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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O Paradoxo Norueguês: É muito banal desmentir a ideologia de gênero

Rino Cammilleri

Há alguns anos, o produtor de documentários Harald Medlal Eia, tinha realizado para a Tv norueguesa um vídeo que desmascara e coloca na berlinda a doutrina de gênero. Na prática, quem ainda considera que masculinidade e feminilidade são somente estereótipos culturais é considerado superado pelos estudos, como também pela própria realidade.



As coisas foram muito longe. Existe um indivíduo que vive no País mais avançado do mundo e há pouco uma nova descoberta está invadindo a mídia e as escolas: a terra é plana. O indivíduo então se coloca em viagem em direção ao Oeste, para ver quando é que cairá no precipício. Ao invés, viaja muito e, no final se encontra no ponto de onde partiu. Desse modo, pensa: mas como pode, aqui nos ensinam a grande novidade da terra plana e, que a idéia de que seja redonda, como sempre se acreditou desde os tempos de Eratóstenes, nos é na realidade inculcada desde a infância; mas então como é que viajando sempre a Oeste eu acabei chegando a Leste?

Bem, uma coisa deste tipo aconteceu na Noruega, o lugar onde a paridade entre os sexos é máxima. O cômico Harald Meldal Eia, estrela televisiva local, ficou curioso quando viu as estatísticas nacionais, segundo as quais o 90% dos enfermeiros é de mulheres, enquanto 90% dos engenheiros é de homens. Segundo a ideologia de gênero as cifras deveriam ser metade-metade em cada profissão. Ao invés, exatamente onde o acesso às profissões é mais livre e cada um pode escolher a que quiser, as mulheres se dirigem para trabalhos classicamente femininos e os homens para trabalhos classicamente masculinos. Com as possibilidades, Harald confeccionou um documentário intitulado: Lavagem cerebral. O paradoxo da igualdade de gênero. Caso você possua quarenta minutos, use para ver no Youtube (ndt.: aqui está o endereço com legendas em português: https://www.youtube.com/watch?v=G0J9KZVB9FM   - Pode ser também este: https://www.youtube.com/watch?v=gwE4aPotnRE). Eu o encontrei em um artigo de Federici Cenci em Zenit.org.

Harald, com a face de Bertoldo, mas em absoluta boa fé, foi procurar esclarecer com a pesquisadora Cathrine Egeland, especialista em temas de trabalho, e com Jorgen Lorentzen do Centro de Pesquisa Interdisciplinar sobre Gênero da universidade de Oslo. Os dois responderam unânimes que os estudos sobre a diversidade biológica entre masculino e feminino são para ser considerados superados e que, na realidade, o estereótipo é inculcado nas criaturas por vias culturais. O mesmo discurso foi feito por um ex-ministro para a pari oportunidade.  Harald, perplexo, entrevista os seus filhos, duas meninas e um menino, e eles respondem que eles nasceram assim. Para testar novamente, os leva a uma loja de brinquedos e pergunta ao menino porque não lhe agrada a boneca. Ele diz que não é uma menininha. Será, pensa Harald, porém os especialistas dizem que fui eu a colocar na cabeça dele isso, mesmo se a mim não consta que tenha feito isso. 

Pelo fato que a TV paga a investigação a Harald, ele toma um avião e vai a San Francisco e depois a Cambridge, onde interroga os maiores especialistas mundiais em biologia humana. Ainda mais: lhes faz ver o vídeo das entrevistas que fez aos especialistas noruegueses de gênero. Tendo visto e escutado os vídeos, em San Francisco e em Cambridge ficam atordoados. Lhe fazem ver os estudos superados e lhe dizem que na verdade são os mais recentes e acreditados. Dos quais resulta que um recém-nascido de um dia (você leu corretamente: um dia) é atraído por brinquedos masculinos, enquanto a recém-nascida da mesma idade é atraída pela face das pessoas. Mostram-lhe meninos de nove meses livres para circular entre os brinquedos: o mesmo resultado. Harald faz maliciosamente notar aos expectadores que do Trinity College de Cambridge (para onde foi) saíram em torno de 32 prêmios Nobel. Depois, retorna para a Noruega e mostra aos especialistas de antes os resultados da sua investigação. Estes, obviamente, fazem cara feia e respondem com slogan. Ou melhor, se perguntam com irritação como pode que exista gente que insiste com a biologia, disciplina que superou considerar que exista algo que fazer com as diferenças entre homem e mulher. Harald agradece e vai embora.

