A inscrição impressa em um
anel de bronze com sigilo, encontrado há 50 anos durante escavações
arqueológicas no local do Herodion, a poucos quilômetros de Belém, foi
recentemente decifrada pelos estudiosos, que nele identificaram um nome
significativo: Pilatos.
A inscrição impressa em um anel
de bronze com sigilo, encontrado há 50 anos durante escavações arqueológicas no
local do Herodion, a poucos quilômetros de Belém, foi recentemente decifrada
pelos estudiosos, que nele identificaram um nome significativo: Pilatos. O anel
foi encontrado, junto a milhares de outras descobertas que remontam ao I
século, graças às escavações feitas nos anos 1968-69 pelo professor Gideon
Foerster da Universidade Hebraica de Jerusalém, realizados em vista da abertura
do Herodion aos visitantes. O Herodion é a colina sobre a qual Herodes, o
Grande, fez construir um palácio-fortaleza no final do I século a.C. que foi
depois destruído pelos Romanos por volta do ano 71 d.C.; depois da primeira
guerra judaica.
A atual equipe que trabalha no
sítio arqueológico, guiada por Roi Porath, também eles da Universidade
Hebraica, conseguiu discernir, depois de ter cuidadosamente polido o anel e
graças ao uso de uma especial foto-câmera colocada a disposição pelos
trabalhadores da Autoridade israelense para a Antiguidade, o nome grego
impresso no anel e formado pelas letras «ΠΙΛΑΤΟ», equivalente exatamente a
“Pilatos”. Os detalhes da pesquisa foram publicados em um artigo no Israel
Exploration Journal (vol. 68/2). A escrita circunda a imagem do
que parece um recipiente para vinho. Depois de decifrar o nome os pesquisadores
o relacionaram a Pôncio Pilatos do qual falam os quatro Evangelhos, onde é
mencionado como o governador da Judéia que consentiu, mesmo relutando, na
crucificação de Jesus. Um nome que nós cristãos repetimos toda vez que
pronunciamos o Credo, recordando que Nosso Senhor padeceu “sob Pôncio Pilatos”.
Além dos quatro evangelistas,
Pilatos é mencionado nos escritos dos outros autores a ele contemporâneos, ou
seja, o historiador de origem hebraica Flávio José (37-100 d.C.) e o erudito
Filón de Alexandria (20 a.C.-45 d.C.), e em um texto de Tácito (55-120 d.C.)
que se remete a 116 aproximadamente. A história o indica a nós como o quinto
governador da Judéia romana, que governou entre o 26 e o 36. Não se conhecem
outros personagens da época que tenham o seu mesmo nome, que como explicou o
professor Danny Schwartz era mais que uma raridade em Israel: “Não conheço
nenhum outro Pilatos do período e o anel mostra que era uma pessoa de status e
riqueza”, disse Schwartz, citado pelo jornal israelense Haaretz.
Para os estudiosos, além do
mais, um anel deste tipo revela o status dos membros da cavalaria romana do
tempo, da qual o mesmo Pilatos pertencia. O seu nome foi encontrado pelo professor
Foerster nos anos sessenta também sobre uma pedra do Herodion, que depois da
morte de Herodes continuou a servir como base de funcionários romanos e é,
portanto, verossímil, que também Pilatos se serviu dela como um tipo de quartel
general. Retornando ao anel com o sigilo, os pesquisadores consideram que possa
ter sido usado por Pilatos no seu trabalho quotidiano e, portanto, poderia ter
portado no dedo quando dava o seu via livre, precedido do gesto de lavar as
próprias mãos, quando na crucificação de Jesus. Pouco antes, refere são João
Evangelista, o governador romano teve o famoso diálogo com Jesus, que lhe disse
ter vindo ao mundo “para dar testemunho da verdade. Aquele que é da verdade,
escuta a minha voz”. E Pilatos tinha depois perguntado: “O que é a verdade?” (Quid
est veritas? Curiosamente,
esta frase latina em anagrama contém já em si a resposta...).
NÃO SOMENTE INRI.
