de Costanza Miriano
Sei que o dia de São Francisco de
Sales foi ontem (ndt.: a memória
litúrgica de São Francisco de Sales ocorre no dia 24 de janeiro, a autora
publicou este texto no dia 25), e portanto deveria ter escrito este texto
no dia anterior, de maneira que o publicasse no dia justo, mas ao invés me
encontrei terminando o trabalho de leitura às 23:52, e portanto nada, aqui
estou. Que era santo eu o sabia, porque é o patrono dos jornalistas, e então me
recordo todo ano que está parta vencer a taxa anual de inscrição na Ordem (cada
um possui seus próprios lembretes).
Em suma, me dou conta que é já
amanhã, eu ainda estou lendo o texto retirado da introdução à vida devota. Recordo-me
assim que a Filoteia se
destaca há anos naquela seção da minha livraria, que atualmente consta de três
estantes, dedicada aos livros que absolutamente devo ler, que comprei e
coloquei de lado para quando parar com este ilógico hábito de ir também dormir
de vez em quando.
Porém, quando um livro te é aconselhado, tipo,
por oito sacerdotes, provavelmente o céu está fazendo chegar uma mensagem até
você, nem mesmo com muita criptografia: DE-VE LÊ-LO, ignorante! (fui eu que
acrescentei o “ignorante”, mas acho que Deus concordará).
E assim, nesta tarde me coloquei
a ler. O que dizer, exatamente uma jornalista poderia fazer a resenha de um
livro sem tê-lo terminado, porém, eis que eu estava ansiosa para não deixar
passar a sua festa sem lhes dar essa lição de casa que eu designei para mim. O
monge wi-fi não deveria deixar de fazer a leitura deste clássico, que foi o
primeiro a tomar seriamente o desejo de Deus que os leigos possuem e a propor
às pessoas que vivem no mundo um plano inteligente e organizado “para conduzir
a alma do primeiro desejo da vida devota até a firme resolução de abraçá-la”.
É impossível não amar este bispo
nobre nascido no século XVI na região de Savoia de uma família rica e muito bem
inserida, em suma o máximo do chic, que renuncia a tudo, e que tem a coragem de
dizer “escrevo sobre vida devota sem ser devoto, mas não me falta o desejo de
ser” (sabemos que os santos quanto mais são santos, mais vêem os próprios
limites, porque são iluminados plenamente pela luz de Deus).
O tratado está dividido em cinco
partes: na primeira fala sobre como organizar seriamente os nossos bons
propósitos, na segunda sobre os meios para nos aproximar de Deus (sacramentos e
oração), na terceira das virtudes e dos conselhos para reforçá-las, na quarta
dos enganos do inimigo, enquanto na quinta “guia a alma um pouco ao lado para
refrescar-se”, antes de retomar o caminho mais rapidamente.
O texto que todos os anos a
Igreja nos repropõe no Ofício das leituras é aquele em que nos recorda que uma
mãe de família não pode não colocar de lado nada como os capuchinhos, nem um
artesão passar todo o dia na igreja como um religioso (em suma, o famoso
fenômeno das paroquianas, as mulheres que estão mais nas paróquias que em
casa).
Realmente é uma mina de intuições
e esclarecimentos lúcidos e inteligentes, como eu estou espiando aqui e ali
entre as páginas. Voltei a ler, mesmo se hoje seja já a memória da Conversão de
são Paulo, e do setor de trás da livraria também olha De Wohl, com La
gloriosa follia, mas pelo momento coloquemos ordem e procedamos com o
manual do monge wi-fi (marido, lembre-se de me enterrar com uma tocha e o
caixão forrado de livros).
Sugerimos Ler: (Fonte: https://www.liturgiadashoras.online/tempocomum/2quinta)
Da Introdução à Vida Devota, de
São Francisco de Sales, bispo
(Pars 1, cap.
3)
(Séc.XVII)
A devoção deve ser praticada
de modos diferentes
Na criação, Deus Criador
mandou às plantas que cada uma produzisse fruto conforme sua espécie. Do mesmo
modo, ele ordenou aos cristãos, plantas vivas de sua Igreja, que produzissem
frutos de devoção, cada qual de acordo com sua categoria, estado e vocação.
A devoção deve ser praticada de
modos diferentes pelo nobre e pelo operário, pelo servo e pelo príncipe, pela
viúva, pela solteira ou pela casada. E isto ainda não basta. A prática da
devoção deve adaptar-se às forças, aos trabalhos e aos deveres particulares de
cada um.
Dize-me, por favor, Filotéia, se
seria conveniente que os bispos quisessem viver na solidão como os cartuxos;
que os casados não se preocupassem em aumentar seus ganhos mais que os
capuchinhos; que o operário passasse o dia todo na igreja como o religioso; e
que o religioso estivesse sempre disponível para todo tipo de encontros a
serviço do próximo, como o bispo. Não seria ridícula, confusa e intolerável
esta devoção?
Contudo, este erro absurdo
acontece muitíssimas vezes. E no entanto, Filotéia, a devoção quando é
verdadeira não prejudica a ninguém; pelo contrário, tudo aperfeiçoa e consuma.
E quando se torna contrária à legítima ocupação de alguém, é falsa, sem dúvida
alguma.
A abelha extrai seu mel das
flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como
encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente
não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece
e embeleza.
Toda a variedade de pedras
preciosas lançadas no mel, tornam-se mais brilhantes, cada qual conforme sua
cor; assim também cada um se torna mais agradável e perfeito em sua vocação
quando esta for conjugada com a devoção: o cuidado da família se torna
tranquilo, o amor mútuo entre marido e mulher, mais sincero, o serviço que se
presta ao príncipe, mais fiel, e mais suave e agradável o desempenho de todas
as ocupações.
É um erro, senão até mesmo uma
heresia, querer excluir a vida devota dos quartéis de soldados, das oficinas
dos operários, dos palácios dos príncipes, do lar das pessoas casadas.
Confesso, porém, caríssima Filotéia, que a devoção puramente contemplativa,
monástica e religiosa de modo algum pode ser praticada em tais ocupações ou
condições. Mas, para além destas três espécies de devoção, existem muitas
outras, próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem no estado secular.
Portanto, onde quer que
estejamos, devemos e podemos aspirar à vida perfeita.
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