Porém, vai ao ar o documentário através da TV nacional. A qual é vista em toda a Escandinávia. Disto nasceu um debate que durou meses e terminou assim: em 2011 os governos locais suspenderam os financiamentos ao Nordic Gender Institute, ponta de lança da ideologia homônima. Mas, como sabemos, os que sustentam a idéia da terra plana possuem dinheiro e apoio internacional potente. A novidade por isso será difusa nas escolas e será preso quem afirmar que a terra é redonda. Pessoalmente, me preocuparei mais pela segunda ameaça. De fato, as crianças, mesmo doutrinadas, que a terra seja esférica mais cedo ou mais tarde descobrirão sozinhas.

Fonte: https://lanuovabq.it/it/e-persino-troppo-banale-smentire-lideologia-gender

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

“É de Santa Inês que se deve aprender e, não de Greta”



Com o sangue da sua jovem vida, Santa Inês testemunhou Cristo, Filho de Deus e único Salvador do mundo. Somente no cristianismo existe um futuro para a Itália, o neopaganismo ao invés conduzirá a sua ruína certa. A homilia do cardeal Müller para a festa de Santa Inês. 


Publicamos a homilia pronunciada pelo cardeal Gerhard Müller em 21 de janeiro, festa de Santa Inês na basílica de Santa Inês em Agone, em Roma, do qual é titular.

O que nos fascina nos jovens de hoje não é somente o seu aspecto gracioso, mas também o seu rendimento esportivo e escolar e a sua abertura para o futuro. Alguns se tornam até mesmo modelos para as suas gerações. A adolescente sueca de dezesseis anos Greta Thunberg, por exemplo, se tornou um ícone do movimento ambientalista mundial. Rezemos, portanto para que a campanha midiática criada em torno a ela não acabe lhe fazendo mal. 

A adolescente romana de doze anos Inês, ao invés, não é um ídolo efêmero do seu tempo, mas um ideal permanente da fé cristã. Ela ainda hoje, 1700 anos depois de sua morte, não é esquecida. Os católicos de todo o mundo admiram esta mocinha pelo seu heroísmo e a veneram como santa. Em mérito a sua morte sofrida na fidelidade a Deus, o grande Padre da Igreja Santo Ambrósio de Milão afirmou: Eis, portanto em uma só vítima um duplo martírio, de pureza e de religião. E ela permaneceu virgem e obteve o martírio(de Virg. II, 9).

Já desde menina Inês soube distinguir claramente entre o único verdadeiro Deus e os tantos falsos ídolos cultuados pelos pagãos. O mundo foi criado para o homem, lhe serve de habitação e fonte para procurar para si o alimento. O homem existe em virtude de si mesmo e é criado naturalmente orientado para Deus, Aquele no qual somente o nosso coração encontra repouso. Aqueles que são criados segundo a imagem e semelhança de Deus vivem na consciência da sua dignidade de serem filhos e filhas de Deus. E por isso, não tememos nem as forças destrutivas da natureza, nem os caprichos do destino ou a ira dos tiranos. Não praticamos um culto da personalidade dos ricos, belos e potentes. A glória do mundo é passageira e todos os homens são mortais. Porque o salário do pecado é a morte; mas o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6,23). 

Em Roma, os primeiros cristãos tinham alcançado a liberdade da fé no único Deus, sacrificando a própria vida na luta contra uma grande potência pagã quase invencível, que encontrou expressão no culto ao imperador, na alta cultura dos eruditos e na mentalidade supersticiosa das grandes massas. Não recaindo nas velhas formas de culto dos fúteis ídolos e das suas imagens e estátuas de madeira, pedra e metal, seguiremos os exemplos deles: Não chamaremos mais nosso deus a obra de nossas mãos (Os 14,4). A idolatria não é uma excitante imersão nas culturas exóticas e nos seus ritos de fertilidade com conotações sexuais. De fato, a fé nos deuses e nos demônios e a invocação dos elementos por parte dos xamãs obscurece a verdade da salvação, e o fato que é mediante Jesus que somos libertados da escravidão das corrupções para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8,21). 