PILATOS E A INSCRIÇÃO SOBRE A CRUZ
Esta interessante pesquisa
contemporânea nos dá a deixa para recordar outro fato que se refere a Pilatos e
a Jesus, relativamente pouco percebido, especialmente se considerado no seu
alcance mais amplo e revelador. Sabemos
que sobre a santa Cruz o político romano tinha mandado colocar a inscrição – o
assim chamado titulus crucis – com o motivo da condenação de
Cristo: Iesus Nazarenus [1] Rex Iudaeorum (“Jesus
nazareno, o rei dos Judeus”), cujas iniciais nos remetem à célebre sigla INRI. A
inscrição, todavia, não era somente em latim. São João Evangelista, autor do
quarto e último Evangelho, nos informa que a inscrição era em hebraico, latim e
grego. Um detalhe irrelevante? Absolutamente não. Para compreender o porquê,
façamos um passo atrás na Escritura.
Na teofania da sarça ardente,
narrada no livro do Êxodo, Deus se revela a Moisés ordenando-o de retornar
ao Egito para libertar o seu povo, Israel. Quando Moisés, perguntando em que
modo os Israelitas lhe dariam crédito, pede a Deus de manifestar-lhe o seu
Nome, escuta a resposta: “Eu sou aquele
que Sou!”. E depois: “Dirás aos Israelitas: Eu-Sou me mandou a vós” (Ex 3,14). O sagrado tetragrama corresponde
ao Nome divino, que muitos hebreus não ousam pronunciar e substituem com o
termo Adonai (Senhor), é YHWH.
Retornemos à narração do Evangelho. No pleno da sua atividade pública, enquanto
revela a sua consubstancialidade ao Pai, Jesus faz uma profecia aos Judeus que
têm dificuldade de recohecê-Lo: “Quando elevardes o Filho do homem, então conhecereis
que Eu Sou” (Jo 8,28), onde elevação
indica a sua crucificação. Mas, em que modo esta profecia se liga ao titulus
crucis?
Sempre João, no mesmo texto em
que nos informa da inscrição realizada em três línguas, diz que “muitos
judeus leram esta inscrição, porque o lugar onde Jesus foi crucificado era
próximo à cidade”. Por causa desse título, os chefes dos sacerdotes dos Judeus
protestaram com Pilatos; “Não escreva: O
rei dos Judeus, mas: Ele disse: Eu
sou o rei dos Judeus”. Certo, se pode pensar que já por si mesma a
expressão rei dos Judeus incomodasse
a quem não tinha aceitado Jesus Cristo, mas há muito mais: recordemos que – quando
Nosso Senhor foi conduzido ao sinédrio – o sumo sacerdote rasgou as vestes,
acusando-O de blasfêmia, somente depois que Jesus tinha confirmado ser o Filho
de Deus. Era esta, de fato, a verdadeira
inconcebível “culpa” de Jesus para os seus carnífices, ser homem e “fazer-se”
Deus.
Definitivamente: sabemos pela
inscrição em latim, mas como era escrita em hebraico? O escritor Henri
Tisot (1937-2011) se dirigiu a diferentes rabinos para saber qual fosse a exata
transcrição em hebraico de “Jesus nazareno, rei dos Judeus” e descobriu que as
letras correspondentes deviam ser «שוע
הנוצרי ומלך היהודים», as quais – transliteradas, vocalizadas e
tendo presente a leitura da direita para a esquerda – nos dão como resultado: Yeshua
Hanotsri Wemelek Hayehudim. As
iniciais não são outra coisa que o tetragrama sacro: YHWH. Ou seja, esse
é o Nome de Deus revelando o Ser eterno e perfeito: Eu-Sou. A profecia de Jesus se tinha cumprido.
Os Judeus que protestaram com
Pilatos viram, portanto, improvisamente diante dos próprios olhos – o modo mais
impensável – a Verdade encarnada, o
Deus feito homem, que tinham rejeitado e colocado na cruz. Eis porque se revela
em todo o seu significado a inscrição composta por Pilatos e com ela a réplica
do governador, ainda referida por São João evangelista, diante do pedido feito
pelos Judeus: “O que escrevi, escrevi” (Jo 19,22). Como uma sentença, um sigilo
que nos recorda Quem é o Menino que festejamos o Natal e veio em meio a nós
para oferecer-nos a salvação.
[1] "Nazarinus", segundo
o fragmento de tábua em Roma na basílica de Santa Cruz de Jerusalém e que
corresponderia à forma correta do latim do I século.
Fonte:
Anagrama: