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terça-feira, 19 de março de 2019

Perfume de santidade: A freira que rompe a escuridão moderna com a luz de Cristo

Costanza Signorelli

Nasceu para o céu com somente 36 anos em 24 de agosto de 2009, Irmã Kinga da Transfiguração é uma potente luz na escuridão. Aos jovens de hoje a carmelita anuncia que somente em Deus se pode desfrutar plenamente e, contra todo modernismo, mostra a eles a maravilha da vida consagrada. Enquanto aos cristãos de todos os tempos, recorda que amar significa oferecer a vida em sacrifício, porque é somente no Crucifixo que se realiza a Salvação e é através da Cruz que se chega à Vida Eterna.



Não é simples falar de uma alma. Especialmente se Deus depositou nela os Seus segredos, cumprindo generosamente as Suas maravilhas. Ainda mais se esta alma pertence a uma carmelita descalça, morta em odor de santidade somente com 36 anos.

Talvez fosse necessário começar exatamente daqui: da doença que permitiu a esta jovem monja de conformar-se em tudo e por tudo ao Seu Esposo crucificado, oferecendo a sua própria vida como sacrifício agradável a Ele. Mas algo sugere que não é disto que se deve iniciar: a vida de Kinga da Transfiguração, no século Judit Buki, deve ser contemplada desde o princípio, ou seja, no coração de Deus, onde esta história de Amor foi pensada desde a eternidade.

Qualquer que seja a humanidade que a ela se aproxime, Kinga certamente a poderá confortar, revigorar e enriquecer de dons. Mas duas, em particular, são as luzes que esta muito jovem carmelitana irradia e que, candidamente, têm o poder de perfurar a escuridão do mundo de hoje.

JOVENS, VINDE AO CARMELO!

É possível ser jovens de hoje e viver em plenitude entre os muros de um mosteiro? Deus, através desta pobre jovem dos nossos dias, joga fora todo modernismo que indica a vida monástica como um absurdo fora do tempo. Ao invés, a extraordinária existência de Kinga parece exatamente um convite dirigido aos jovens como ela, para que, vazios e necessitados de tudo, não se conformem com o mundo, mas rompam verdadeiramente os esquemas seguindo o Senhor. O único que doa a felicidade que não passa, o prazer sem fim, a Vida Eterna.



No diário que escreve por ordem da Priora, durante a fase terminal da doença, Kinga narra muito pouco da sua vida antes da clausura, somente o essencial. Nascida em 1973 em Budapeste, na Hungria, Judit Buki cresce em uma família numerosa, muito pobre, mas dotada de uma fé simples e muito sólida. Transcorre uma infância e uma juventude muito normais, mas não privadas de sofrimento, sobretudo – diz ela – por causa do seu caráter “extremamente sensível e reservado”, que por anos a portou a ver a vida como “um peso contínuo”.

Tendo visto “por acaso” um filme sobre a vida de Edith Stein e participado de um retiro espiritual inesperado, guiado por um padre carmelita, a vida de Judit mudará para sempre: “Me dei conta que Deus é uma pessoa capaz de amar, que se pode entrar em relação com Ele não somente em modo abstrato, mas realmente, compreendi que tem nas suas mãos o meu destino, que me ama como sou, que o seu amor é terno e forte, capaz de dar-me felicidade e de preencher totalmente a minha vida, como a  mais ardente paixão”. Completamente raptada pelo Amor de Deus, a jovem, de repente, sente profundamente de ser chamada ao Carmelo. Mesmo não sabendo como e porque, se encontra extremamente decidida no seu propósito que, graças a Deus, encontra confirmação na realidade: “Como foram belos aqueles meses! Percebia que a intimidade com Jesus se intensificava e sentir que lhe pertencia me dava grande segurança. Era a mística do enamoramento a definir naqueles dias a minha vida espiritual (...). a minha vida tinha mudado radicalmente. Frequentemente me acordava cheia de alegria ao pensar que me foi oferecida a possibilidade de entrar em uma relação com Deus sempre mais profunda. Se antes a vida era somente um peso para mim, eis que agora encontrava nela o sentido! Parece banal, quase um lugar comum, mas tudo estava se colocando no lugar dentro de mim. O sentido da minha vida? Deus! Deus em pessoa. A sua Pessoa”.



