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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Hong Kong: a nostalgia de uma liberdade perdida


Stefano Magni

No dia 1 de julho, há 22 anos, o Reino Unido restituía Hong Kong à China, com a promessa de que a ex-colônia mantivesse as suas liberdades e a sua autonomia. Aquele princípio está em crise e centenas de milhares de cidadãos participaram da Marcha do 1 de julho. Uma minoria ocupou o parlamento onde, por pouco tempo, retornou a bandeira britânica.



No dia 1 de julho, há 22 anos, o Reino Unido restituía Hong Kong à China, com a promessa de que a ex-colônia mantivesse as suas liberdades e a sua autonomia sob um modelo “um país, dois sistemas”. Se os habitantes da cidade-estado desfrutam ainda de todos os direitos de liberdade, inclusive de liberdade religiosa e de expressão, o devem ao legado do direito britânico. Todos os anos, no dia 1 de julho, os cidadãos de Hong Kong participam de uma marcha pacífica em defesa da sua liberdade. Este ano centenas de milhares de pessoas participaram da marcha. Protestam contra a nova lei de extradição, atualmente suspensa, que corre o risco de comprometer o modelo “um país, dois sistemas”, permitindo à China Popular de processar cidadãos de Hong Kong. Uma minoria de manifestantes forçou a entrada na sede do Conselho Legislativo, o parlamento, pendurando no seu interior, simbolicamente, a velha bandeira colonial britânica.

A Marcha do dia Primeiro de Julho começou às 15 horas (hora de Hong Kong ...), organizada pela Frente Civil pelos Direitos Humanos. Como todos os anos, se tratou de uma manifestação pacífica. A afluência de pessoas foi particularmente alta este ano, se contava centenas de milhares de pessoas na praça. O tema da Marcha não podia que ser a lei sobre a extradição. O chefe do executivo, Carrie Lam, depois das manifestações oceânicas de junho, suspendeu a norma que permitiria a extradição de cidadãos de Hong Kong também na China. Suspensão, todavia, não significa necessariamente “revogação”. Os manifestantes pedem a revogação daquela reforma, para retirar toda dúvida. Carrie Lam é, porém, firme na sua posição: a lei será retardada, mas não cancelada.

Não obstante o caráter pacífico da Marcha, uma minoria de ativistas, equipada com capacetes de plástico, máscaras de gás e guarda-chuvas (símbolo do protesto de 2014, desta vez usados para esconder-se aos olhos das tele câmeras de vigilância) decidiu passar à ação. Usando um carrinho como arma, o grupo primeiro quebrou um dos portões de vidro do Conselho Legislativo (LegCo), depois forçou a entrada, ocupando a sala do legislativo. Os manifestantes apagaram com tinta o símbolo de Hong Kong e penduraram a velha bandeira colonial britânica. No mesmo edifício ocupado danificaram moveis e escreveram com spray slogans de protesto. No final, se prepararam para resistir até o fim e passar a noite no parlamento. 

Foram horas de espera e terror, porque o Exército Popular de Libertação (o exército regular da China Popular) possui tropas estacionadas em Hong Kong e a ocupação das sedes institucionais poderia provocar, em teoria, também uma intervenção armada. Um parlamentar pró-democrático, presente no momento da ocupação, temia já o bis de Tienanmen: “Diziam de poder bater a polícia graças a sua mera superioridade numérica. Esta afirmação me soou logo muito alarmante – disse à BBC – eu era jornalista em Tienanmen, há 30 anos, e era exatamente aquilo que os estudantes diziam, então, na capital chinesa”. Não interviu o exército chinês, no final, mas a polícia de Hong Kong. A meia-noite (...) com dureza, mas sem derramamento de sangue, desocupou a sede do parlamento.

Os manifestantes pacíficos e os organizadores da Marcha não se contentaram da ocupação e mudaram o percurso. Devia concluir-se exatamente diante do Conselho Legislativo, mas foi desviado em direção ao centro da ilha. Testemunhas dizem que os participantes da Marcha procuraram parar os jovens que estavam fazendo irrupção na sede do Legislativo, mas foram rejeitados com empurrões.
 Com um teor bem diferente foi a manifestação dos cristãos, reunidos no Victoria Park para rezar e cantar. O encontro, do qual participaram cerca de 800 fiéis, aconteceu sob o “pavilhão de música”. Era organizado pela Comissão Justiça e paz da diocese de Hong Kong e pela comunidade protestante sobre o tema “Trevas e luz para ti são iguais” (Sl 139, 12b). Depois de alguns cantos. Deu-se a intervenção do Padre Jacob Kwok, da diocese de Hong Kong e do pastor Young Man Chan.

Terminada a jornada, desocupado o parlamento, resta uma estranha sensação ao ver as fotos daquela bandeira colonial pendurada na sala do parlamento, como ato de protesto. Um banner nostálgico da era britânica, incompreensível para quem cresceu em uma cultura anti-colonialista, mas que agora se tornou um símbolo de liberdade perdida, para quem está (lentamente, mas inexoravelmente) acabando nas mandíbulas do totalitarismo chinês.



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