Infelizmente por causa deles, muitos homens do nosso tempo esqueceram ou deliberadamente cortaram as suas raízes cristãs. Seguindo uma religião substitutiva neopagã, iniciaram de novo a absolutizar o cosmos, o nosso planeta a evolução, o world wide web, a tecnologia. Comportam-se como se estas realidades passageiras pudessem dar ao homem a razão última e o sustento de que precisam. Na sua existência pagã se congratulam pelo suposto conhecimento científico que o homem seja somente um animal e a morte o fim de tudo. Zombam da nossa fé na imperecível dignidade do homem e consideram a ressurreição da carne uma fábula para as crianças, ignorando o fato de que já a nossa razão nos diz que a natureza não produz nada inutilmente. Ou deveríamos crer que o Criador da natureza tenha criado o homem em vão, dotando-o da perpétua busca da verdade e do inextinguível desejo de felicidade, somente para brincar com ele?

Com o sangue da sua jovem vida Santa Inês testemunhou Cristo, Filho de Deus e único Salvador do mundo. E assim ela encoraja também a nós aqui em Roma e na Europa, a professar a nossa fé católica publicamente e sem ter medo dos homens. A fé dos apóstolos Pedro e Paulo é a raiz da cultura que, de Roma e da Itália, chegou a toda a Europa, conferindo-lhe a sua identidade cristã. Somente no cristianismo existe um futuro para a Itália, o neopaganismo ao invés conduzirá a sua ruína certa. Todo possível diálogo com o ancião Scalfari é respiração perdida se o ateu, na sua confusão, retira do diálogo a conclusão que o Papa teria negado a divindade de Cristo. De fato, por qual outra razão o bispo romano é o Papa de toda a Igreja católica, se não porque confessa dia e noite, com São Pedro: Tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16,16)?

Os católicos fariam bem em colaborar com todos eles espiritualmente e moralmente a ponto de assumir-se a responsabilidade pelo futuro econômico, político, cultural e religioso da Europa. A única fonte da qual brota a água limpa para o renascimento da Cidade Eterna e de toda a Itália, é a imagem cristã do homem. É mais meritória de confiança um político que eleva um rosário em um gesto simbólico que um que abate a cruz de Cristo com um gesto concreto. 

Como o neopaganismo nega a concepção do homem como imagem de Deus, ele se revela também hostil à vida. O cristianismo ao invés nos ensina que toda vida humana é sagrada desde o momento da concepção até o último respiro. Por isso, a nossa resposta ao aborto e à eutanásia, à mudança de sexo e à destruição do matrimônio e da família, pode ser somente um categórico não! Para um cristão não valem nem as ideologias de direita nem as da esquerda; ele não se deixa seduzir pelas religiões neopagãs da natureza ou segar pelo ateísmo de tipo neoliberal e neomarxista. A um católico maduro não se deve dizer por qual motivo político democrático deve votar ou não. Quem crê em Deus conhece um só mandamento: o amor a Deus e ao próximo.

A Itália e a Europa terão um futuro somente se tiver como objetivo uma renovação cultural, moral e religiosa na fé em Jesus Cristo, Filho de Deus vivo. Através da sua ressurreição dos mortos venceu o ódio, o pecado e a morte. E no sinal da Sua Cruz se coloca também o renascimento da Itália católica. Santa Inês, intercedei a Deus pelos vossos romanos, pela Itália católica e pela Europa cristã. Amém.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Entre fé e ciência: Coronavírus, o médico cuida, mas é Deus quem cura

Riccardo Barile

Como deve reagir um cristão diante do Coronavírus? Com uma sinfonia: de uma parte o médico, que é um dom de Deus, de outra parte a cura vem do Altíssimo, ao Qual se deve rezar. Sim, mas qual? A tradição vem em socorro: formulários, bênçãos e – por que não? – uma procissão pública para implorar a cessação das epidemias. Mas hoje seria antropologicamente, politicamente, culturalmente e eclesialmente incorreto.


