Zlatko Dalic foi um coroinha
na igreja perto de casa quando mostrar a fé católica era motivo de perseguição.
Já adulto, participou da guerra e é convencido de que a cruz deve ser portada
“com força” e que “Deus está presente quotidianamente na minha vida”. Assim o
treinador mantém a mão direita no bolço para segurar o rosário abençoado em
Medjugorje e com a esquerda dá indicações aos jogadores.
Na vida nem sempre os males veem
para prejudicar. Para a seleção croata de futebol, que na tarde de quarta em
Moscou jogará contra a Inglaterra para decidir se vai para a final do
Campeonato Mundial que acontece na Rússia, este “mal” se materializava no 6 de
outubro passado aos 91º minutos da partida contra a Finlândia, penúltimo no
ranking do grupo, quando o finlandês Soiri igualava o gol da vantagem de Mandzukic.
Desta maneira a Croácia perdia o primeiro lugar do ranking, aquele que
qualificava diretamente para a copa do mundo, para a vantagem da Islândia, e
alcançava o segundo lugar na classificação que era da Ucrânia, como risco muito
concreto de perder também o segundo lugar necessário para disputar a rodada de
play-off que permitia um lugar adicional para a copa do mundo.
Com uma seleção em evidente
crise técnica e de jogo, abalada pelas perdurantes e violentíssimas polêmicas
do Hajduk de Spalato e da sua torcida contra a Federação de Futebol croata,
acusada de favorecer a Dínamo de Zagabria e de ser submetido ao mandatário
desta última, Zdravko Mamic, ao presidente da Federação Croata de futebol, Davor
Šuker, não permanecia senão o clássico método para agitar a seleção, ou seja,
demitir o treinador, Ante Čačic, e esperar que na Ucrânia, dali a três dias, a
seleção arrancasse pelo menos o empate necessário para chegar ao play-off.
Sem saber, Šuker extraía do
cilindro a solução para resolver a crise da seleção, escolhendo como novo
técnico provisório o semidesconhecido Zlatko Dalic, que nos últimos anos tinha
treinado com discreto sucesso times de futebol na península arábica. Por uma
parte, tendo Dalic jogado na carreira em algumas vezes no Hajduk, Šuker
liquidava as polêmicas provenientes de Spalato, e encontrava um técnico capaz
de reerguer a moral e de dar novamente unidade e consciência nos próprios meios
a um time cheio de talentos futebolísticos, mas com a moral muito baixa.
Enquanto a Federação procurava
loucamente um “verdadeiro” técnico – entre os outros vinha contactado
também Carlo Ancelotti - Dalic, contratado para arrancar pelo menos o empate na
Ucrânia, conseguia o milagre e a Croácia vencia a Ucrânia de Andriy Shevchenko
por 2x0 com um segundo tempo de dominação absoluta. O entusiasmo popular
obrigava Šuker a confirmar Dalic também para o play-off com a Grécia, e graças
à qualificação obtida da vitória de 4x1 em casa e ao 0x0 em transferência, com
duas provas muito convincentes do ponto de vista do jogo e do caráter, Dalic
recebia a merecida confirmação do papel de comissário técnico que teria guiado
a Croácia à copa do mundo.
Nascido em Livno, na Bósnia,
em 26 de outubro de 1966, Dalic foi um jogador de nível médio, e vestiu as
camisas do Hajduk de Spalato, do Cibalija de Vinkovci, do Buducnost de
Podgorica, em Montenegro, do Velež de Mostar e do Varteks de Varaždin. Enquanto
jogava pelo Velež explodiu a guerra na Bósnia, e foi alistado pelo HVO, o
exército croata da Bósnia-Erzegovina. Sendo nativo de Livno, foi agregado à
defesa daquela cidade dos ataques dos sérvios da Bósnia guiados pelo general Ratko
Mladic – Livno, situada na Bósnia centro-ocidental não distante da fronteira
com a Croácia, era estrategicamente importantíssima porque dali os sérvios
poderiam atacar e bombardear sem problemas Spalato e o interior da Dalmácia.
