Pesquisar no blog

terça-feira, 10 de julho de 2018

Fechamento das lojas aos domingos: a Doutrina Social da Igreja diz que sim.



O ministro do trabalho do governo italiano, Luigi Di Maio, colocou novamente a proposta do fechamento dos estabelecimentos comerciais no dia de domingo, entendendo assim abolir a normativa de completa liberalização atuada dos precedentes governos. A proposta é objeto de discussão e tanto os partidos como os sujeitos sociais estão tomando posição. De nossa parte, desejamos que a proposta se torne logo realidade e que encontre apoio na sociedade e na política. A ideia é amplamente compartilhável e marcaria uma interessante mudança das políticas do trabalho, para ser vista nas suas mais amplas relações com a família e com as exigências não somente materiais da pessoa.

Recordo que já a Rerum novarum de Leão XIII, no distante 1891, pedia expressamente que a legislação sobre o trabalho previsse o repouso dominical para que o trabalhador pudesse restaurar os membros do cansaço e cuidar de compromissos religiosos do dia de festa. Deste modo, ele queria mostrar o recíproco benefício que uma fazia a outra, a dimensão social e a dimensão espiritual. O trabalho é uma dimensão muito importante para a vida do homem, para a sua família e para a sociedade inteira – João Paulo II chegou a dizer que era a chave para toda a questão social – mas exatamente porque tal isso deve ser colocado dentro de uma dimensão plenamente humana. A motivação religiosa para pedir o repouso dominical confirmava e dava ulterior força à motivação humana, familiar e social. A secularização aos poucos reduziu a motivação religiosa, mas é preciso reconhecer que com isto reduziu também aquela humana e puramente social.

São duas as dimensões da vida social que o repouso dominical estendido para a maior parte da população sem dúvida valoriza. A primeira é a dimensão das relações familiares. Muitos trabalhadores do comércio são obrigados a fazer turnos de trabalho também nos domingos, impedindo à família de encontrar-se junta. Em alguns casos os genitores trabalham por turnos durante a semana e os momentos de convivência em família de ambos são raros.

Mesmo se os trabalhadores não fizessem turnos de trabalho aos domingos, ainda assim a abertura generalizada das lojas e dos grandes centros comerciais não dá a sensação social da pausa, da suspensão das usuais atividades de produção e de compras para existir o espaço para fazer outra coisa. Não se trata de demonizar nem a produção nem as compras com fáceis acusações, muitas vezes bastante ideológicas e retóricas, de consumismo. Trata-se muito mais de assinalar a necessidade de um momento de salutar descontinuidade na repetição de práxis e de ritos econômicos e sociais, a abertura de janelas de vida para desfrutar de outros aspectos da própria vida.

A segunda dimensão é aquela religiosa. Não se trata somente de ter a possibilidade de participar da santa Missa dominical que os turnos de trabalho podem tornar mais difíceis, mas de predispor o espaço espiritual para que os corações possam olhar para o alto. Uma jornada de gratuidade, de louvor, de festa, de dom: todos os sentimentos que abrem à dimensão religiosa. Parar e saber desfrutar o gratuito é já uma abertura ao transcendente. Existe um dever de “procurar” Deus e João Paulo II, na sua encíclica Centesimus annus (1991), via no pedido de Leão XIII a cem anos antes um primeiro elemento do direito à liberdade religiosa. Também sobre isto se fundava e se funda o direito ao repouso dominical.

Para os católicos, o domingo é o dia do Senhor. Em mais ocasiões os bispos italianos deram ensinamentos  pastorais de grande valor sobre este tema. Desejaria recordar aqui a Nota pastoral “O dia do Senhor” de 1984, ou também a Nota pastoral “O rosto missionário das paróquias em um mundo que muda” de 2004. Por diversos anos foi promovida na Igreja italiana a campanha “Sem o domingo não podemos viver”. Não se trata de evasão, mas de recuperação de energias vitais para todos.

Na sociedade pluralista de hoje, o repouso dominical poderia parecer uma discriminação para com outras jornadas de repouso ligadas a outras tradições religiosas que não seja a cristã. Estendendo este princípio até ao extremo, cada dia da semana poderia ser considerado por alguém digno de repouso semanal em virtude da sua visão de vida e caráter mais ou menos religioso. Consideramos, porém, que esta concepção relativista do repouso dominical esvazia o sentido deste, que deve permanecer comunitário e não parcializado nos vários individualismos. Se assim fosse isto seria o repropor da lógica do grande centro comercial, que cada um frequenta sozinho para apropriar-se de algum bem ou serviço importante para ele. O repouso no dia de domingo é côngruo com a religião cristã que animou e anima a nossa civilização de elementos de verdade e de bem, portanto, merece que seja primariamente e publicamente considerado.


+ Giampaolo Crepaldi
Bispo de Trieste
Presidente do Osservatorio Cardinale van Thuân

Fonte:
http://www.vanthuanobservatory.org/ita/chiusura-dei-negozi-alla-domenica-la-dottrina-sociale-della-chiesa-dice-si/

Nenhum comentário:

Postar um comentário