 A recente e suposta epidemia do Coronavirus faz novamente surgir a pergunta sobre como um cristão deva reagir diante de fenômenos do tipo. Existe um texto sapiencial do Antigo Testamento belíssimo, profundíssimo e muito prático, que, porém deve ser citado quase por inteiro e é este:


Honra o médico por seus serviços,
porque o Senhor também o criou.
Do Altíssimo, de fato, vem a cura,
e também do rei ele recebe dons (...).
O Senhor criou medicamentos da terra,
o  homem prudente não os despreza (...).
E ele deu aos homens a ciência
para que fosse glorificado nas suas maravilhas.
Com elas o médico cura e elimina a dor,
com estas o farmacêutico prepara as misturas.
Certo que nunca desaparecerão as obras do Senhor;
dele provém o bem-estar sobre a terra.
Filho, não sejas negligente na doença,
mas reza ao Senhor e ele te curará.
Afasta o erro, governa as tuas mãos,
purifica o coração de todo pecado.
Oferece o incenso e um memorial de flor de farinha
e sacrifícios suaves segundo as tuas possibilidades.
Depois, recorre também ao médico, porque o Senhor também o criou:
não esteja distante de ti, porque existe necessidade dele.
Existem casos em que o sucesso está nas mãos deles;
também eles se dirigem ao Senhor em oração
para que conceda a eles a possibilidade de dar o alívio
e cura para salvar a vida.
Quem peca contra o próprio criador
Caia nas mãos do médico(Eclo 38,1-2.4.6-15).

Tecnicamente, a conclusão poderia soar problemática, mas a Bíblia de Jerusalém diz que a tradução literal hebraica do último versículo soaria mais coerente assim: Peca diante do Criador quem se faz forte diante do médico. Além do mais, a estima pelos médicos e os remédios para os cristãos não são ofuscados pelos numerosos milagres de cura realizados por Jesus Cristo, desde o momento que o apóstolo Paulo no final da carta aos Colossenses escreve: Vos saúdam Lucas, o caríssimo médico, e Demas (Col 4,14). Portanto Lucas é o caríssimo médico e a expressão deixa entender que a sua competência seja um fato normal e apreciável.

Superadas as barreiras técnicas, a mensagem profunda está na sinfonia de dois motivos concretamente inseparáveis: por uma parte o médico é um dom de Deus, como os remédios e como a inteligência que Deus concedeu a alguns para extrair da matéria que Deus mesmo criou, e, portanto não se pode deixar de lado o recurso ao médico; por outra parte a cura vem do Altíssimo, a quem é preciso recorrer em oração, primeiro o médico e depois os enfermos, ou ainda mais, não somente com a oração, mas também com a purificação dos pecados. Existe em tudo isto um equilíbrio católicoante litteram, que não opõe nem separa a natureza da graça, mas as compõe harmoniosamente.

Assim a Bussola confiou antes de tudo a um médico - Paolo Gulisano – uma análise sobre o Coronavírus. Resta usar algumas palavras sobre a segunda e complementar reação cristã, ou seja, sobre a oração, que neste caso é sustentada por duas razões: a primeira razão é a necessidade de rezar sempre diante de uma doença ou possível epidemia; a segunda razão é mais circunstancial, ou seja como reagir diante da angústia que a mídia tende a gerar: um cristão não pode limitar-se a ter medo como os outros que não possuem esperança (1Ts 4,13), mas deve mitigar o medo com a oração.

Dito isso, a pergunta é: Sim, mas como rezar?. Se ficamos a nível pessoal ou de pequeno grupo não existem dificuldades e muitas orações são úteis para essa finalidade: o Rosário, a adoração eucarística, diversas jaculatórias etc...

Ao invés, se há o desejo de entrar na liturgia incluindo sacramentos e sacramentais – a parte a eventual dificuldade de convencer quem deve presidir a entrar nesta perspectiva -, as possibilidades não são muitas, mas existem.

Os Formulários das Missas para as diversas circunstâncias da vida social são abertos aos fenômenos naturais, por exemplo, Em tempo de terremoto / Para pedir chuva / Para pedir bom tempo / Contra as tempestades, mas não se tratam do nosso caso, por isso devemos nos contentar com um formulário Para os enfermos ou de um formulário genérico Por alguma necessidade.

