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quarta-feira, 27 de junho de 2018

As crianças vindas do México, de quem é a responsabilidade


Stefano Magni

Duas mil crianças desesperadas, separadas dos seus pais imigrantes clandestinos. Paradoxalmente, são vítimas de uma sentença que os desejaria tutelar, cuja situação se procura de por um remédio. Sem esquecer quem faz correr os riscos da imigração clandestina a filhos e menores confiados, ou quem faz batalhas pro-imigração a custa da pele dos menores.


A administração Trump é acusada do pior dos crimes: torturar as crianças. As imagens de crianças, também muito pequenas, por detrás de grades, em lágrimas, separadas dos seus pais imigrantes clandestinos, estão fazendo o giro pelo mundo, provocaram protestos da oposição, da Onu e do Papa. Porém, quão muito pouco sabemos desta crise? O que realmente está em jogo?

Antes de tudo, não é nova a política da separação dos menores dos seus pais e em geral dos adultos que os acompanham, se estes últimos são imigrantes não ainda regulares e em fase de verificação. Trata-se de uma sentença, Flores contra Reno (um caso de maltrato, acontecido em um Cie, por parte de uma garota de 15 anos salvadorenha, Jenny Lisette Flores), que aconteceu em 1997, segundo a qual as crianças não podem ser detidas nos Cie, juntas aos adultos que esperam por uma sentença. A imigração Trump, até agora, não mudou as regras. As separações acontecem quando a polícia de fronteira constata que o acompanhante adulto da criança não é um seu genitor, constitui uma ameaça para a criança, ou mesmo o está envolvendo em um ato criminoso. Visto que a imigração clandestina é um crime, a criança é separada dos adultos (pais ou não) que o cometeram. Se, até agora, a guarda da fronteira e as autoridades locais fechavam os olhos e deixavam passar pelo menos um adulto junto ao menor, a administração Trump quis aplicar as regras em modo rigoroso, com uma política de tolerância zero. Quando um imigrante vai a processo por um ingresso ilegal no país, é mantido em custódia. O menor que está com ele, ao invés, é confiado a um dos centros gerenciados por Organizações não governamentais com a supervisão da agência nacional de saúde (HHS), que fornece a eles a assistência essencial. A política da tolerância zero, aplicada desde a metade de abril, aumentou o número das crianças acolhidas por estes centros em quase 2000. Caso seja possível encontrar um parente adulto no território Usa que possa assumir o menor consigo, o menor lhe é confiado. Esta é a via prioritária, segundo a sentença Flores (que tinha sido acolhida por sua tia). Mas, na maioria dos casos, o parente adulto em questão não é encontrado.

O processo que o imigrante ilegal sofre, se não existem agravantes como uma precedente tentativa de entrada ou outros crimes, dura normalmente muito pouco, dois dias no máximo. O imigrante é condenado por imigração clandestina e expulso. Os pais e os seus filhos retornam ao país de origem em pouco tempo e a separação dura pouco. O assunto se complica se o imigrante que entra clandestinamente nos Usa pede asilo político. Nesse caso o processo pode durar também meses, especialmente quando a fila dos pedidos se alonga. E é neste caso que a separação das crianças dos adultos (genitores e não) começa a se tornar um problema sério.

O problema nasce também da relativa novidade do fenômeno. Nos anos 90, a imigração do México se referia, sobretudo a homens adultos. A partir de 2010, ao invés, aumentaram os casos de tentativas de imigração de mulheres e de crianças. Em 2014, se verificou a primeira verdadeira crise deste tipo, com dezenas de milhares de crianças não acompanhadas. Já naquela ocasião, o governo federal aproveitou a hipótese de aplicar a norma em modo rigoroso. Mas a administração Obama considerou de não dever enfrentar uma crise humanitária a mais. A ideia da separação retornou com a administração Trump. O precedente ministro da Segurança Interna, o general Kelly, foi o primeiro a falar disso publicamente, provocando logo um debate aceso por causa da delicadeza do tema. Naquele ponto, fez um passo atrás. Foi Kirstjen Nielsen, atual secretária da Segurança Interna, sobre a ciência de Trump, a aplicar as regras em modo rigoroso. Uma política de tolerância zero que tinha sido amplamente anunciada, em antecipação, também pelo secretário da Justiça, Jeff Sessions. “Quem atravessa ilegalmente a fronteira portando consigo uma criança, se assuma as suas responsabilidades”, tinha advertido Sessions. A ideia de aplicar a política do rigor, segundo a administração Trump, é um impedimento para contrabandistas, traficantes e clandestinos. Mas é também um desafio para o Congresso.

Compete ao Congresso, de fato, aprovar uma nova lei sobre a imigração, incluindo a nova normativa sobre a separação das famílias. É votada hoje, sobre o desenho de lei apresentado pelo senador texano Ted Cruz (ex-candidato às primárias presidenciais republicanas). Mas os Democratas, dos bancos da oposição, fazem saber que não darão o seu apoio. A bola passará, portanto, de novo, para o executivo. E Trump ontem assinou um decreto para os pedidos familiares (no período em que se desenvolve o processo), para colocar um curativo sobre o problema. Em base à nova ordem presidencial, de agora em diante, as famílias inteiras serão detidas na espera da sentença. As famílias já separadas, porém, permanecem separadas, o decreto não é retroativo. 

Se as responsabilidades da política americana são graves, não se deve esquecer, porém aquelas de quem imigra clandestinamente ou gerencia a passagem ilegal da fronteira americana. Existem alguns aspectos, de fato, que não aparecem em comentadores mais emotivos. Primeiro: quem entra clandestinamente e é processado tem a possibilidade de dizer-se culpado e fechar o caso (também para a criança que está com ele) em menos de dois dias. Prolongar o processo por meses, com um pedido de asilo, se sabe já que não tem direito, é uma batalha legal inútil combatida a custa da pele das crianças. Os dados demonstram que somente uma minoria dos imigrantes ilegais tem o direito de asilo. Este fenômeno aumenta quando a política dos Estados Unidos lança sinais de maior tolerância ou de menor eficácia na aplicação da lei. Portanto, quer dizer que é um fenômeno de imigração econômica clandestina, mais que uma fuga de uma guerra ou de uma crise grave no país de origem: quem foge, de fato, não espera sinais políticos do país que deveria acolhê-lo. Além do mais, quem foge, poderia fazer-se hospedar no país seguro mais próximo. Quem no caso de todos os países centro-americanos, é o México, antes dos Usa. Caso o perseguido tivesse que encontrar refúgio seguro somente exclusivamente nos Estados Unidos, poderia apresentar-se regularmente a uma alfândega e ali pedir asilo, ao invés de tentar passar a fronteira ilegalmente. 

No New York Times, imigrantes clandestinos admitiram de ter levado consigo crianças acreditando que desta maneira as autoridades dos Estados Unidos os teriam deixados em um período de tempo mais rápido. Outros admitiram que as crianças, que estavam com eles, não eram os seus filhos. Segundo a polícia de fronteira estas fraudes estão aumentando.
 

Fonte:

Texto do New York Times :


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