado o problema do fundamento do alegado direito ao fundamento da convenção que se quer fundamental-fundadora.

Dizer que um direito é tal (e além do mais inalienável) porque assim declarado pelos Fundadores ou porque assim está escrito na Declaração Universal dos Direitos Humanos não prova nada sobre a validade daquele direito, a sua inalienabilidade e a sua universalidade (direito do homem, de cada homem). Prova somente que alguns homens (sejam estes firmatários da Declaração de Independência, da Constituição ou da Declaração de 48) em certo tempo assim declararam. Pela mesma razão outros homens em outro tempo ou outro contexto poderiam declarar diversamente emendando, estendendo, cancelando, contradizendo o quanto precedentemente foi declarado inalienável direito humano. Se isto que se declara seja o verdadeiro ou o falso permanece uma questão sem resposta.

É mesmo verdadeiro que os direitos fundamentais estão na mens dos Fundadores (recordada pela Comissão Glendon porque tal mens possui relevância constitucional e, especialemnte pela escola originalista, tal  mens é vínculo insuperável para todo o ordenamento jurídico dos Estados Unidos) direitos naturais dados e garantidos pelo próprio Deus. E este é já um ponto de contradição com a cultura filosófico-jurídica ocidental dos dias de hoje que se dá sem fundamento em Deus e silenciando a própria idéia de direito natural.

E todavia não basta afirmar um genérico jusnaturalismo para resolver o problema do fundamento e da natureza dos assim chamados direitos humanos inalienáveis. Nem mesmo é suficiente um vago referimento a Deus.

Fica, portanto, o problema do fundamento e da natureza que se especifica, dado o quadro jusnaturalista de referência, no problema de que coisa se deva entender por direito natural. A resposta não é óbvia nem muito menos unívoca.

Quando se fsala de direito natural pelo menos uma macro distinção é necessária entre o jusnaturalismo clássico-cristão de marca realista e o jusnaturalismo moderno de marca racionalista. Existe um jusnaturalismo que pressupõe uma ordem objetiva de justiça possível de ser conhecida pelo homem através do conhecimento da Realidade, diz a realidade como universo ordenado e diz normativa a natureza do homem e das coisas. Este jusnaturalismo realista tem as suas raízes na filosofia grega e no direito romano para chegar a pleno desenvolvimento na Cristandade onde se envolve com o conceito bíblico de Criação. O ensinamento de Santo Tomás de Aquino sobre a Lex naturalis e a reflexão jurídica, canonística e civilistica, medieval sobre o direito natural são o ponto de máximo desenvolvimento do jusnaturalismo clássico-cristão. Será exatamente a este jusnaturalismo que fará constante referência o Magistério da Igreja durante os séculos.

Existe depois o jusnaturalismo racionalista moderno [5] que prescinde de qualquer idéia metafísica de natureza e, portanto, do conceito de Realidade em toda a sua consistência ontológica. O quadro conceitual é, muito mais, aquele do racionalismo cartesiano. O assim chamado direito natural se torna então produto da razão humana racionalisticamente entendida, nada de mais distante do realismo do jusnaturalismo clássico-cristão.

Por exemplo, entre o jusnaturalismo de Santo Tomás e o jusnaturalismo de Grozio existe um abismo conceitual que se pode com razão falar de equivocidade na expressão direito natural. A expressão é a mesma, mas indica duas conceitualidades entre elas insanavelmente contraditórias.

Evolução do jusnaturalismo holandês é o jusnaturalismo inglês que, com Locke, fornecerá aos Fundadores o quadro ideológico de referência no liberalismo clássico whig. Eis então que o jusnaturalismo dos Fundadores é herança de Locke e está na linha do jusnaturalismo racionalista moderno.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é manifestamente em continuidade com a Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen de 1789, ou seja, com aquele iluminismo jurídico duramente condenado pela Igreja, por exemplo do papa Pio VI no breve Quod aliquantum.

É possível ler a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 em sentido jusnaturalista clássico-cristão? É possível ler os assim chamados direitos humanos como direitos naturais do homem no sentido dos direitos inscritos na natureza (normativa) do homem e, portanto direitos impressos pelo Criador na própria natureza? São questões abertas.

O quadro jusnaturalista que a Comissão Glendon repropõe, como se vê, não é claro e não certamente ausente de contradições e problemas. Resta a impressão que a Administração Trump tenha desejado, com este movimento, retirar dos novos direitos e das forças ideológicas que se fazem promotores deles a cobertura dada pela sombra do direito internacional dos direitos humanos e do direito constitucional (direitos fundamentais).

