Com o sangue da sua jovem
vida, Santa Inês testemunhou Cristo, Filho de Deus e único Salvador do mundo.
Somente no cristianismo existe um futuro para a Itália, o neopaganismo ao invés
conduzirá a sua ruína certa. A homilia do cardeal Müller para a festa de Santa
Inês.
Publicamos a homilia
pronunciada pelo cardeal Gerhard Müller em 21 de janeiro, festa de Santa Inês
na basílica de Santa Inês em Agone, em Roma, do qual é titular.
O que nos fascina nos jovens de
hoje não é somente o seu aspecto gracioso, mas também o seu rendimento
esportivo e escolar e a sua abertura para o futuro. Alguns se tornam até mesmo
modelos para as suas gerações. A adolescente sueca de dezesseis anos Greta
Thunberg, por exemplo, se tornou um ícone do movimento ambientalista mundial.
Rezemos, portanto para que a campanha midiática criada em torno a ela não acabe
lhe fazendo mal.
A adolescente romana de doze
anos Inês, ao invés, não é um “ídolo”
efêmero do seu tempo, mas um ideal
permanente da fé cristã. Ela ainda hoje, 1700 anos depois de sua morte, não é
esquecida. Os católicos de todo o mundo admiram esta mocinha pelo seu heroísmo
e a veneram como santa. Em mérito a sua morte sofrida na fidelidade a Deus, o
grande Padre da Igreja Santo Ambrósio de Milão afirmou: “Eis,
portanto em uma só vítima um duplo martírio, de pureza e de religião. E ela
permaneceu virgem e obteve o martírio” (de Virg.
II, 9).
Já desde menina Inês soube
distinguir claramente entre o único verdadeiro Deus e os tantos falsos ídolos cultuados pelos pagãos. O mundo foi criado
para o homem, lhe serve de habitação e fonte para procurar para si o alimento.
O homem existe em virtude de si mesmo e é criado naturalmente orientado para
Deus, Aquele no qual somente o nosso coração encontra repouso. Aqueles que são
criados segundo a imagem e semelhança de Deus vivem na consciência da sua
dignidade de serem filhos e filhas de Deus. E por isso, não tememos nem as
forças destrutivas da natureza, nem os caprichos do destino ou a ira dos
tiranos. Não praticamos um culto da personalidade dos ricos, belos e potentes.
A glória do mundo é passageira e todos os homens são mortais. “Porque
o salário do pecado é a morte; mas o dom de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Rm 6,23).
Em Roma, os primeiros cristãos
tinham alcançado a liberdade da fé no único Deus, sacrificando a própria vida na luta contra uma grande potência pagã quase
invencível, que encontrou expressão no culto ao imperador, na alta cultura dos
eruditos e na mentalidade supersticiosa das grandes massas. Não recaindo nas
velhas formas de culto dos fúteis ídolos e das suas imagens e estátuas de
madeira, pedra e metal, seguiremos os exemplos deles: “Não
chamaremos mais ‘nosso deus’ a
obra de nossas mãos” (Os
14,4). A idolatria não é uma excitante imersão nas culturas exóticas e nos seus
ritos de fertilidade com conotações sexuais. De fato, a fé nos deuses e nos
demônios e a invocação dos elementos por parte dos xamãs obscurece a verdade da
salvação, e o fato que é mediante Jesus que somos “libertados
da escravidão das corrupções para entrar na liberdade da glória dos filhos de
Deus” (Rm 8,21).
Infelizmente por causa deles,
muitos homens do nosso tempo esqueceram ou deliberadamente cortaram as suas raízes cristãs. Seguindo uma religião
substitutiva neopagã, iniciaram de novo a “absolutizar” o cosmos, o nosso planeta a evolução, o world wide web,
a tecnologia. Comportam-se como se estas realidades passageiras pudessem dar ao
homem a razão última e o sustento de que precisam. Na sua existência pagã se congratulam
pelo suposto “conhecimento científico”
que o homem seja somente um animal e a morte o fim de tudo. Zombam da nossa fé
na imperecível dignidade do homem e consideram a ressurreição da carne uma
fábula para as crianças, ignorando o fato de que já a nossa razão nos diz que a
natureza não produz nada inutilmente. Ou deveríamos crer que o Criador da
natureza tenha criado o homem em vão, dotando-o da perpétua busca da verdade e
do inextinguível desejo de felicidade, somente para brincar com ele?
Com o sangue da sua jovem vida
Santa Inês testemunhou Cristo, Filho
de Deus e único Salvador do mundo. E assim ela encoraja também a nós aqui em
Roma e na Europa, a professar a nossa fé católica publicamente e sem ter medo
dos homens. A fé dos apóstolos Pedro e Paulo é a raiz da cultura que, de Roma e
da Itália, chegou a toda a Europa, conferindo-lhe a sua identidade cristã.
Somente no cristianismo existe um futuro para a Itália, o neopaganismo ao invés
conduzirá a sua ruína certa. Todo possível diálogo com o ancião Scalfari é
respiração perdida se o ateu, na sua confusão, retira do diálogo a conclusão
que o Papa teria negado a divindade de Cristo. De fato, por qual outra razão o
bispo romano é o Papa de toda a Igreja católica, se não porque confessa dia e
noite, com São Pedro: “Tú és o Cristo, o Filho do Deus
vivo” (Mt 16,16)?
Os católicos fariam bem em colaborar com todos eles espiritualmente e
moralmente a ponto de assumir-se a responsabilidade pelo futuro econômico,
político, cultural e religioso da Europa. A única fonte da qual brota a água
limpa para o renascimento da Cidade Eterna e de toda a Itália, é a imagem
cristã do homem. É mais meritória de confiança um político que eleva um rosário
em um gesto simbólico que um que abate a cruz de Cristo com um gesto concreto.
Como o neopaganismo nega a concepção do homem como imagem de Deus, ele
se revela também hostil à vida. O cristianismo ao invés nos ensina que toda
vida humana é sagrada desde o momento da concepção até o último respiro. Por
isso, a nossa resposta ao aborto e à eutanásia, à mudança de sexo e à
destruição do matrimônio e da família, pode ser somente um categórico não! Para um cristão não valem nem as
ideologias de direita nem as da esquerda; ele não se deixa seduzir pelas
religiões neopagãs da natureza ou segar pelo ateísmo de tipo neoliberal e
neomarxista. A um católico maduro não se deve dizer por qual motivo político
democrático deve votar ou não. Quem crê em Deus conhece um só mandamento: o
amor a Deus e ao próximo.
A Itália e a Europa terão um futuro somente se tiver como objetivo
uma renovação cultural, moral e religiosa na fé em Jesus Cristo, Filho de Deus
vivo. Através da sua ressurreição dos mortos venceu o ódio, o pecado e a morte.
E no sinal da Sua Cruz se coloca também o renascimento da Itália católica.
Santa Inês, intercedei a Deus pelos vossos romanos, pela Itália católica e pela
Europa cristã. Amém.
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