Depois de um período de espera mais ou menos longo, visitada por algumas provações e por outras tantas graças, Judit finalmente pode atravessar o limiar do Carmelo de  Magyarszek, no sul da Hungria, para um primeiro encontro: “Me senti logo em casa, inconsciente e um pouco louca como quem se enamora pela primeira vez, mesmo se de certo não era o meu hábito; mas era dominada pela felicidade de estar lá”.  Ainda maior é a agitação da jovem de vinte anos, quando obtém a permissão de permanecer no mosteiro para um mês de provação: “Que dizer daquele  mês? – narra -  Era feliz além da medida, plena de alegria, e tinha feito certamente muitas loucuras que as irmãs não olharam com bons olhos. Elas eram boa e gentis e eu me encontrava em uma comunidade extremamente bela. Estava pronta para tudo, não tinha importância que a comunidade fosse jovem ou velha, pequena ou grande, alegre ou triste. Desfrutava cada instante, achava tudo bom e tudo me dava alegria”. Um belo dia então, chega o momento tanto desejado, Judit acompanhada pela mãe em lágrimas e pelo irmão, entra definitivamente no mosteiro: “A minha vida começa aqui. Não somente como carmelita: nasço agora com todo o meu ser. E deste momento posso finalmente falar coisas mais importantes. (...) Tu me chamaste, Senhor, eis-me aqui!”.

CRISTÃOS, OU SEJA, TODOS CONSAGRADOS A DEUS

A vida de Kinga, porém, não fala somente para os religiosos, pelo contrário: a luz que ela carrega se reflete sobre todos aqueles que desejam ir a Deus na escuridão dos nossos dias. Do próprio Carmelo, ela mostra como a vida monástica contenha um modelo excepcional para cada homem, qualquer que seja sua particular vocação. Assim: a liberdade como obediência, a oração como motor da ação, a regra de vida fundada na liturgia, o constante abandono à Vontade de Deus... são os faróis que iluminam a vida das monjas e monges, assim como aquela de todos aos cristãos que desejam amar o Senhor com todo o seu coração.

“Naquele tempo, e por diversos anos –descreve Kinga – era interessada na questão da liberdade. Aspirava à verdadeira liberdade interior e não sabia como alcançá-la. Ser livre do mal e livre para fazer o bem. Padre Lászlo me ensinou um conceito que modificou radicalmente o meu ponto de vista: o importante não é sentir-me livre, mas que Deus seja livre para poder agir em mim como quiser”. Graças a esta descoberta abre-se diante de Kinga um novo mundo, “a minha atenção – explicará ela – definitivamente se deslocou de mim e dos meus pequenos conflitos para dirigir-se a Deus”. Mas, ainda mais radical foi a sua conversão quando compreendeu que a liberdade está na completa obediência a Deus dentro das circunstâncias do viver de cada dia. São os deliciosos pêssegos de Pécs a mostrar com grande veracidade, sem saída: “Eram dois ou três dias que tinha chegado (ao Carmelo, ndr). Tinham servido pêssegos como sobremesa, mas tinha uma grande vontade de substituir a pessoa que servia, porque sempre considerei servir à mesa uma das tarefas mais bonitas. Eu como lentamente, por isso não me restava que deixar a fruta e levantar-me. Mas não é isto o importante: depois da ceia, a Irmã Élisabeth (a Priora, ndr) me chamou na pequena cozinha explicando-me como agora não me pertencia mais, como não deveria decidir de que eu tivesse ou não necessidade e como como comer a fruta fosse obrigatório, querendo ou não. Era reponsabilidade de outras verificar de que eu necessitava. Não pertencia mais a mim mesma e não podia tomar decisões autônomas. Naquele momento me foi claro de que não me pertencia mais a mim mesma e que devia totalmente submeter-me, com todas as minhas faltas, à obediência. Talvez não me exprimo bem, mas a luta interior para digerir e compartilhar aquilo que tinha escutado durou uma semana”.


