Pensando bem, mamãe é a única
palavra que não precisamos ensinar aos recém-nascidos. Verdadeiramente, não é
preciso. Por um motivo muito simples: já a conhecem. Ou melhor, chegam a
aprendê-la praticamente sozinhos, sem necessidade de nenhuma aula ou de particulares
insistências externas. De fato, “mamãe” – como percebeu já a psicanalista russa
Sabina Spielrein (1885-1942) – é um termo que aparece com impressionante
semelhança em praticamente todas as línguas: do russo mama ao francês maman, do
alemão mama ao ucraniano maty (mas também mámo) ao grego mama [1]. Uma semelhança verificável também para o
termo “papai” e que se explica somente com o fato de que, com os seus primeiros
sons e vocalizações, o recém-nascido se familiariza antes de tudo com as
consoantes p (ou b) e m.
O belo é que, assim como os
pequenos já conhecem a palavra mamãe, as mulheres já possuem, no seu coração, o
instinto materno; e o têm – me desculpe pelo feminismo 2.0 e os seus adeptos –
por natureza e não por cultura. É possível verificar em modo inequívoco graças
ao fato de que em todas as culturas estudadas as bonecas são, mormente
preferidas pelas meninas as quais, em relação aos meninos, são mais propensas
também a brincar de ser pais [2]. Uma
diferença observada também em crianças de somente quatro anos [3] e de idade
também inferior [4], muito cedo para imaginar que seja por causa de influências
externas. Também entre os primatas, como se não bastasse, as fêmeas demonstram
ter, desde pequenas, maior propensão à sociabilidade [5], mostrando maior
interesse para com os bebês e os filhotes [6].
Ainda assim “mamãe” está se
tornando uma palavra perigosa, que tem odor de sexismo segundo certo feminismo
que vê a mulher realizada somente como trabalhadora e que instiga às discriminações
segundo o politicamente correto, que
como vemos prega a existência das “novas famílias” no estilo Elton John. À
alergia ao termo “mamãe” corresponde infelizmente, em consequência às
possibilidades oferecidas pela técnica, também uma dramática divisão de suas faculdades. Acontece
assim que, em lugar da única e insubstituível mamãe, um filho hoje possa ter
até três delas: a mãe genética (da qual herda os genes), a mãe biológica (no
qual ventre cresce) e a mãe psicológica (aquela que o educa). Horror provocado
pelo útero de aluguel e a mentira, negado em cada filho quando toma consciência
que sim, a mãe é uma só. E é fundamental
que exista.
De fato, junto ao pai, a mãe é a
maior garantia para o crescimento dos filhos e pelo amor do qual têm
necessidade. Assim como os filhos constituem – mesmo se isto contradiz o
hedonismo de massa pregado pelo Pensamento Único – um enriquecimento não
somente afetivo, mas também existencial do casal. E, obviamente, da mãe, como
atestado por estudos científicos que revelaram como o nascimento de um filho
comporte, também em termos de longevidade, benefícios significativos para as
mulheres [7], inclusive para aquelas que possuem muitos filhos [8]. Realiza-se
neste modo o milagre pelo qual se de um lado é antes de tudo a mãe a doar a
vida ao filho que traz ao mundo, do outro lado também o filho, nascendo,
acrescenta vida à mãe, quase como que recompensando pela sua generosidade e
pelo seu amor.
Diante de uma realidade tão
comovente, é difícil hoje, Dia das Mães, que cada um não experimente um sentido
de gratidão para com sua própria mãe e que cada mãe não perceba a alegria em
recordar aquele dia em que, pela primeira vez, abriu os braços e a própria vida
para um filho. No inesquecível filme Forrest Gump (1994) o
protagonista, interpretado por um inspirado Tom Hanks, expunha: “Mamãe dizia sempre: a vida é como uma caixa
de chocolates, não sabemos nunca o que cabe a nós”. Eis, também mamãe, na
realidade, é como a vida: não sabemos nunca o que está reservado para nós. Não
o podias saber, nem sequer imaginar. E nem mesmo ela poderia saber como seu
filho seria. Ainda assim o acolheu. E cada filho, sem saber o nome dela, logo a
reconheceu chamando-a como é: mamãe.
Notas: [1] Cfr. Spielrein
S. L’origine delle parole infantili “papà” e “mamma”. Alcune
considerazioni sui vari stadi dello sviluppo del linguaggio, Relazione al
VI Congresso internazionale di psicanalisi (L’Aia, 1920) 1-26: 6, in
«lacan-con-freud.it»; [2] Cfr. Tooley J. The Miseducation of Women,
Continuum Publishing Group, London 2002, p. 77; Geary D.C. Male, Female: The
Evolution of Human Sex Differences, «American Psychological Association»,
Washington 1998, pp. 234-235; [3] Cfr. Parke Ross D. – Brott Armin A. Throwaway
Dads: The Myths and Barriers That Keep Men from Being the Fathers They Want to
Be, Houghton Mifflin Co. Boston 1999, pp. 109-100; [4] Cfr. Guzzo G. Cavalieri
e principesse, Cantagalli, Siena 2017, pp. 39-55; [5] Cfr. Simpson E.A. –
Nicolini Y. -Shetler M. – Suomi S.J. – Ferrari P.F. – Paukner A. (2016) Experience-independent
sex differences in newborn macaques: Females are more social than males,
«Scientific Reports», 6, 19669; [6] Lovejoy J. – Wallen K. (1988) Sexually
dimorphic behavior in group-housed rhesus monkeys (Macaca mulatta) at 1 year of
age. «Psychobiology»; Vol.16(4):348–356.; [7] Cfr.Holt-Lunstad J. –
Birmingham W. – Howard A.M.- Thoman D. (2009) Married With Children:
The Influence of Parental Status and Gender on Ambulatory Blood Pressure.«Annals
of Behavioral Medicine»; Vol.38(3):170-179; [8] Cfr. Jacobs M.B. –
Kritz-Silverstein D. – Wingard D.L. – Barrett-Connor E.(2012)The association
of reproductive history with all-cause and cardiovascular mortality in older
women: the Rancho Bernardo Study. «Fertility and Sterility»;
Vol.97(1):118-124.
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