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terça-feira, 26 de março de 2019

Sempre se deve escutar o que o sacerdote diz na confissão




Questão
 
Caro Padre Ângelo,

Na administração do sacramento da Confissão, como nos outros Sacramentos, o sacerdote age “in Persona Christi”. Isto significa que é preciso considerar tudo aquilo que o Sacerdote diz desde o início até o fim do sacramento como se tivesse sido dito pelo próprio Cristo? Cristo fala através do Sacerdote? E se o Sacerdote diz alguma coisa contrária ao Magistério? 

Saudações.

Marchesini



Resposta do sacerdote

Caro Marchesini, 

O sacerdote age in persona Christi, sobretudo no momento em que profere as palavras da absolvição, no mesmo modo em que age in persona Christi no momento da Oração eucarística, e em particular quando profere as palavras consacratórias.

E como na homilia durante a Missa o sacerdote pode sair da estrada (e neste caso não deve ser escutado), assim se deve fazer também a propósito do que é dito no confessionário. Se um sacerdote se afasta da doutrina do Magistério não deve ser escutado. Além do mais se deve recordar que as palavras do Sacerdote, ainda que sejam muito importantes para quem está se confessando, não fazem parte da matéria (contrição, acusação, penitência) ou da forma do sacramento (as palavras da absolvição proferidas pelo sacerdote). São inseridas no rito, como aquelas da homilia durante a Missa. Portanto, não possuem o carisma de infalibilidade. As palavras de exortação ou de iluminação que o sacerdote diz ao penitente depois que estes fazem a acusação dos pecados entram na função de médico, de pai e de mestre que o sacerdote é chamado a desenvolver. E como do ponto de vista humano existe um médico, um pai ou um mestre mais capaz que outro, assim pode acontecer também com o confessor. E por isto não é errado escolher um confessor mais que outro. Todavia, naquilo que se refere à absolvição dos pecados, aquela dada por qualquer padre, contanto que esteja apto para escutar as confissões, é do mesmo valor que a absolvição do padre mais santo e mais douto. Saúdo-te, te recordo na oração e te abençoo.

Padre Ângelo


Fonte:

terça-feira, 19 de março de 2019

Perfume de santidade: A freira que rompe a escuridão moderna com a luz de Cristo

Costanza Signorelli

Nasceu para o céu com somente 36 anos em 24 de agosto de 2009, Irmã Kinga da Transfiguração é uma potente luz na escuridão. Aos jovens de hoje a carmelita anuncia que somente em Deus se pode desfrutar plenamente e, contra todo modernismo, mostra a eles a maravilha da vida consagrada. Enquanto aos cristãos de todos os tempos, recorda que amar significa oferecer a vida em sacrifício, porque é somente no Crucifixo que se realiza a Salvação e é através da Cruz que se chega à Vida Eterna.



Não é simples falar de uma alma. Especialmente se Deus depositou nela os Seus segredos, cumprindo generosamente as Suas maravilhas. Ainda mais se esta alma pertence a uma carmelita descalça, morta em odor de santidade somente com 36 anos.

Talvez fosse necessário começar exatamente daqui: da doença que permitiu a esta jovem monja de conformar-se em tudo e por tudo ao Seu Esposo crucificado, oferecendo a sua própria vida como sacrifício agradável a Ele. Mas algo sugere que não é disto que se deve iniciar: a vida de Kinga da Transfiguração, no século Judit Buki, deve ser contemplada desde o princípio, ou seja, no coração de Deus, onde esta história de Amor foi pensada desde a eternidade.

Qualquer que seja a humanidade que a ela se aproxime, Kinga certamente a poderá confortar, revigorar e enriquecer de dons. Mas duas, em particular, são as luzes que esta muito jovem carmelitana irradia e que, candidamente, têm o poder de perfurar a escuridão do mundo de hoje.

JOVENS, VINDE AO CARMELO!

É possível ser jovens de hoje e viver em plenitude entre os muros de um mosteiro? Deus, através desta pobre jovem dos nossos dias, joga fora todo modernismo que indica a vida monástica como um absurdo fora do tempo. Ao invés, a extraordinária existência de Kinga parece exatamente um convite dirigido aos jovens como ela, para que, vazios e necessitados de tudo, não se conformem com o mundo, mas rompam verdadeiramente os esquemas seguindo o Senhor. O único que doa a felicidade que não passa, o prazer sem fim, a Vida Eterna.