A operação é politicamente interessante e certamente merecedora de elogio pela coragem em ir na direção contrária em relação à revolução radical em curso há decênios em todo o Ocidente. É uma operação genuinamente conservadora no querer fixar a mens dos Fundadores e a ratio da Declaração ONU de 48 rejeitando por outro lado a deriva relativista e niquilista do liberal-radicalismo e a sua expresão mais típica, a disolução do direito na proliferação dos sempre novos direitos. Todavia, como cada opção conservadora (e não integralmente restauradora da ordem jurídica clássico-cristão), é frádil do ponto de vista filosófico, jusfilosófico e jurídico porque privada de um sólido fundamento teorético.

Para desmontar o processo desagregador próprio do liberal-radicalismo não é de fato suficiente voltar ao liberalismo clássico ou ao liberal-democratismo, é ao invés necessário restabelecer o primado do Real afirmando o realismo metafísico-gnoseológico como conditio sine quan non do direito porque somente do conhecimento (metafísica) da natureza humana é possível obter aquela normatividade natural que faz inalienáveis aqueles direitos inscritos pelo Criador no homem.

Trata-se de refundar o ordenamento jurídico sobre o direito natural assim como entendido por Santo Tomás de Aquino e pela cristandade medieval. Trata-se de restabelecer o primado, lançando o axioma de Rawls, da filosofa (metafísica realista) sobre a democracia porque fundamento da lei deve ser o direito natural ou seja a ordem objetiva de justiça impressa pelo Criador e pelo homem conhecido com a sua razão contemplativa.

O homem pode conhecer a Realidade, conhecendo a própria natureza e a natureza das coisas conhece a ordem finalistica impressa pelo Criador e aquela ordem impõe racionalmente como oredem moral e jurídica. Os assim chamados direitos inalienáveis do homem ou são expressão desta ordem objetiva de justiça, natural e perene, ou não serão de fato direitos inalienáveis do homem mas muito mais produto convencional convencionalmente estendível, emendável, revogável etc...

Se o objetivo, benemérito, da Administração Trump é bloquear a deriva niquilista do liberal-radicalismo, o trabalho da Comissão Glendon marca certamente um ponto importante em sentido político-cultural ousando colocar em discussão o dogma laico dos novos direitos, mas fica debolíssimo sob o aspecto filosófico, jusfilosófico e jurídico.

A contribuição da Tradição católica – da Doutrina social da Igreja – à compreesão do direito (e dos direitos do homem em particular) se revelará assim sempre mais precioso aos olhos de quem honestamente procure as razões para opor-se à deriva radical. A lição do Aquinate, nisto, se revelará decisiva [6].

Samuele Cecotti

 

[1] M. R. Pompeo, Remarks to the press, 8 luglio 2019,  https://www.state.gov/secretary-of-state-michael-r-pompeo-remarks-to-the-press-3/

[2] P. Annicchino, L’ordine internazionale liberale è finito? Washington si porta avanti col lavoro,

https://www.ilfoglio.it/esteri/2019/07/09/news/lordine-internazionale-liberale-e-finito-washington-si-porta-avanti-col-lavoro-264441/

[3] M. Respinti, Riformare i diritti umani, https://alleanzacattolica.org/riformare-diritti-umani/

[4] https://www.state.gov/wp-content/uploads/2020/07/Draft-Report-of-the-Commission-on-Unalienable-Rights.pdf

[5] Sarebbe interessante riflettere sul giusnaturalismo della Seconda Scolastica spagnola, se sia in continuità con il giusnaturalismo classico-cristiano o piuttosto non sia a monte del giusnaturalismo razionalista moderno. O in ogni caso riflettere sui nessi tra giusnaturalismo medievale, giusnaturalismo barocco ispanico e giusnaturalismo moderno.

[6] Così più che alla scuola originalista è interessante guardare a quei giovani giuristi statunitensi che iniziano a porre il problema del fondamento etico e metafisico del diritto, tra tutti il professor Adrian Vermeule della Harvard University (cfr. J. Culbreath, In Defense of ‘Common Good Constitutionalism’ https://www.crisismagazine.com/2020/in-defense-of-common-good-constitutionalism).

