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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A fé, um recurso precioso também para o psicoterapeuta



No recente ensaio Religião, espiritualidade e sentido da vida o psicoterapeuta Domenico Bellantoni indaga sobre a experiência religiosa não somente de um ponto de vista fenomenológico, mas também clínico, sobre as pegadas do psiquiatra e filósofo austríaco Viktor Frankl, evidenciando a importância da fé como recurso precioso a recorrer na prática terapêutica para a maturação humana do paciente.


“No início, a relação entre psicologia e religião é caracterizada por uma recíproca desconfiança que, provavelmente encontra as suas origens nas hipóteses de Freud, o pai da psicologia moderna, que considerou a religião como uma experiência neurótica, no máximo uma ilusão, que tinha o papel de apaziguar a angústia existencial do homem”.  Em vez disso, os seus sucessores tiveram outra visão, decididamente mais propensos a valorizar a contribuição positiva da religião na maturação humana. Da mesma maneira o psicólogo e psicoterapeuta Domenico Bellantoni, professor convidado de psicologia da religião na Universidade Salesiana de Roma, desenvolve a própria investigação fenomenológica com uma orientação analítico-existencial linha de reflexão do psiquiatra e filósofo vienense Viktor Frankl (1905-1997) e de suas aplicações clinicas e educativas.

Assim, ao considerar a relação existente entre psicologia e experiência religisosa – no seu recente volume Religione, spiritualità e senso della vita (Franco Angeli 2019, pp. 274) - Bellantoni se detém na dimensão transcendente como fator de promoção do humano, evidenciando como a fé pode constituir um recurso precioso fundamental também no trabalho terapêutico. Se de um lado certamente “a imaturidade da religião neurótica” encontrada por Freud em alguns dos seus pacientes “não pode ser estendida a toda a fenomenologia do fato religioso”, por outro, porém, é necessário interrogar-se sobre qual o papel possa ter a fé em uma sociedade relativista e niilista, ainda mais se consideramos que o “niilista diz a si mesmo que não é de fato necessário ter o controle da própria vida, dominar o destino, porque a vida no fundo não possui nenhum sentido”  (Frankl).

Hoje assistimos de fato, impotentes, a um desenfreado reducionismo antropológico que reduz o homem a uma dimensão, seja ela biológica, psicológica ou sociológica; mas sempre exclusivamente horizontal, que nega a transcendência e com ela a verdade de Cristo Ressuscitado: e por isso existe quem se dobre ao fatalismo, ou seja, se deixa determinar pelos eventos e pelas circunstâncias que lhe acontecem; quem prefere um conformismo inclinado ao “politicamente correto”; quem é racionalista e confia no progresso constante da tecnologia; quem é cientista, e por isso coloca toda a sua confiança em uma ciência privada de limites, a qual “lhe rouba o último resíduo daquele sentimento de significância que pode ainda ter lhe permanecido, para falar como o psiquiatra vienense.

Pelo contrário, para Frankl, o homem é um “descobridor de significados que existem independentemente dele” e se auto-realiza, ou seja, pode transcender a si mesmo somente “orientando-se para algo fora de si, como um valor, uma missão, uma pessoa a amar”. Se o segredo de uma vida feliz consiste na capacidade de transcender a si mesmo amando, então é necessário antes de tudo evitar o risco de procurá-lo “na emoção, em um tipo de ativação fisiológica que contribuiria a “sentir-se vivo””. A finalidade da vida não pode evidentemente coincidir com m imperativo atualmente imperante, sobretudo entre os mais jovens como “Aproveite o mais possível!”, porque favorecer isso é somente uma ilusão e um triste engano. De fato, “quanto mais se procura aproveitar o prazer, tanto menos se pode obtê-lo. Isto é devido ao fato de que o prazer não é jamais a finalidade dos esforços humanos, mas é, e deve permanecer, um efeito, o efeito colateral da finalidade alcançada”, afirma ainda Frankl.

Relativamente à relação entre psicologia e religião, mesmo nas suas diferenças – sendo a primeira interessada no bem estar da psique, enquanto a segunda atinge toda a pessoa e tem como fim a salvação eterna da alma – constituem ambas “um fator importante de resiliência e de crescimento pós-traumático”. Isso é confirmado por um “recentíssimo estudo, conduzido em uma população de sujeitos anciãos, que evidenciou como a prática religiosa esteja relacionada a um mais alto nível de resiliência no enfrentamento de dificuldades, adversidades e até mesmo eventos traumáticos, menor depressão e também melhores capacidades de reintegração em referência a experiências traumáticas”, na medida em que “remetem a uma experiência profunda, a fé representa algo de unificante e harmonizador da inteira existência, que exatamente de tal atitude adquire sentido, entendido como orientação de vida e significado, como valor dado a ela e, aos vários acontecimentos”. Crer em Deus no significado autentico comporta na realidade “o ser fiel a Deus e coerente com o sentido ‘descoberto’ como verdadeiro, bom e  justo  para a própria existência nas contínuas respostas aos apelos da vida, nos seus inúmeros acontecimentos”. 

Mas como acolher e sustentar o sentido religioso do paciente durante o setting terapêutico, na exigência de ter distintas a função do psicoterapeuta e a missão do sacerdote? Antes de tudo, é preciso considerar que “a religião não é jamais uma apólice de seguro para uma vida tranquila, para uma liberdade dos conflitos, para um objetivo psico-higiênico. A religião dá ao homem muito mais que a psicoterapia, e ao mesmo tempo lhe pede também muito mais”. A sustentar isso está ainda Frankl, o psicoterapeuta vienense que pelas suas origens hebraicas viveu também a prisão em quatro campos de extermínio. Seguindo sua linha Bellantoni mostra, retomando alguns trechos de colóquios acontecidos durante o trabalho terapêutico, como se possa explorar proficuamente sobre a coerência do paciente em relação às exigências próprias da fé que confessa professar. Nesta perspectiva analítica também as narrações dos sonhos pode ser um elemento revelador significativo da maturidade da conduta religiosa do paciente, na medida em que é expressão da sua capacidade “de viver na continuidade e na recíproca implicação a experiência quotidiana e a experiência transcendente”.

A leitura do volume de Bellantoni, que dedica um capítulo também ao papel do texto sacro como recurso educativo e de autoformação, pode, portanto resultar particularmente útil a todos que são comprometidos com a cura da pessoa em âmbito educativo, formativo, pastoral, acadêmico e clínico.


Fonte: http://www.lanuovabq.it/it/la-fede-una-risorsa-preziosa-anche-per-lo-psicoterapeuta

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