No diário que escreve por ordem da Priora, durante a fase terminal da doença, Kinga narra muito pouco da sua vida antes da clausura, somente o essencial. Nascida em 1973 em Budapeste, na Hungria, Judit Buki cresce em uma família numerosa, muito pobre, mas dotada de uma fé simples e muito sólida. Transcorre uma infância e uma juventude muito normais, mas não privadas de sofrimento, sobretudo – diz ela – por causa do seu caráter “extremamente sensível e reservado”, que por anos a portou a ver a vida como “um peso contínuo”.

Tendo visto “por acaso” um filme sobre a vida de Edith Stein e participado de um retiro espiritual inesperado, guiado por um padre carmelita, a vida de Judit mudará para sempre: “Me dei conta que Deus é uma pessoa capaz de amar, que se pode entrar em relação com Ele não somente em modo abstrato, mas realmente, compreendi que tem nas suas mãos o meu destino, que me ama como sou, que o seu amor é terno e forte, capaz de dar-me felicidade e de preencher totalmente a minha vida, como a  mais ardente paixão”. Completamente raptada pelo Amor de Deus, a jovem, de repente, sente profundamente de ser chamada ao Carmelo. Mesmo não sabendo como e porque, se encontra extremamente decidida no seu propósito que, graças a Deus, encontra confirmação na realidade: “Como foram belos aqueles meses! Percebia que a intimidade com Jesus se intensificava e sentir que lhe pertencia me dava grande segurança. Era a mística do enamoramento a definir naqueles dias a minha vida espiritual (...). a minha vida tinha mudado radicalmente. Frequentemente me acordava cheia de alegria ao pensar que me foi oferecida a possibilidade de entrar em uma relação com Deus sempre mais profunda. Se antes a vida era somente um peso para mim, eis que agora encontrava nela o sentido! Parece banal, quase um lugar comum, mas tudo estava se colocando no lugar dentro de mim. O sentido da minha vida? Deus! Deus em pessoa. A sua Pessoa”.



Depois de um período de espera mais ou menos longo, visitada por algumas provações e por outras tantas graças, Judit finalmente pode atravessar o limiar do Carmelo de  Magyarszek, no sul da Hungria, para um primeiro encontro: “Me senti logo em casa, inconsciente e um pouco louca como quem se enamora pela primeira vez, mesmo se de certo não era o meu hábito; mas era dominada pela felicidade de estar lá”.  Ainda maior é a agitação da jovem de vinte anos, quando obtém a permissão de permanecer no mosteiro para um mês de provação: “Que dizer daquele  mês? – narra -  Era feliz além da medida, plena de alegria, e tinha feito certamente muitas loucuras que as irmãs não olharam com bons olhos. Elas eram boa e gentis e eu me encontrava em uma comunidade extremamente bela. Estava pronta para tudo, não tinha importância que a comunidade fosse jovem ou velha, pequena ou grande, alegre ou triste. Desfrutava cada instante, achava tudo bom e tudo me dava alegria”. Um belo dia então, chega o momento tanto desejado, Judit acompanhada pela mãe em lágrimas e pelo irmão, entra definitivamente no mosteiro: “A minha vida começa aqui. Não somente como carmelita: nasço agora com todo o meu ser. E deste momento posso finalmente falar coisas mais importantes. (...) Tu me chamaste, Senhor, eis-me aqui!”.

CRISTÃOS, OU SEJA, TODOS CONSAGRADOS A DEUS

A vida de Kinga, porém, não fala somente para os religiosos, pelo contrário: a luz que ela carrega se reflete sobre todos aqueles que desejam ir a Deus na escuridão dos nossos dias. Do próprio Carmelo, ela mostra como a vida monástica contenha um modelo excepcional para cada homem, qualquer que seja sua particular vocação. Assim: a liberdade como obediência, a oração como motor da ação, a regra de vida fundada na liturgia, o constante abandono à Vontade de Deus... são os faróis que iluminam a vida das monjas e monges, assim como aquela de todos aos cristãos que desejam amar o Senhor com todo o seu coração.