Dalic não teve função de
combatente, mas de suporte logístico, guiando o caminhão que levava
mantimentos para as tropas empenhadas na linha de frente. Três meses depois,
Dalic foi dispensado por ter sido chamado pelo Hajduk para treinar com a
seleção spalatina. Não foi registrado por esta sociedade, onde tinha já jogado
na juventude, e si transferiu para o Varteks de Varaždin, onde terminou a
carreira como jogador e sucessivamente iniciou a de técnico e de dirigente. Com
a sua guia técnica, em 2005 o Varteks chegou ao terceiro lugar no campeonato
croata. Depois de ter treinado, em seguida, o Rijeka de Fiume, a Dinamo Tirana,
o Slaven Belupo, time de Koprivnica, na Croácia, se transferiu para a península
arábica até a chamada de Šuker para guiar por uma partida a seleção croata,
permanecendo no papel de Comissário Técnico pelo entusiasmo do povo graças aos
resultados obtidos.
Zlatko Dalic è católico
praticante, e nele encontra expressão a forte fé de um povo, o croata da
Bósnia, provados há séculos por perseguições, e que os trágicos eventos da
guerra dos anos noventa do século passado não somente não prejudicou, mas
reforçou esta fé. Desde pequeno ele foi coroinha na igreja franciscana próxima
de casa em Livno, em tempos, os do comunismo, nos quais mostrar publicamente a
fé católica era frequentemente motivo de perseguição, seja na escola que no
trabalho. Com um credo provado no caldeirão de um ambiente hostil e depois da
guerra, não causam surpresa a profundidade e a fé com os quais Dalic olha para
as coisas da vida e a humildade que pratica e recomenda frequentemente aos seus
jogadores.
Cada um de nós, disse Dalic em
entrevista a Glas Koncila, jornal
não oficial da Arquidiocese de Zagabria, em um modo ou noutro
porta a sua cruz. Aparecem momentos difíceis, e o homem não deve render-se,
deixar-se afundar, cair. Todavia, “somente com a fé o homem pode retornar em
modo mais qualitativo pela estrada justa. É necessário portar a cruz no modo
mais digno possível, portá-la com fortaleza e força. Nas situações que parecem
sem saída, se encontra uma solução, todavia é necessário crer”.
O treinador croata confessa que
esteve desorientado, no passado, por trás de coisas pouco importantes. Agora,
diz, “compreendo que o homem deve consagrar-se à família e não somente correr
atrás do trabalho e do dinheiro”. Ele afirma que “Deus está presente
quotidianamente na minha família e na minha vida,... e por tudo isso que fez na
minha vida posso agradecer a fé e o bom Deus”. Quando é enquadrado pelas tele
câmeras, Dalic assume às vezes uma pose um pouco estranha, tem a mão direita no
bolço e com a mão esquerda dá indicações aos seus jogadores. O próprio treinador
croata fornece a explicação deste fato: “O rosário está sempre comigo, e quando
me sinto um pouco agitado, coloco a mão no bolço, seguro o rosário, e tudo se
torna mais simples”.
Do discurso geral que Dalic
faz a propósito da sua fé, compreendemos como aquele rosário que disse de
ter sempre consigo, abençoado em Medjugorje (lugar aonde vai para rezar e aonde
foi antes de partir para a Rússia), não seja para ele um tipo de amuleto usado
com superstição, nem se trata, neste caso, de uma oração para vencer a partida.
O segurá-lo na mão é ao invés o sinal concreto com o qual ele, pela intercessão
de Maria, se confia com fé ao Senhor em cada momento da sua vida, também
profissional, para fazer-se guiar e encontrar a paz interior nos momentos de
maior agitação.
A lição que vem de Dalic é que
as partidas podem ser vencidas e podem ser perdidas; todavia, a verdadeira
vitória é aquela de admitir a nossa pequenez e confiar em Deus, que com amor de
Pai, nos guia em cada momento e através das circunstâncias da vida que cada um
de nós deve enfrentar, durante o caminho que um dia, se o veremos, nos portará
à salvação eterna.
Fonte:
http://www.lanuovabq.it/it/dalic-il-ct-croato-che-stringe-il-rosario-in-campo
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