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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

REFLEXÕES SOBRE O NOVO ANO



A “teologia do fim de ano”. Segundo Deus



A cada passagem de ano é óbvio pensar no tempo que passa. Pensamos sempre nisso, mas no primeiro dia do ano novo pensamos ainda mais. Quando o homem faz isto, coloca em ato uma filosofia da história; quando o faz o cristão, se desenvolve ali uma teologia da história, simples ou bem elaborada. A Igreja sempre pensou nesta “teologia de fim de ano”, como podemos chamá-la, com a ideia que o tempo que passa não é inútil porque existe uma teologia da história, uma visão da história não do nosso ponto de vista, mas do ponto de vista de Deus.

Este é um ponto no qual hoje o cristianismo é fraco em comparação com o passado. Não parece que ao redor existam sinais de uma teologia da história como aquela da De civitate Dei (A cidade de Deus) de Santo Agostinho. Ou circulam teologias da história que, porém, aprisionam Deus na história ao invés de abrir a história para Deus. O ponto central, no final de todos os discursos, é exatamente este.

Um exemplo ainda muito atual, não obstante a sua idade muito antiga, de uma visão deste tipo é a teologia da história de Joaquim de Fiore. Este monge beneditino sustentava que no final do XII século a era do Pai e a do Filho seriam sucedidas pela era do Espírito. Superada a “letra” do Evangelho, a forma, a estrutura, a exterioridade, a doutrina, a lei, da qual o próprio Cristo seria expressão, seria aberta a fase de uma comunidade universal animada diretamente pelo Espírito e livre de prescrições, regras e tutelas. É o sonho gnóstico de uma humanidade adulta.

A teologia de história de Joaquim animou a ação dos franciscanos “espirituais” contra os quais teve que lutar São Boaventura e, depois, inspirou todos os movimentos revolucionários e milenaristas até os nossos dias. Também hoje muitos pensam em uma Igreja somente espiritual e não institucional, somente pastoral e não doutrinal, animada pelo Espírito e não pelo Verbo, centrada na nova lei contra a lei antiga.

Estes movimentos ainda presentes e vivos, não obstante apontem para o espiritual, no final mundanizam a fé cristã. Parece que abrem a história para Deus, mas ao contrário, a fecham. Transformam o futuro em utopia concreta e tendem a realizar a salvação já nesta terra.

Depois do Concílio Vaticano II tendências deste tipo se fizeram muito presentes na Igreja católica e agora parecem literalmente se propagar. Partindo da superação da estrutura no espírito, criticam toda teologia política, acusando-a de prostituir o espírito com a letra, e pregam uma revolução que favoreça a promoção humana além de regras e confins.

Teologias da história deste tipo pensam que o tempo deva conduzir a uma superação da ordem, por qualquer coisa radicalmente nova e livre. Mas, o cristianismo não pode pensar a teologia da história assim, porque o Deus da nova lei é o mesmo da antiga lei. O Deus salvador é o mesmo Deus criador. O Espírito não age somente em vista da salvação final, mas agia e age também na criação. Por isto a salvação não é a superação da ordem da criação, mas sim uma nova criação. A lei antiga não é superada, mas elevada. Toda ordem que seja verdadeiramente tal não deve ser superada na desordem, mas purificada em uma ordem superior. Não pode existir um espírito da vida matrimonial que supere as prescrições de Cristo como se fossem próprias de uma era intermédia a ser superada. A teologia moral não deve ser refundada eliminando a lei moral natural. 

A última teologia da história digna deste nome considero que seja aquela de João Paulo II, é possível ver a síntese com a qual a expressou em “Memória e identidade” e em “Cruzando o limiar da esperança”. E é uma teologia da história contraposta àquela vista agora. Enquanto aquela via na lei um elemento a ser superado, esta considera tal presunção como um pecado de orgulho. Querer ir além da “letra” do Evangelho, da normatividade da natureza criada, da estrutura da Igreja significa pecar por soberba. O mal está presente no mundo através do pecado e a culpa não está na ordem da qual se libertar, mas na desordem que o pecado produz. O pecado original foi um ato de soberba e pensar agora que o mal presente na ordem possa ser eliminado superando a ordem, ao invés de restaurá-la como era no princípio, significa repetir o pecado original. 

O sentido teológico do tempo que passa e que percebemos no fim de ano mais que em outros momentos, consiste na esperança de passar da culpa à redenção, não porque uma presunçosa novidade faça uma varredura nas regras, estruturas e prescrições, mas porque a graça as reanima tornando-as úteis para a salvação. Uma eventual era do Espírito que nos torne espirituais sem conservarmos mais a bondade não merece atenção.

Stefano Fontana


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