“Naquele tempo, e por diversos anos –descreve Kinga – era interessada na questão da liberdade. Aspirava à verdadeira liberdade interior e não sabia como alcançá-la. Ser livre do mal e livre para fazer o bem. Padre Lászlo me ensinou um conceito que modificou radicalmente o meu ponto de vista: o importante não é sentir-me livre, mas que Deus seja livre para poder agir em mim como quiser”. Graças a esta descoberta abre-se diante de Kinga um novo mundo, “a minha atenção – explicará ela – definitivamente se deslocou de mim e dos meus pequenos conflitos para dirigir-se a Deus”. Mas, ainda mais radical foi a sua conversão quando compreendeu que a liberdade está na completa obediência a Deus dentro das circunstâncias do viver de cada dia. São os deliciosos pêssegos de Pécs a mostrar com grande veracidade, sem saída: “Eram dois ou três dias que tinha chegado (ao Carmelo, ndr). Tinham servido pêssegos como sobremesa, mas tinha uma grande vontade de substituir a pessoa que servia, porque sempre considerei servir à mesa uma das tarefas mais bonitas. Eu como lentamente, por isso não me restava que deixar a fruta e levantar-me. Mas não é isto o importante: depois da ceia, a Irmã Élisabeth (a Priora, ndr) me chamou na pequena cozinha explicando-me como agora não me pertencia mais, como não deveria decidir de que eu tivesse ou não necessidade e como como comer a fruta fosse obrigatório, querendo ou não. Era reponsabilidade de outras verificar de que eu necessitava. Não pertencia mais a mim mesma e não podia tomar decisões autônomas. Naquele momento me foi claro de que não me pertencia mais a mim mesma e que devia totalmente submeter-me, com todas as minhas faltas, à obediência. Talvez não me exprimo bem, mas a luta interior para digerir e compartilhar aquilo que tinha escutado durou uma semana”.


Neste caminho de total obediência em direção à Liberdade, que é Deus, Kinga se agarra com força aos sacramentos, à oração e às regras que caracterizam a vida de clausura: “Duas horas por dia de oração; a recreação; o tempo de repouso e de partilha; a oração comum: o Ofício divino; o Studium”.  Consome todo o seu tempo inteiramente a serviço das irmãs e da sua comunidade, sem jamais poupar-se. Mas, sobretudo aprende o abandono total a Deus e a sua Vontade: “É importante abandonar-se em Deus, em Deus que é uma pessoa, com o qual posso caminhar junto, que posso conhecer a partir da sagrada Escritura e dos acontecimentos da minha vida, como também através do encontro pessoal com Ele. isto basta. É isto que considero ser a coisa mais importante. Sem este abandono não existiria a vida monástica. É preciso retornar incessantemente a esta estrada, porque é fácil pegar isto ou aquilo dizendo ‘preciso disso para ser feliz...’. Confiança, confiança!”.

AMAR SIGNIFICA OFERECER TODA A VIDA

Abandonar-se em Deus, na particular vida desta alma predileta, significará aceitar a dor e a doença: primeiro na forma de uma patologia do sistema imunológico com mau prognóstico e, em seguida, um câncer na mama. Significará aceitar o início da morte em idade muito jovem. Significará sacrificar tudo de si, até mesmo a própria vida.



Inicia assim um calvário dentro e fora dos hospitais, com pesados ciclos de tratamento que se tornam cada vez mais dolorosos. Um dia Kinga se encontra hospitalizada pela enésima vez: deve submeter-se a uma infusão que a manterá imóvel no leito por horas. É um momento particularmente difícil para a monja. Mas de repente – descreve Kinga – “naquela solidão e naquela escuridão sem fim Ele chegou! Me abraçou com a sua presença e a sua presença me trouxe uma grande luz. Não aconteceu nada, mas de repente Jesus estava ali! Não tinha mais hospital, agulha do medicamento, companhia de quarto, somente Jesus e eu. E finalmente soube: é a Ele que pertenço!”. É um fato que se repetirá e que mudará profundamente a relação de Kinga com a sua dor e com o seu Senhor.

A jovem carmelita chega assim a compreender profundamente que não é o seu esforço, não são os seus esforços e nem mesmo a sua vontade de ir ao Senhor, mas é somente o Amor de Deus a cumprir tudo: “Não fui eu a escolher esta oferta, mas me foi pedido e eu me esforcei para acolher este pedido. Ele me chamou ao Carmelo, Ele me escolheu, Ele me pediu de doar-Lhe minha vida. (...) Doce Senhor, não sei o que fazer, como poderia mudar o meu coração? Não posso fazer oura coisa que oferecer a minha vida pela comunidade? Não posso fazer outra coisa: aceita a minha vida por elas, pelas minhas irmãs, pela salvação delas, por aquelas que seguirão, por aquelas que em nós confiam!”.

