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terça-feira, 27 de março de 2018

Hawking, o astrofísico sem Nobel, que errou em filosofia





O astrofísico Stephen W. Hawking se perguntou em uma circunstância, se fosse mais famoso pela sua cadeira de rodas ou pelas descobertas (que, por mais notáveis que sejam, não lhe deram jamais o prêmio Nobel, demonstrando como a fama midiática não seja sempre respeitosa da realidade das coisas).


Talvez agora, lendo os jornais que o celebraram, sorrirá em ver que a maior parte daqueles que o recordaram compreenderam pouco de ambos. 

Também por “culpa” de Hawking, é preciso dizer.

 Porque este grande físico inglês trouxe o seu mal, como é natural, em modo diferente no tempo, e porque várias vezes mudou suas ideias filosóficas.

Um dia disse que a vida tinha se tornada tediosa, e tinha retornado a sorrir para ele somente depois de ter sabido da sua doença, ou seja, quando se tinha dado conta de que podia perdê-la. Em outras circunstâncias deixou entender que teria podido recorrer à eutanásia, mas não somente não fez jamais, mas também agradeceu à mulher que, em 1985, disse o seu não decidido aos médicos que consideravam dever praticá-la. 

Como está um homem com a sua dor? Quais interrogações se faz sobre o sentido da vida?
É fácil de imaginar: tantíssimas.

Ainda mais, talvez, se tem a seu lado uma esposa católica que lhe fala de Deus, e se, como ocupação, cuida de estudar, muito além dos buracos negros, o Big bang.

Sim, estudar o Big bang significa ir aos primeiros instantes do Universo, para perguntar-se se ele tenha nascido ou não; e, se nasceu, de Quem.

Hawking tinha clareza: mesmo se no seu best seller, Uma breve historia do tempo: do big bang aos buracos negros não o cita jamais, sabia bem que a teoria do Big bang deve a sua existência a um sacerdote católico, George Eduard Lemaitre que no distante 1931 tinha agitado um ninho de vespas, relançando com a sua hipótese o debate sobre Deus: se o Universo nasceu, por quê? De quem? Com qual finalidade?

Por isso nos livros de Hawking retorna sempre a pergunta: “Por que o universo existe? Por que nós existimos?”.

É preciso recordar que em 1970, junto a Roger Penrose, um cientista não inferior a ele, mesmo se menos conhecido do grande público, Hawking tinha proposto o “teorema da singularidade”, por ele comentado com estas palavras: “Nós mostramos que [...] qualquer modelo razoável de universo deveria iniciar com uma singularidade. Isso significava que a ciência podia predizer que o universo devia ter tido um início, mas que não podia predizer como o universo pôde começar, porque tal papel era competência de Deus”. (S.Hawking, in Buracos negros).

Em outras palavras, o teorema reforçava a ideia de muitos: o universo nasceu, portanto não é eterno nem autossuficiente, mas requer um Criador, o qual somente, nas sua Onipotência, conhece profundamente a natureza do próprio universo. Sim, porque a singularidade representa uma situação para nós incognoscível, uma condição do cosmo impenetrável pela mente humana, porque nela não se aplicam as leis da natureza por nós conhecidas.

O universo tem, portanto, necessidade de um Criador e o homem é incapaz de compreender tudo?

As coisas pareceriam estar exatamente assim, e por isso Hawking permanece, por muito tempo, com dúvidas: no seu best seller citado, um Criador parece às vezes inegável, às vezes inútil.

Não devemos esquecer que Hawking ocupou a cátedra que tinha sido de Isaac Newton, convencidíssimo da necessidade, para o universo, de um Criador. Hawking não pode evitar se confrontar, bem como com suas interrogações existenciais, com os seus grandes inspiradores: o devoto protestante Newton e o devoto católico Lemaitre. A tudo isso se acrescente, o podemos intuir, uma interrogação pessoal inquietante: por que, a minha dor? Qual sentido, na minha vida?

A conclusão do livro Do Big bang aos buracos negros é celebérrima; Hawking se pergunta se conseguiremos encontrar uma “teoria completa” que nos ajude a resolver o problema “do porque e o universo existimos”. E conclui: “Se conseguirmos encontrar a resposta definitiva a esta interrogação, decretaríamos o triunfo definitivo da razão humana: já que então conheceremos a mente de Deus”. Notemos o “se”: Hawking não sabe, propõe somente uma hipótese ousada.

Aprofundou depois: tendo negado o seu próprio teorema da singularidade, que abre demais espaço para Deus, Hawking avança em uma hipótese que possa permitir-lhe de livrar-se de Deus.