Neste caminho de total obediência em direção à Liberdade, que é Deus, Kinga se agarra com força aos sacramentos, à oração e às regras que caracterizam a vida de clausura: “Duas horas por dia de oração; a recreação; o tempo de repouso e de partilha; a oração comum: o Ofício divino; o Studium”.  Consome todo o seu tempo inteiramente a serviço das irmãs e da sua comunidade, sem jamais poupar-se. Mas, sobretudo aprende o abandono total a Deus e a sua Vontade: “É importante abandonar-se em Deus, em Deus que é uma pessoa, com o qual posso caminhar junto, que posso conhecer a partir da sagrada Escritura e dos acontecimentos da minha vida, como também através do encontro pessoal com Ele. isto basta. É isto que considero ser a coisa mais importante. Sem este abandono não existiria a vida monástica. É preciso retornar incessantemente a esta estrada, porque é fácil pegar isto ou aquilo dizendo ‘preciso disso para ser feliz...’. Confiança, confiança!”.

AMAR SIGNIFICA OFERECER TODA A VIDA

Abandonar-se em Deus, na particular vida desta alma predileta, significará aceitar a dor e a doença: primeiro na forma de uma patologia do sistema imunológico com mau prognóstico e, em seguida, um câncer na mama. Significará aceitar o início da morte em idade muito jovem. Significará sacrificar tudo de si, até mesmo a própria vida.



Inicia assim um calvário dentro e fora dos hospitais, com pesados ciclos de tratamento que se tornam cada vez mais dolorosos. Um dia Kinga se encontra hospitalizada pela enésima vez: deve submeter-se a uma infusão que a manterá imóvel no leito por horas. É um momento particularmente difícil para a monja. Mas de repente – descreve Kinga – “naquela solidão e naquela escuridão sem fim Ele chegou! Me abraçou com a sua presença e a sua presença me trouxe uma grande luz. Não aconteceu nada, mas de repente Jesus estava ali! Não tinha mais hospital, agulha do medicamento, companhia de quarto, somente Jesus e eu. E finalmente soube: é a Ele que pertenço!”. É um fato que se repetirá e que mudará profundamente a relação de Kinga com a sua dor e com o seu Senhor.

A jovem carmelita chega assim a compreender profundamente que não é o seu esforço, não são os seus esforços e nem mesmo a sua vontade de ir ao Senhor, mas é somente o Amor de Deus a cumprir tudo: “Não fui eu a escolher esta oferta, mas me foi pedido e eu me esforcei para acolher este pedido. Ele me chamou ao Carmelo, Ele me escolheu, Ele me pediu de doar-Lhe minha vida. (...) Doce Senhor, não sei o que fazer, como poderia mudar o meu coração? Não posso fazer oura coisa que oferecer a minha vida pela comunidade? Não posso fazer outra coisa: aceita a minha vida por elas, pelas minhas irmãs, pela salvação delas, por aquelas que seguirão, por aquelas que em nós confiam!”.

É somente a este ponto que se pode aproximar à última Kinga. A Kinga que sobe ao Calvário com Jesus, a Kinga que, com Ele, vem levantada na Cruz e ali permanece quando chega às três horas. É assim que a oferta da sua vida a Deus, se torna Deus que se oferece a ela, fazendo-a penetrar no Seu próprio Mistério, transformando-a nEle. Transfigurando-a.

Kinga da Trasfiguração nasce para o Céu em 24 de agosto de 2009, com 36 anos. Levando impressas no coração estas palavras que tanto amava:

“Nada te perturbe,
nada te assuste,
tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem
nada lhe falta:
Só Deus basta!”

 (Teresa d'Ávila [de Jesus])


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