É melhor a Coleção das missas marianas com o formulário 44 Maria Virgem saúde dos enfermos, no qual a oração pede de gozar sempre a saúde da alma e do corpo e, pela intercessão de Maria, salvai-nos dos males que agora nos entristecem e guiai-nos para a alegria sem fim.

O Ritual de bênçãos (ed. Italiana), além da bênção para os enfermos (pp. 117-126, nn. 226-251 e os textos seguintes para circunstâncias particulares), possui uma Bênção para saúde em uma memória da Virgem Maria ou de um santo(pp. 795-801, nn. 1923-1940).

Tudo isto, porém resta dentro da igreja o de uma capela. Mas... e se quisermos sair e com que se não com uma procissão? Devemos recordar que na antiguidade e, sobretudo na idade média e no período barroco as procissões penitenciais para ser libertados das epidemias – de peste, mas não somente – foram freqüentes e frutuosas, tanto que muitos santuários ou imagens/ícones da Virgem Maria surgiram exatamente depois das libertação de uma epidemia.

Hoje existem procissões dentro da liturgia, por exemplo, aquela das velas no dia 2 de fevereiro, a da quinta feira santa para a reposição do Santíssimo Sacramento, a da solenidade depois da preparação do círio na vigília pascal etc..., mas as procissões públicas se limitam ao padroeiro (Nossa Senhora ou um santo) e para a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. Nem o cânon 944, nem o cap. XXI do Caeremoniale Episcoporum, nem os nn. 245-247 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia, que também falam moderadamente de procissões, prevêem explicitamente uma procissão penitencial para obter de Deus a libertação de uma contaminação. E se compreende: em uma sociedade sempre mais urbanizada as procissões colocam problemas de trânsito e, portanto não é o caso de aumentar, pois no contexto atual não exprimem mais um consenso social de todos, mas somente de uma parte, uma parte que é atentíssima a não colocar a lâmpada muito exposta mas sempre mais debaixo da cama, de modo que, como dizia o Cardeal Biffi, se consegue a vantagem de que não se perceba mais nem mesmo a diferença quando a lanterna se apaga(Il quinto evangelo 10).

Ainda assim uma procissão pública para implorar a cessação de uma epidemia – por agora não digo do Coronavírus, mas de uma epidemia verdadeira e acertada e devastadora -, seria uma bela e visível esperança de salvação proposta a todos mesmo se obviamente não imposta. 

Todavia para encontrar algo do tipo é preciso ir até antes do Concílio, ou seja, ao último ritual pré-conciliar, o Rituale Romanum edição típica de 1952. O Título X se refere às procissões e são ali elencadas e 13 regulamentadas. Uma delas é a Procissão em tempo de mortalidade e de peste, portanto em circunstâncias e conteúdos próximos à nossa situação, suposto que o Coronavírus se revelasse devastador. O esquema é aquele das Litanias Maiores ou dos Santos, usadas também nas Rogações, com as invocações e orações finais que variam, adaptadas às circunstâncias. Estas últimas são três. Em particular a segunda pede que Deus cure as doenças da alma e do corpo de modo que sempre nos alegremos nas vossas bênçãos. Mas, sobretudo a terceira e última oração pede que Deus, sendo propício às orações, afaste a peste e a mortalidade de modo que os corações dos homens mortais conheçam que sob a vossa indignação estes flagelos não apareçam nem progridam, enquanto que com a vossa misericórdia desapareçam (... ut mortalium corda cognoscant, et te indignante talia flagella prodire, et te miserante cessare)». Hoje seria uma oração antropologicamente, politicamente, culturalmente, eclesialmente incorreta, contudo com o censo de Davi (cf 2Sam 24,1-25) os fatos funcionaram exatamente assim!

Com isto não se quer propor de retornar a antes do Concílio. Não existe nada a ser copiado, mas muito a que inspirar-se. Quem sabe, se o Coronavírus aumenta, nos pode inspirar para organizar uma pequena procissão no dia 11 de fevereiro, Beata Virgem de Lourdes, que de enfermos e de enfermidades ela entende.