Em 2010, no seu O grande projeto, propõe um universo sem início. Trata-se de uma hipótese pouco fundada, mas, como ele diz, prometedora, tanto que na mesma página Hawking escreve: “não temos uma resposta definitiva, mas hoje dispomos de uma candidata à teoria última de tudo: a teoria M. Se confirmada, será... o grande triunfo da razão humana. Quanto a um alegado Criador  do grande desígnio (palavra usada por Newton exatamente para indicar o universo como obra de um grande Pintor, ndr), a ciência demonstra que o universo pode criar-se do nada sobre a base das leis da física. Não é necessário apelar para Deus para que ligue o fusível e coloque em movimento o processo”.

O conceito, como se vê, não e totalmente lógico: se fala de hipótese, algo a ser confirmado, mas depois se dá por certo que Deus não seja mais necessário.

As duas teses contidas nestas palavras (Deus não serve; o homem compreenderá todas as coisas) fazem surgir logo reações: o prêmio Nobel para a Física de 2006, exatamente pelos estudos sobre o Big bang, George Smoot, logo escreveu, no seu Wrinkles in time, exatamente o contrário; o amigo Roger Penrose nota que a M-teoria “não é nem sequer uma teoria, não é ciência, mas um conjunto de esperanças, ideias, aspirações”. Outros, físicos, astrofísicos e filósofos, fazem notar a Hawking que se esqueceu de explicar a coisa fundamental: de onde derivam as “leis da física” que ele mesmo põe como condição necessária para a existência do universo?

O astrofísico Piero Benvenuti, secretário geral da União Astronômica mundial, em uma entrevista concedida ao escritor e contida em Os cientistas diante do mistério do cosmo e do homem, pequenos diálogos sobre grandes temas  (http://www.lavocedeltrentino.it/2018/01/25/gli-scienziati-davanti-al-mistero-del-cosmo-e-delluomo-piccoli-dialoghi-su-grandi-temi-il-nuovo-libro-di-francesco-agnoli/), declara: “Mas, Hawking é um grande cientista, não a altura dos gigantes, como se poderia crer pela mídia, mas um grande. Ainda assim, no seu último livro, O grande projeto, ele ou quem o escreveu para ele, diz enormes bobagens filosóficas. Não conseguiríamos jamais chegar a uma teoria do tudo... nós conhecemos somente 4 ou cinco por cento do que existe... existem a “energia escura” e a “matéria escura” que chamamos assim porque na verdade não sabemos o que sejam... Neste próximos 20 anos o que pode vir à tona? É recentíssima a descoberta das ondas gravitacionais, que nos trarão outros elementos. A ciência é uma aventura contínua felizmente...”. 

O físico italiano Franco Saporetti, no seu Big bang: quem ligou o fusível?, depois de ter provado a insustentabilidade de um conhecimento humano absoluto (bastaria o princípio de indeterminação ou as teorias do caos para provar a existência de realidades para o homem intrinsecamente incognoscíveis), recorda um fato importante: depois do livro de 2010, Hawking mesmo renegou a sua hipótese de que seja possível para o homem conhecer verdadeiramente “a mente de Deus”.

Em uma conferência intitulada Gödel e o fim do universo, de fato, Hawking afirmou: “Eu mudei de ideia... o teorema de Gödel assegura que existirá sempre trabalho para os matemáticos”, e que não chegaremos jamais a escrever o livro definitivo de matemática, física etc...

E então, por que os jornais continuam a apresentar Hawking como o que sustenta, sempre e de qualquer maneira, a teoria do Tudo?

Talvez porque para alguém, como no século XIX, agrada ainda pensar que a mente humana poderá um dia resolver todo mistério?

Mas, que isto não acontecerá jamais não somente é demonstrado pelos teoremas de incompletude de Kurt Gödel; não somente foi sustentado com argumentos muito fortes, somente no século XX, por Albert Einstein, Werner Heisenberg e Max Planck, os máximos físicos do século, mas é evidente pelo fato que os limites da ciência é o próprio homem, como notava o pai da bioquímica Erwin Chargaff.
São a curiosidade e a sede insaciável de conhecimento de Hawking, como também a sua doença e a sua morte, a nos revelar a nossa grandeza e a nossa pequenez de homens.

Concluo com dois pensamentos de autoridade. O primeiro, formulado em 1930, é de Max Planck, pai da física quântica, prêmio Nobel para a Física, acreditava em Deus: “Diante de Deus todos os homens, também os mais perfeitos e os mais geniais... são criaturas primitivas... e seria temerário e absurdo tentar imitar os olhos divinos e de repensar completamente os pensamentos da mente divina. O intelecto comum do homem não saberia compreender de Deus os profundíssimos pensamentos nem mesmo se lhes fossem comunicados” (M. Planck, O conhecimento do mundo físico).

O segundo, de 2017, é de Carlo Rovelli, físico contemporâneo, ateu: “A natureza do tempo permanece o mistério talvez mais profundo. Estranhos fios os ligam aos outros grandes mistérios abertos: a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida” (C. Rovelli, A’ordem do tempo).


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