É somente a este ponto que se pode aproximar à última Kinga. A Kinga que sobe ao Calvário com Jesus, a Kinga que, com Ele, vem levantada na Cruz e ali permanece quando chega às três horas. É assim que a oferta da sua vida a Deus, se torna Deus que se oferece a ela, fazendo-a penetrar no Seu próprio Mistério, transformando-a nEle. Transfigurando-a.

Kinga da Trasfiguração nasce para o Céu em 24 de agosto de 2009, com 36 anos. Levando impressas no coração estas palavras que tanto amava:

“Nada te perturbe,
nada te assuste,
tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem
nada lhe falta:
Só Deus basta!”

 (Teresa d'Ávila [de Jesus])


Fonte:

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quarta-feira, 13 de março de 2019

O matrimônio é como o vinho bom. Ao envelhecer, melhora a qualidade




O segredo de um matrimônio feliz? Pergunte a sua avó. Não, não disseram exatamente estas palavras, mesmo assim os quatro coautores de uma recente pesquisa publicada na revista científica Emotion não chegaram a conclusões muito diferentes. O estudo, intitulado Age-related changes in emotional behavior, foi realizado considerando uma amostra de 87 casais monitorados por um período de 13 anos; alguns desses eram compostos por cônjuges casados por pelo menos 15 anos, enquanto outros, mais idosos, eram casais unidos em matrimônio por pelo menos 35 anos.

A finalidade do trabalho – como sugere já o seu título – era aquele de verificar com mais precisão possível se e como os comportamentos emotivos mudam durante o matrimônio, com particular atenção a dinâmicas ligadas ao envelhecimento. No final desta longa pesquisa se verificou uma coisa surpreendente, que  o comportamento emotivo negativo – como o ficar irritado ou polêmico – diminuía nos casais na medida que marido e mulher envelheciam, com um paralelo aumento do comportamento emotivo positivo, orientando para manifestações de humor e de entusiasmo.

A ideia de que o matrimônio seja o túmulo do amor e que conduza à infelicidade de casais se revelou que era um fake news bonita e boa. É verdade que alguma mulher, com a idade, se mostrou um pouco menos afetuosa e mais prepotente que no passado, mas na totalidade o êxito do estudo foi que sim, o amor conjugal é exatamente como o vinho: ao envelhecer, melhora a qualidade. Porque amadurece.

Não por nada os autores deste estudo chegaram a dar razão ao que afirmava uma publicação que já há décadas, em 1985, sustentava que “as fases iniciais de uma relação são marcadas por um amor romântico e cheio de paixão, enquanto os adultos que já possuem mais tempo no matrimônio experimentam uma passagem para o amor de companheirismo”. Exatamente por isso, um amadurecimento do amor. 

Robert Levenson, professor de psicologia de Berkeley e autor principal do estudo, colocou depois em evidência outro detalhe interessante percebido com esta pesquisa. “Os nossos resultados projetam luz sobre um dos grandes paradoxos da vida adulta”, declarou Levenson, o qual depois acrescentou: “Não obstante experimentem a perda dos amigos e parentes, as pessoas anciãs em matrimônio estável são relativamente felizes e experimentam baixas taxas de depressão e ansiedade. O matrimônio se revela, em suma, benéfico para a saúde mental”.

Estas conclusões são sustentadas por outras evidências científicas.  Como aquelas de pesquisas que, baseando-se em uma amostra de 1 milhão de pessoas subdivididas em 7 diferentes Países europeus, viram como a decisão de casar-se esteja positivamente associada a um aumento da vida que vai de 10 a 15%. Não surpreenderá a este ponto saber como, em um estudo comparativo de alguns anos realizado em 17 Países  ocidentais e o Japão, os estudiosos Stack e Eshleman revelaram como os casais em matrimônio sejam em geral muito felizes, até mesmo o 3,4 a mais que aqueles que somente convivem. 

Os benefícios da vida conjugal são tantos e tais que, em dezembro de 2016, até mesmo o insuspeitável jornal Repubblica não pôde fazer outra coisa a não ser admitir os resultados de uma pesquisa publicada no Journal of the American Heart Association a propósito da relação positiva que existe entre matrimônio e saúde.

Todavia, para que os benefícios da vida de casal sejam percebidos – inclusive aqueles do melhoramento do comportamento emotivo revelado pelo Emoticon – é obviamente necessária uma coisa, que os matrimônios durem. Exatamente como aqueles dos nossos avós.