Pesquisar no blog

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Azuaje Ayala: «Foi o socialismo que destruiu a Venezuela»



À vigília do encontro dos bispos venezuelanos com o Papa, o presidente da Conferência episcopal denuncia a gravíssima situação econômica e humanitária provocada pelo regime socialista. Graves repercussões também para a Igreja que, mesmo privada de padres e religiosos e de seus recursos, não cessa de servir ao seu povo.



Da quinta-feira, 6 de junho a sábado, 15 de setembro, os bispos venezuelanos realizam a tradicional visita Ad Limina Apostolorum, um evento de grande importância. A última vez que os bispos venezuelanos estiveram juntos no Vaticano foi em 2009 sob o pontificado de Bento XVI, agora Papa emérito. Depois de 9 anos, mais de quarenta bispos retornam portanto, mas em uma situação social e eclesial muito diferente, quando a Venezuela se encontra em uma situação de colapso geral, algo jamais acontecido na sua história.

Para compreender a realidade do povo venezuelano e o serviço da Igreja neste contexto assim difícil, La Nuova BQ falou, com exclusividade, com o presidente do episcopado, o arcebispo de Maracaibo Dom José Luis Azuaje Ayala. A atual situação da Venezuela será o argumento principal do encontro entre o episcopado e o Papa Francisco, que acontece hoje, terça 11 de setembro, às 10:30 da manhã.

Por que a Venezuela se encontra em colapso? “Tudo está em crise porque foi imposto um modelo político diferente daquele previsto pela nossa Constituição nacional. Mesmo se os governantes tenham chegado ao poder através da via eleitoral, no exercício deste distorceram o modelo político oferecido inicialmente, utilizando a pessoa como um meio para impor uma ideologia, chamada socialismo revolucionário (socialismo do século XXI). Trata-se de uma ideologia cujo interesse humano não está no centro, é um meio, um escravo, está ali e serve como um instrumento para realizar tal ideologia. É contra a dignidade humana”.

Foi este modelo político que levou a Venezuela para a mais grave crise da sua história: o sistema produtivo do País faliu e a hiperinflação gerou a migração forçada de aproximadamente 2,3 milhões de venezuelanos, segundo as estatísticas das Nações Unidas (atualizadas até o final de junho). “Desde o anúncio das recentes medidas econômicas – afirma o prelado – muitas empresas, muitas lojas fecharam as portas. A inflação está fora de controle e a aquisição de matéria prima é impossível por causa da falta de moeda estrangeira. Portanto, o mercado entrou em crise e o setor industrial perdeu a sua capacidade de funcionar”.

O arcebispo de Maracaibo descreve depois as terríveis consequências para os venezuelanos, que se deparam também com a grave falta de serviços públicos. “Em toda a Venezuela há crise energética. Aos cidadãos falta eletricidade, água potável, transporte público e também o setor de saúde está paralisado. Em Zulia, por exemplo, temos blackout constantemente e estes blackouts duram 14, 24 e 48 horas. Ainda que o Zulia tenha sido uma das regiões mais importantes do País pela presença do petróleo, mas hoje não possui mais capacidade de desenvolvimento”.

A crise atingiu também a Igreja venezuelana. “Não temos recursos, infelizmente o setor educativo e de saúde que a Igreja possui sob sua responsabilidade sofreu um colapso com o pacote econômico imposto por Maduro. Não somos contrários ao aumento de salários, somos contra uma política econômica doente, que não produz nada; também o próprio governo não tem como enfrentar o aumento do salário (de 3.600%)”, afirma.

Dom Ayala depois destaca como na Venezuela “os pobres ajudam os pobres”. Portanto, explicou que “com a reconversão monetária e o aumento do salário, sem uma estrutura econômica favorável, não existe nenhuma possibilidade de servir as pessoas como desejariam. Existem muitas limitações. Estes são problemas muito delicados e muito difíceis que devemos resolver”.

Mas, o problema não é somente econômico: o trabalho pastoral na Venezuela sofreu um grave declínio por causa do êxodo em massa dos venezuelanos, que destruiu as equipes apostólicas e pastorais. Da mesma maneira o declínio da saúde dos sacerdotes é evidente, com poucas possibilidades de encontrar remédios e um grande número de religiosos que tiveram que deixar o País, sem ter possibilidade de substituições.

“Existe um grave declínio físico e psicológico dos nossos responsáveis de pastorais”. O presidente do episcopado venezuelano explica que “muitos sacerdotes possuem graves problemas de saúde; diversas ordens religiosas tiveram que fechar as comunidades e retornar aos seus países de origem, levando como consequência ao abandono das comunidades paroquiais, porque não existem substituições em breve tempo. Existem diversas comunidades religiosas femininas, em particular colombianas e espanholas, que tiveram que deixar a Venezuela por problemas de saúde (por causa da falta de remédios) ou porque o governo não renova o visto e não têm permissão de permanecer no país. Isso implica que importantes obras de educação e de saúde e obras missionárias são abandonadas”.

Para o arcebispo de Maracaibo, a desmoralização que sofre o povo venezuelano é a consequência mais grave. “Na Venezuela se vive em um conflito permanente, que leva qualquer um à depressão: as imensas filas para abastecer o carro ou para comprar qualquer produto ferem a dignidade humana. Todavia, não podemos pensar que aquilo que acontece na Venezuela seja algo de acidental: tudo é planejado e infelizmente está dando resultados. Neste difícil panorama existe um renascimento da esfera religiosa. O venezuelano se apega a Deus através da Virgem, porque Deus não deixou a Venezuela. Deus está aqui conosco, sofrendo com aquele que sofre, agindo com aquele que age. Mas, nós venezuelanos devemos perguntar-nos se estamos felizes com esta situação e reagir segundo a resposta da nossa consciência”, conclui.
 

Fonte:


Nenhum comentário:

Postar um comentário