 

Fonte: https://www.vanthuanobservatory.org/ita/la-commissione-glendon-sui-veri-diritti-umani-una-svolta-da-sostenere-il-dibattito-dellosservatorio/

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Reflexão: A conversão de Nicodemos desmente a teologia de moda

O episódio do diálogo de Nicodemos com Jesus apresentado no evangelho de João demonstra como a conversão consiste em transformar a ciência e o conhecimento do homem em sabedoria. Lição decisiva para hoje quando ao contrário parece que se queira fazer com que os católicos façam o percurso inverso

Ettore Gotti Tedeschi

A história da conversão de Nicodemos que encontramos no Evangelho de São João é um modelo extraordinário que ilustra em modo exemplar o problema chave da conversão, exatamente nestes tempos em que somos ricos de ciência e conhecimento, mas pobres de sabedoria, portanto imaturos para enfrentar os grandes desafios desta civilização tecnológica (como escreveu São João Paulo II em Sollecitudo Rei Socialis).

A história evangélica de Nicodemos ilustra exatamente a conversão da ciência e conhecimento em sabedoria quando, pelo contrário, nestes últimos tempos pareceria ser ao invés proposto ao católico de converter a própria sabedoria em ciência e conhecimento.

É importante evidenciar este risco por duas razões. A primeira é que é a sabedoria a dar sentido ao conhecimento e à ciência, permitindo compreender a criação, o papel da criatura na criação, a ordem natural e as suas leis, com os olhos de Deus (obviamente segundo o nosso estado de criaturas) e de participar da Sua sabedoria. Portanto, compreender a verdadeira necessária relação homem-ambiente, tema hoje muito imponente.

A segunda razão está no Gênesis, em risco de revisão com a finalidade de re-explicar o projeto divino da Criação. O que é significado por Deus ter criado o homem e a mulher (macho e fêmea), tê-los convidado a multiplicar-se, e (sobretudo) a dominar a terra. Os neo-teólogos estão muito preocupados com a interpretação do subjugar a terra, porque segundo eles convida a desfrutar dela selvagem e avidamente. Portanto, na expectativa de acontecer uma releitura bíblica, é bom recordar que no Gênesis a famosa promessa da serpente aos nossos progenitores foi de poder ter conhecimento, mas sem sabedoria.

Esta distinção chave é escrita entrelinhas no Evangelho de João onde se narra a conversão de Nicodemos (João 3, 1-36). Nicodemos era um intelectual, membro do Sinédrio, provavelmente um doutor da lei. Jesus, de fato, o chama mestre em Israel. Mas, Nicodemos ostentando o seu conhecimento, coloca Jesus em condição de provocá-lo, fazendo-o entender o quanto fosse distante o seu conhecimento da verdadeira sabedoria, porque não obstante os seus estudos, Nicodemos era manifestamente ignorante das coisas de Deus.

Jesus lhe diz de fato: És mestre em Israel e não sabes destas coisas?. No magistral colóquio apresentado por João, Jesus explica a Nicodemos, que o tinha interrogado, que se não se renasce do alto não se pode ver o reino de Deus (sabedoria). Nicodemos não entende o significado de renascer. Jesus o explica e o convence com aquele maravilhoso texto do Evangelho: Deus tanto amou o mundo... (Jo 3, 12-21).

Santo Tomás de Aquino a propósito observa que Jesus reprovou assim Nicodemos porque continuava a colocar confiança no seu saber, na sua ciência e conhecimento. Jesus quer por isso mortificá-lo e humilhá-lo, para transformá-lo em morada do Espírito Santo. Assim Jesus eleva a ciência e o conhecimento de Nicodemos a sabedoria, tornando-o consciente que a realidade divina supera sempre a limitada inteligência humana.

A conversão de Nicodemos é exemplar no mundo de hoje impregnado de cultura niquilista, graças à qual os homens destes tempos não sabem mais distinguir entre causas e efeitos, entre fins e meios e não sabem mais dar um sentido ao uso dos instrumentos sofisticados que criaram, deixando-os assumir autonomia moral (como explica Bento XVI em Caritas in Veritate).

Nicodemos converte o seu conhecimento em sabedoria e encontra a luz verdadeira. Hoje a neo-doutrina teológica, talvez temerosa de não aparecer suficientemente realística, parece querer propor de converter a sabedoria em conhecimento. Com efeitos que se pode intuir.

Fonte: https://lanuovabq.it/it/la-conversione-di-nicodemo-smentisce-la-teologia-di-moda