Stefano Magni
No dia 1 de julho, há 22 anos,
o Reino Unido restituía Hong Kong à China, com a promessa de que a ex-colônia
mantivesse as suas liberdades e a sua autonomia. Aquele princípio está em crise
e centenas de milhares de cidadãos participaram da Marcha do 1 de julho. Uma
minoria ocupou o parlamento onde, por pouco tempo, retornou a bandeira
britânica.
No dia 1 de julho, há 22 anos, o
Reino Unido restituía Hong Kong à China, com a promessa de que a ex-colônia
mantivesse as suas liberdades e a sua autonomia sob um modelo “um país, dois
sistemas”. Se os habitantes da cidade-estado desfrutam ainda de todos os
direitos de liberdade, inclusive de liberdade religiosa e de expressão, o devem
ao legado do direito britânico. Todos os anos, no dia 1 de julho, os cidadãos
de Hong Kong participam de uma marcha pacífica em defesa da sua liberdade. Este
ano centenas de milhares de pessoas participaram da marcha. Protestam contra a
nova lei de extradição, atualmente suspensa, que corre o risco de comprometer o
modelo “um país, dois sistemas”, permitindo à China Popular de processar
cidadãos de Hong Kong. Uma minoria de manifestantes forçou a entrada na sede do
Conselho Legislativo, o parlamento, pendurando no seu interior, simbolicamente,
a velha bandeira colonial britânica.
A Marcha do dia Primeiro de
Julho começou às 15 horas (hora de Hong Kong ...), organizada pela
Frente Civil pelos Direitos Humanos. Como todos os anos, se tratou de uma
manifestação pacífica. A afluência de pessoas foi particularmente alta este
ano, se contava centenas de milhares de pessoas na praça. O tema da Marcha não
podia que ser a lei sobre a extradição. O chefe do executivo, Carrie Lam,
depois das manifestações oceânicas de junho, suspendeu a norma que permitiria a
extradição de cidadãos de Hong Kong também na China. Suspensão, todavia, não
significa necessariamente “revogação”. Os manifestantes pedem a revogação
daquela reforma, para retirar toda dúvida. Carrie Lam é, porém, firme na sua
posição: a lei será retardada, mas não cancelada.
Não obstante o caráter
pacífico da Marcha, uma minoria de ativistas, equipada com capacetes de
plástico, máscaras de gás e guarda-chuvas (símbolo do protesto de 2014, desta
vez usados para esconder-se aos olhos das tele câmeras de vigilância) decidiu passar
à ação. Usando um carrinho como arma, o grupo primeiro quebrou um dos portões
de vidro do Conselho Legislativo (LegCo), depois forçou a entrada, ocupando a
sala do legislativo. Os manifestantes apagaram com tinta o símbolo de Hong Kong
e penduraram a velha bandeira colonial britânica. No mesmo edifício ocupado
danificaram moveis e escreveram com spray slogans de protesto. No final, se
prepararam para resistir até o fim e passar a noite no parlamento.
Foram horas de espera e
terror, porque o Exército Popular de Libertação (o exército regular da
China Popular) possui tropas estacionadas em Hong Kong e a ocupação das sedes
institucionais poderia provocar, em teoria, também uma intervenção armada. Um
parlamentar pró-democrático, presente no momento da ocupação, temia já o bis de
Tienanmen: “Diziam de poder bater a polícia graças a sua mera superioridade
numérica. Esta afirmação me soou logo muito alarmante – disse à BBC – eu era
jornalista em Tienanmen, há 30 anos, e era exatamente aquilo que os estudantes
diziam, então, na capital chinesa”. Não interviu o exército chinês, no final,
mas a polícia de Hong Kong. A meia-noite (...) com dureza, mas sem derramamento
de sangue, desocupou a sede do parlamento.
Os manifestantes pacíficos e
os organizadores da Marcha não se contentaram da ocupação e mudaram o
percurso. Devia concluir-se exatamente diante do Conselho Legislativo, mas foi
desviado em direção ao centro da ilha. Testemunhas dizem que os participantes da
Marcha procuraram parar os jovens que estavam fazendo irrupção na sede do
Legislativo, mas foram rejeitados com empurrões.
Com um teor bem diferente foi a
manifestação dos cristãos, reunidos no Victoria Park para rezar e cantar. O
encontro, do qual participaram cerca de 800 fiéis, aconteceu sob o “pavilhão de
música”. Era organizado pela Comissão Justiça e paz da diocese de Hong Kong e
pela comunidade protestante sobre o tema “Trevas e luz para ti são iguais” (Sl
139, 12b). Depois de alguns cantos. Deu-se a intervenção do Padre Jacob Kwok,
da diocese de Hong Kong e do pastor Young Man Chan.
Terminada a jornada,
desocupado o parlamento, resta uma estranha sensação ao ver as fotos
daquela bandeira colonial pendurada na sala do parlamento, como ato de
protesto. Um banner nostálgico da era britânica, incompreensível para quem
cresceu em uma cultura anti-colonialista, mas que agora se tornou um símbolo de
liberdade perdida, para quem está (lentamente, mas inexoravelmente) acabando
nas mandíbulas do totalitarismo chinês.
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